Comunidade Kalunga ganha obra que exalta sua identidade
26 dezembro 2023 às 13h53
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O Censo de 2022 constatou que a população quilombola soma 1.327.802 de pessoas. Somente na região Centro-Oeste foram contabilizados 44.957 quilombolas, sendo a maioria situada no estado de Goiás (30.387). No DF foram contabilizados 305 quilombolas, mas este número dobra nos municípios da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride), a exemplo de Cavalcante, onde está localizada a comunidade Kalunga, uma das maiores do Brasil.
Com foco na comunidade Kalunga, o professor, doutor e mestre em Educação pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Rosolindo Neto de Souza Vila Real, da Universidade Estadual de Goiás (UEG), lançou agora, no mês de dezembro, o livro: “Quilombo Kalunga: cultura e currículo escolar”, pela Editora Appris. Segundo o autor, o processo de globalização da cultura do mundo moderno, em que se postula a formação do ser “cidadão cósmico”, faz suscitar a clássica discussão do que é universal e do que é singular. “Neste livro, a comunidade Kalunga é alvo de estudo, ao considerá-la de cultura específica, pois é formada por negros remanescentes de quilombo, constituindo, assim, minoria étnica no contexto social”, explica o professor.
Muito embora a obra não se aprofunde no conhecimento da cultura do povo Kalunga, Rosolindo diz que a ideia é, a partir da escola ali existente, indagar como a educação escolar prepara os moradores para atender aos modos de produção emergentes da “sociedade global”, sem ao mesmo tempo deixar de acentuar a identidade da comunidade.
Currículo escolar compreensivo
Por meio da abordagem etnográfica, o autor baseou-se em três dimensões: a cultura, o currículo e o cotidiano. “Essa abordagem oportuniza descrever e registrar a situação social”. Ele complementa: “O suposto é que a educação escolar, via currículo, possa equilibrar e articular o diálogo horizontal entre cultura particular e cultura universal. O currículo ‘ativo’ da escola revela a desvinculação dessa relação. Por outro lado, as manifestações culturais da comunidade fazem transparecer uma relação dialética: de preservação da cultura local e de ascensão aos bens culturais da sociedade circundante”, destaca Rosolindo.
Para o autor, faz-se necessário optar por um currículo escolar “compreensivo”. Um modelo curricular em que existe a possibilidade do resgate da cidadania Kalunga, a qual se diferencia da cidadania constituída por códigos.