A produção da Cállida Cachaça Artesanal, em Cristalina (GO), é o resultado de uma tradição de quatro gerações da família Cintra. O bisavô de Célio Cintra, atual CEO e mestre destiller da marca, já produzia cachaça em Ibiraci (MG). Décadas depois, a paixão do pai, José Maria, inspirou a família a comprar uma fazenda em Alexânia, em 1990, onde nasceram as primeiras garrafas da Cállida, em 1994.

Após a morte do pai, em 2010, a produção foi interrompida, mas Célio decidiu retomar o projeto em 2015, aposentado da carreira de delegado de polícia. “Quis unir a tradição da família ao conhecimento científico. A cachaça não é apenas cultura, é ciência aplicada e respeito ao tempo”, afirma.

Para Célio, a cachaça é, acima de tudo, respeito ao tempo. “Tempo da cana, da fermentação, da destilação e tempo do envelhecimento. Não dá para apressar. É isso que garante qualidade e transforma a Cállida em uma bebida de excelência.”

Na destilação, a Cállida segue padrões internacionais de qualidade. “A cachaça começa a correr com 86 graus. O que vem antes disso contém metanol, que em altas concentrações é tóxico. Por isso fazemos o corte de cabeça, retirando metanol, óleos superiores e furfural. No final, fazemos o corte de cauda, eliminando impurezas que prejudicam o aroma e a saúde. O que fica é o coração, a parte mais nobre da bebida”, explica Célio.

O mestre destiller mostra com orgulho, suas cachaças campeãs. Foto: Graciliano Cândido/ Jornal Opção

Linha completa para todos os paladares

  • Cristal de Goiás: sem envelhecimento, ideal para coquetelaria.
  • Linha jovem: seis meses na madeira, com leve toque aromático.
  • Ouro e Prata: um ano de envelhecimento.
  • Prêmio: três anos.
  • Extra Prêmio: cinco anos, em barris de Carvalho e Amburana.
  • Joia do Cerrado: edição especial com cristal lapidado de Cristalina.
  • Amari: bebida alcoólica mista gaseificada, em latas, com 8% de álcool e sabores como graviola e pêssego, limão siciliano e mel, framboesa e cranberry.

Madeiras do Cerrado: identidade regional

A marca se destaca por pesquisas com madeiras típicas do Cerrado, em parceria com a Universidade Federal de Goiás e o Senai. Os barris, tostados em diferentes níveis, oferecem aromas únicos. “O álcool é um solvente que extrai taninos, resinas e açúcares caramelizados da madeira, agregando complexidade. O envelhecimento é uma alquimia entre tempo, madeira e paciência”, explica o mestre destiller.

A cachaça da Cállida conquista pela complexidade aromática e equilíbrio em boca. Dependendo do tempo de envelhecimento e da madeira utilizada, surgem notas de baunilha, coco, chocolate, castanhas e especiarias, além de toques florais e frutados. “Cada barril entrega um caráter único. A amburana traz suavidade e dulçor, o carvalho confere elegância, e as madeiras do Cerrado revelam identidade regional inconfundível”, explica Célio Cintra.

Sustentabilidade como filosofia

Na fazenda, nada se perde:

  • Folhas da cana protegem o solo;
  • Pontas alimentam o gado;
  • Bagaço é combustível e adubo;
  • Vinhaça é fertilizante rico em potássio;
  • Resíduos da destilação viram álcool 70º (usado internamente) e etanol (para a frota da empresa).

“Costumo dizer que a cachaça é uma indústria limpa. Tudo volta para a terra ou vira energia”, destaca Célio.

Sua bebida é comercializada em Goiânia, Anápolis, Catalão, Rio Verde, Jataí, Itumbiara e Pirenópolis. Recentemente está participando da Festa do Peão de Barretos, através da Secretaria da Retomada. Foto: Graciliano Cândido/ Jornal Opção

Prêmios e reconhecimento

A Cállida acumula conquistas em concursos nacionais e internacionais. Em 2023, na ExpoCachaça de Belo Horizonte, levou medalha de ouro com a Prêmio Amburana e duplo ouro, a maior premiação do evento, com a Carvalho. “Desbancamos até os mineiros. Foi uma conquista histórica para Goiás”, celebra Célio.

Neste ano, a Cállida também se destacou no Festival da Cachaça de Alexânia, em Olhos D’Água, onde conquistou o primeiro lugar “Mió de Goiás”, entre dezenas de rótulos de Goiás e de outros estados. A cachaça premiada foi a Cállida Carvalho, reconhecida pelo equilíbrio entre aroma e paladar, com notas de baunilha, chocolate e especiarias. “Esse prêmio foi especial porque nos consagrou dentro de casa, em Goiás, mostrando que nossa bebida está no mesmo patamar das grandes referências nacionais”, celebra Célio Cintra.

A marca também se tornou um símbolo local. “Em Cristalina, a Cállida não é mais a cachaça do Célio. É a cachaça da cidade. Outro dia ouvi um cliente dizendo: ‘Se você vier a Cristalina e não tomar uma Cállida, não veio de verdade’”, conta com orgulho.

Desafios e futuro

Apesar dos avanços, a tributação ainda é um obstáculo. O ICMS-ST, que pode chegar a 42%, encarece a expansão para outros estados. A expectativa é de que a reforma tributária, com alíquota unificada de 6%, permita maior competitividade.

Enquanto isso, a estratégia é consolidar a marca em Goiás — já presente em Goiânia, Anápolis, Catalão, Rio Verde, Jataí, Itumbiara e polos turísticos como Pirenópolis, Caldas Novas e Chapada dos Veadeiros — e, em seguida, expandir para outras regiões.

De olho em novos públicos, especialmente os jovens consumidores, a Cállida lançou a linha Amari, bebidas alcoólicas mistas gaseificadas em lata, com 8% de teor alcoólico. A proposta é oferecer praticidade sem perder a sofisticação da cachaça artesanal. Os sabores já disponíveis incluem graviola e pêssego, limão siciliano e mel, framboesa e cranberry. “Queremos mostrar que a cachaça pode estar presente também em versões leves e modernas, acompanhando tendências internacionais”, explica Célio Cintra.