Anvisa aprova uso do Mounjaro para tratar apneia do sono em pessoas com obesidade
01 novembro 2025 às 09h30

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* Por Luan Martins
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do medicamento Mounjaro (tirzepatida) para o tratamento da apneia obstrutiva do sono (AOS) moderada a grave em adultos com obesidade. A decisão, publicada no Diário Oficial da União em 20 de outubro, representa uma nova alternativa terapêutica para quem sofre com a doença — que atinge cerca de um terço da população mundial.
Segundo a agência, a autorização foi baseada em dois estudos clínicos internacionais envolvendo 469 adultos sem diabetes tipo 2. Após 52 semanas de tratamento, os participantes que receberam a medicação apresentaram redução significativa nos episódios de apneia e hipopneia, além de melhora dos sintomas e perda de peso relevante, fatores diretamente relacionados ao controle da doença.
A Anvisa explicou que a avaliação seguiu o procedimento otimizado de análise, previsto na Instrução Normativa nº 289/2024, que considera pareceres de autoridades regulatórias estrangeiras, como a FDA, agência dos Estados Unidos. “Os benefícios clínicos esperados com a tirzepatida justificam os riscos conhecidos, especialmente pela redução do índice de apneia e a melhora da qualidade de vida”, informou a agência.
Entre os possíveis efeitos colaterais estão náuseas, diarreia, constipação, desconforto abdominal, fadiga e reações no local da aplicação. A bula também alerta para riscos de pancreatite, hipoglicemia, problemas renais e reações alérgicas graves. A fabricante tem até 180 dias para atualizar o texto da bula com a nova indicação.
Especialista destaca avanço no tratamento
O médico Dr. Maxwell de Oliveira, especialista em doenças do sono, considera a aprovação um marco importante no tratamento da apneia. “A apneia obstrutiva do sono é uma doença que afeta um terço da população mundial. Temos dois grandes grupos de tratamento, cirúrgicos e não cirúrgicos. Entre os não cirúrgicos, o Mounjaro ganhou importância porque agora foi aprovado pela Anvisa para tratar pacientes com apneia e obesidade. Isso amplia o arsenal terapêutico e oferece mais efetividade, inclusive para quem já faz uso de aparelhos como o CIPAP ou BIPAP”, explica o médico.
Para o especialista, o medicamento traz um avanço no manejo clínico da doença, especialmente em casos em que a obesidade é um agravante.
“A obesidade é uma das principais causas da apneia obstrutiva do sono, e o uso dessa medicação contribui tanto para o controle do peso quanto para a melhora do quadro respiratório”, ressaltou o Dr. Maxwell.
A rotina de quem vive com a apneia
O aposentado João Alves da Silva, de 73 anos, morador da Samambaia (DF), convive com o diagnóstico há mais de uma década e não dorme sem o aparelho de pressão positiva.
“O remédio da apneia é usar o aparelho. Se não usar, morre. Eu mesmo já tive parada respiratória. O oxigênio falta no cérebro, a gente apaga. Depois que comecei a usar, nunca mais passei mal. Paguei caro, mas valeu a pena. Esse aparelho salvou minha vida”, contou.
Apesar de acompanhar com esperança as novidades, João acredita que o uso do equipamento ainda é indispensável. “Se aparecer um remédio que cure, vai ser uma bênção de Deus. Porque o aparelho ajuda, mas pode falhar. Já vi muita gente morrer por falta de ar. É uma sensação horrível, falta oxigênio e a pessoa apaga. Quem tem apneia sabe: se não tratar, morre mesmo”, destacou.
Nova esperança no combate à apneia
A aprovação do Mounjaro pela Anvisa é vista como um passo importante no enfrentamento da apneia obstrutiva do sono associada à obesidade. Até então, o tratamento se concentrava principalmente no uso de aparelhos respiratórios e em mudanças de estilo de vida.
Agora, com a incorporação de um medicamento que atua tanto na perda de peso quanto na melhora dos episódios respiratórios, especialistas acreditam que será possível alcançar melhores resultados clínicos e mais qualidade de vida para quem convive com a doença.
