O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), se reuniram nesta segunda-feira (28), em Brasília, para discutir os impactos do chamado “tarifaço” anunciado pelo presidente norte-americano Donald Trump. As medidas protecionistas impostas pelos EUA começam a valer no dia 1º de agosto e já provocam prejuízos a diversos setores da economia brasileira, especialmente nas exportações do agronegócio e da indústria.

Após o encontro, Ibaneis concedeu entrevista coletiva à imprensa e informou que levou ao vice-presidente um convite do Fórum Nacional de Governadores para uma reunião emergencial sobre o tema. A expectativa é que o encontro, com a presença de todos os chefes de Executivo estaduais, ocorra ainda nesta semana, antes da entrada em vigor das novas tarifas. “A reunião foi bastante produtiva. O vice-presidente nos colocou a par do que o governo federal tem feito nessa questão. Trouxe também um convite do Fórum de Governadores, que estão muito preocupados. Uns estados vão perder mais, outros menos, mas todos reconhecem que o prejuízo será nacional”, declarou o governador.

Prejuízos já em andamento

Ibaneis relatou que os efeitos da taxação americana já são sentidos em várias regiões do país. Segundo ele, frigoríficos foram fechados, trabalhadores estão em férias coletivas, e cargas foram devolvidas por importadores americanos. “No Piauí, por exemplo, o mel de abelha teve que retornar por falta de aceitação no exterior. No Paraná e em Santa Catarina, fábricas ligadas à exportação de madeira para construção civil nos EUA já dispensaram 700 funcionários. O Espírito Santo sofre com perdas no setor de mármore e granito”, alertou.

Reunião é um passo para tentar minimizar os impactos econômicos nos estados. Foto: Agência Brasília

Apesar de o Distrito Federal não ter uma pauta expressiva de exportações, o governador ressaltou que o momento exige união entre os entes federativos. “Talvez não sejamos um dos mais afetados diretamente, mas a população como um todo vai sentir os efeitos, com desemprego e queda na renda. É hora de união e diálogo”, disse.

Alckmin deve liderar articulação com os estados

Durante a reunião, Ibaneis destacou que Alckmin vem se consolidando como o principal interlocutor do governo federal sobre o tema, em diálogo direto com representantes dos EUA e do setor produtivo. A proposta apresentada ao vice-presidente é que a reunião do Fórum de Governadores produza uma comissão estadual para acompanhar as negociações com o governo americano.

“A ideia é que cada governador leve à mesa os dados concretos das perdas em seus estados e que possamos formar uma comissão que caminhe junto com o governo federal nas tratativas. A união da classe política é fundamental”, afirmou Ibanes Rocha.

Alckmin teria informado que o governo brasileiro está em tratativas com autoridades americanas e com a Câmara de Comércio dos EUA. Segundo ele, a pressão de empresários norte-americanos — afetados também pelas tarifas sobre produtos como carne e suco de laranja — pode ser decisiva.

“Há empresas nos EUA que já se movimentam. O país importa 85% do suco de laranja do Brasil. Esse impacto será sentido lá também. O vice-presidente nos garantiu que a diplomacia econômica está atuando junto a secretários e parlamentares americanos para tentar reverter a situação”, afirmou Ibaneis.

Reunião pode ocorrer antes do dia 1º

O governador informou que o Fórum de Governadores aguarda apenas a confirmação de agenda do vice-presidente para convocar oficialmente o encontro, que deverá acontecer em Brasília. “Espero que ocorra antes de sexta-feira. Ainda há tempo para avançar em algumas medidas. O momento é de agir rápido e mostrar unidade. A população mais carente é quem mais vai sofrer com tudo isso”, concluiu.

A expectativa é que o encontro reúna representantes de todos os estados e sirva como um gesto de mobilização nacional contra o tarifaço, reforçando o posicionamento do Brasil em negociações internacionais. A participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva também não está descartada.