Em menos de dois anos, Luziânia, cidade mais antiga do Entorno do Distrito Federal, com 278 anos, virou palco de uma disputa pela riqueza escondida no subsolo. De um lado, garimpeiros atuam de forma clandestina, assumindo riscos legais e ambientais. Do outro, uma mineradora canadense protocolou dezenas de pedidos de exploração junto à Agência Nacional de Mineração (ANM).

A reportagem ouviu interlocutores da prefeitura e o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico. Eles confirmaram o interesse crescente de empresários da mineração nas terras de Santa Luzia — primeiro nome dado ao município — mas evitaram detalhar. Reconhecem, no entanto, que a região é vista como promissora, principalmente por abrigar grandes áreas rurais ainda pouco ocupadas.

A maior parte dos pedidos foi apresentada pela Kinross Brasil Mineração S/A, subsidiária da canadense Kinross Gold Corporation, uma das maiores produtoras de ouro em operação no Brasil.

Tradicionalmente pacata, com moradores que cultivam raízes locais e forte identidade comunitária, Luziânia começa a sentir a pressão externa da corrida pelo ouro. Enquanto isso, há relatos de que o garimpo ilegal continua ativo de forma velada, ampliando o debate sobre falhas de fiscalização, falta de regulação e os limites entre atividade econômica e crime ambiental.

Um passado marcado pelo ouro

Com quase 280 anos de fundação, Luziânia carrega em sua história uma forte ligação com o ouro. No início da colonização, a cidade prosperou graças à atividade garimpeira, que atraiu bandeirantes, comerciantes e trabalhadores escravizados. Documentos e relatos locais indicam que muitos escravos foram enterrados na Igreja Nossa Senhora do Rosário, marco histórico do município. O novo interesse pelo subsolo luzianense reacende memórias desse passado que moldou a identidade regional.

Luziânia e o ouro ao longo dos séculos

  • 1746 — Fundação da cidade, impulsionada pelo ouro.
  • Século XVIII — Escravizados constroem a Trilha dos Escravos; auge do ciclo aurífero.
  • Século XIX — Declínio do ouro, economia se volta para a agricultura.
  • Século XX — Proximidade com Brasília fortalece papel estratégico.
  • Século XXI — Garimpos clandestinos e mineradoras recolocam Luziânia no mapa do ouro.

Avanço corporativo: quase 100 pedidos em dois anos

Enquanto o garimpo clandestino resiste, uma subsidiária da Kinross Gold Corporation, multinacional canadense, protocolou cerca de 100 pedidos de exploração mineral entre 2024 e 2025.

  • Em 2024, foram 78 pedidos, sendo 67 da Kinross.
  • Em 2025 (até setembro), foram 29 solicitações, com 20 da mesma empresa.
  • Antes desse período, a média anual não passava de 7 a 12 pedidos.

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