Mesmo diante de prisões frequentes e operações policiais anunciadas quase diariamente, a sensação de insegurança ainda faz parte do cotidiano de muitos moradores do Distrito Federal e das cidades do Entorno. Crimes graves seguem sendo registrados e ganham espaço no noticiário, reforçando o medo e a preocupação de quem vive nessas regiões. Para especialistas, o problema envolve vários fatores e exige respostas que vão além da repressão imediata.

Em uma entrevista ao Jornal Opção Entorno, o especialista em segurança pública Júlio Hott, disse que; “no cenário atual, a segurança pública do DF teve uma redução na violência fatal nos crimes de homicídio”. Ele ressalta, no entanto, que “dentre esses crimes fatais, o mesmo não aconteceu com o feminicídio, onde tivemos aumento dessa violência fatal contra a mulher”.

A violência doméstica aparece como um dos crimes mais recorrentes nas estatísticas e nas ocorrências policiais. São casos que chegam diariamente às delegacias, envolvendo vítimas que decidem denunciar. Ao mesmo tempo, há mulheres que permanecem em silêncio, convivendo com agressões dentro de casa. Esse tipo de crime costuma ocorrer longe dos olhos da sociedade, mas tem consequências graves e, em muitos casos, termina de forma trágica.

Um dos episódios mais recentes ocorreu na madrugada desta sexta-feira (19/12). Um homem de 23 anos foi preso em flagrante na QS 08 do Areal, em Águas Claras (DF), após confessar ter matado uma mulher de 24 anos em Águas Lindas de Goiás, no Entorno do Distrito Federal. O crime aconteceu no apartamento onde o casal morava, no Setor de Mansões Centro-Oeste, em Águas Lindas (GO).

No interior do imóvel, a equipe policial confirmou a morte da vítima. Ela foi encontrada deitada sobre uma cama de casal, com indícios visíveis de asfixia. O caso reforça os alertas feitos por especialistas sobre o crescimento da violência contra a mulher, inclusive em regiões onde outros tipos de crimes letais apresentaram redução.

Sobre o contexto regional, Júlio Hott afirma que “a dinâmica no Entorno não é diferente, considerando que o Entorno sofre todo esse reflexo do DF”. Ele acrescenta que “violência familiar e doméstica contra a mulher, tráfico de drogas e crimes patrimoniais seguem interligados” e que “estes são fatores que contribuem ainda para a violência no DF e Entorno”.

Outro caso de violência que chamou a atenção ocorreu no município de Cristalina, também no Entorno do Distrito Federal. O servidor público Limarco do Nascimento Oliveira, de 38 anos, morreu na sexta-feira (12/12) após ser esfaqueado durante uma festa de confraternização organizada pela Prefeitura da cidade. Limarco era servidor municipal e participava do evento realizado na garagem da prefeitura.

Segundo as investigações, Limarco estava no local quando se desentendeu com o agressor, que trabalhava como churrasqueiro no evento. Testemunhas relataram que a discussão começou pouco antes do fim da festa e chegou a ser contida por outras pessoas. No entanto, o conflito foi retomado do lado de fora da confraternização.

Na rua, o churrasqueiro teria sacado uma faca e golpeado a vítima. Limarco chegou a ser socorrido, mas morreu a caminho de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região. Até o momento, não há informações sobre o que teria motivado o crime.

Além dos crimes violentos, a Polícia Civil do Distrito Federal também atua em investigações relacionadas a crimes contra a administração pública. Na manhã desta sexta-feira (19), a PCDF deflagrou a Operação Recover, por meio da Delegacia de Repressão à Corrupção (DRCOR), vinculada ao Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), com apoio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social.

A operação cumpriu seis mandados de busca e apreensão com o objetivo de reunir provas de crimes como lavagem de capitais, falsificação de documentos e ilícitos contra a administração pública. Durante a ação, houve apreensão de veículos de luxo e bloqueio de ativos financeiros.

As investigações começaram em maio de 2024, após a apreensão de R$ 900 mil em espécie no momento em que o valor era entregue entre investigados. Com o avanço das apurações, surgiram indícios de associação para lavagem de grandes quantias de dinheiro, com suspeita de origem em superfaturamento, desvio de recursos públicos e corrupção em obras e serviços.

Para o advogado criminalista e professor de Direito Penal e Processo Penal Amaury Andrade, “na prática, o fenômeno criminal não respeita divisas administrativas”. Segundo ele, “muita gente mora em municípios do Entorno e trabalha no DF, circulando diariamente em áreas com dinâmicas de policiamento e investigação diferentes”.

Do ponto de vista jurídico, Amaury Andrade explica que “a segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos”, conforme estabelece a Constituição. Ele destaca ainda que “no Distrito Federal, cabe à União organizar e manter a polícia civil, a polícia militar, a polícia penal e o corpo de bombeiros”.

Sobre a atuação estatal, o advogado ressalta que “existe base normativa para responsabilização civil do Estado, mas ela não é automática”. De acordo com ele, “a jurisprudência costuma exigir demonstração concreta de omissão específica e de nexo causal direto”.

Amaury Andrade também chama atenção para a integração entre as forças de segurança. “A legislação não funde comandos, mas desenha cooperação institucional como diretriz estruturante”, afirma. Segundo ele, “quando essa integração não ocorre de forma eficaz, isso pode comprometer investigações, fragilizar provas e aumentar a demora nos processos”.