Maria de Lourdes, de 78 anos, moradora de Valparaíso de Goiás, está vivendo uma nova etapa da vida: ela foi aprovada para cursar Letras na Universidade de Brasília (UnB) pelo projeto 60+, que oferece vagas específicas para pessoas idosas. Mais de três décadas depois de mudar de cidade para acompanhar a filha na universidade, ela agora inverte os papéis e se torna caloura. “Eu estou me sentindo uma adolescente”, resume a nova universitária, após uma trajetória marcada por desafios e conquistas.

A história começou em 1992, quando Maria de Lourdes se mudou com a família para Valparaíso, no Entorno do Distrito Federal, após a aprovação da filha mais velha no vestibular da UnB. Dois meses atrás, a filha do meio, a ambientalista Paloma Ludmyla, de 41 anos, viu um anúncio sobre o projeto 60+ e decidiu inscrever a mãe. Ao saber da aprovação, a filha mais velha, Michiele Medeiros, de 50 anos, registrou o momento nas redes sociais com uma mensagem de afeto: “Há 30 anos você me trouxe para estudar, agora sou eu que vou te trazer”.

Apesar da resistência inicial, Maria de Lourdes decidiu encarar o desafio. No dia da prova, confessa que chegou a duvidar de si mesma. A redação, diferente do modelo tradicional, pedia uma reflexão sobre artistas e idosos. “Não sei o que escrevi, estava anestesiada”, recorda, rindo.

Desde a infância, os livros fizeram parte de sua vida. Filha de pais analfabetos, buscava emprestados exemplares e gibis com vizinhos. Aos 10 anos, já lia Jorge Amado, além de obras religiosas e documentários. Após ficar viúva, acabou se afastando da leitura, mas agora retoma o hábito com energia renovada.

Com autoestima elevada, diz não se intimidar diante de comentários preconceituosos. “Já fui xingada de velha e respondi: sou mesmo! A pessoa mais importante da minha vida sou eu mesma”.

Além de estudar espanhol, garante que seguirá firme até o fim da graduação. “Admiro as pessoas que escrevem bem. Estou pronta para o que vier. Vou estudar com jovens, adultos e idosos, e acredito que os mais novos vão me desafiar mais. Se fosse só com pessoas da minha idade, não teria a mesma graça”, afirma.

Com autoestima elevada, diz não se intimidar diante de comentários preconceituosos. “Já fui xingada de velha e respondi: sou mesmo! A pessoa mais importante da minha vida sou eu mesma”, destaca. Para ela, começar tarde não é um problema, mas sim um ato de amor-próprio.

O Projeto 60+ da UnB abre vagas extraordinárias em cursos de graduação para pessoas com 60 anos ou mais, incentivando o envelhecimento saudável e participativo. A seleção ocorre a cada semestre, por meio de uma redação em Língua Portuguesa, e a quantidade de vagas varia conforme o curso e o edital vigente.

“Não sei bem como explicar essa realização. É fantástica”, resume Maria de Lourdes, pronta para viver uma fase que, segundo ela, será de aprendizado, convivência e superação.