Um panetone diferente de tudo o que costuma aparecer na mesa de Natal. Em vez da tradicional farinha de trigo, a base é a mandioca cultivada no cerrado do Entorno do Distrito Federal. É assim o mandiocotone, produto inusitado desenvolvido pela produtora rural Marcilene Mariano, especialista em produtos à base da mandioca, que mistura gastronomia, inovação e produção agrícola local.

O conhecimento veio através dos seus cursos de culinária e confeitaria que Marcilene participou. E como sua fazenda produz 300 toneladas da raiz por ano, a criatividade para desenvolver produtos derivados da mandioca é grande. E na época natalina não poderia faltar um produto para compor a ceia.

Com uma receita que reúne diversas técnicas, desde o tipo de mandioca, preparo e temperatura para compor o produto, ela se torna protagonista, com o sabor típico do panetone e a maciez e textura diferenciada. Para o recheio, a escolha foi um brigadeiro cremoso com chocolate 50% cacau, pensado para agradar tanto crianças quanto adultos. “Depois de abrir cuidadosamente o topo do panetone, o recheio é colocado e a “tampinha” retorna ao lugar original, mantendo o formato do produto. A finalização leva uma ganache firme de chocolate, também 50% cacau, espalhada delicadamente. Por cima, confeitos de chocolate nobre e bolinhas crocantes completam a decoração”, detalha a produtora rural.

Mais do que bonito, o mandiocotone promete sabor e carrega sua tradição. O chocotone pesa cerca de 800 gramas e rende, em média, seis porções.

Além do mandiocotone, chips, palha italiana, mandiococada e sorvete de mandioca compõem o cardápio da produtora rural. Foto: Cintia Ferreira

A mandioca

A matéria-prima vem direto do sítio, onde hoje são cultivadas três variedades de mandioca. Entre elas está a IAC 57670, desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas, e a BRS 429, uma das mais recentes variedades lançadas pela Embrapa. “Também fazem parte da produção as BRS 400 e 401, ricas em beta-caroteno, de coloração rosada e consideradas ideais para panificação e produtos gastronômicos”, detalha Marcilene.

Além dessas, outras variedades passam por um processo de validação técnica em parceria com a Embrapa Cerrados. Técnicos visitam a propriedade e, a partir das avaliações, decidem se as cultivares serão oficialmente validadas para uso comercial.

O crescimento da lavoura chama atenção. A primeira plantação teve 10 mil pés de mandioca. Neste ano, a produção foi sextuplicada, chegando a quase 60 mil pés, o equivalente a 300 toneladas da raiz. Do total colhido, 70% é vendido in natura, com ou sem casca, embalado a vácuo. Os outros 30% viram produtos processados, como chips, palha italiana, mandiococada, sorvete de mandioca — e agora, o mandiocotone, que transforma um ingrediente tradicional em novidade na mesa.

Premiação

A empreendedora Marcilene Mariano, à frente do negócio Pé di Gostosura, conquistou o 1º lugar na categoria Produtora Rural do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios e foi a única representante do Entorno do Distrito Federal a ser premiada. O reconhecimento veio com a aposta na gourmetização da mandioca, transformando a raiz em produtos como palha italiana e sorvetes artesanais. A inovação e o valor agregado a um ingrediente tradicional foram decisivos para a vitória. “Ficar em primeiro lugar foi uma sensação indescritível. Ver meu trabalho reconhecido me dá a certeza de que estou no caminho certo”, afirmou a empreendedora.