Todos os anos, entre junho e agosto, o Brasil se transforma em um grande arraial. As festas juninas, uma das maiores manifestações culturais do país, celebram tradições herdadas da Europa que, por aqui, ganharam cores, sabores e sons únicos. As danças de quadrilha, as fogueiras, o forró e pratos típicos como canjica, pamonha, bolo de milho e quentão são marcas registradas desse período, que mobiliza milhares de pessoas, especialmente nas comunidades do interior e das periferias urbanas.

No Entorno do Distrito Federal, essa tradição ganha ainda mais força, unindo identidade cultural, religiosidade e resistência. Cidades como Valparaíso de Goiás, Cidade Ocidental, Luziânia, Formosa e outras da região promovem anualmente festas que atraem moradores e visitantes, com quadrilhas, quermesses e apresentações musicais que movimentam a economia e mantêm vivas as raízes populares.

Entre os principais símbolos das festas está a quadrilha junina — dança em pares que encena casamentos caipiras e celebra a cultura do campo, com roupas coloridas, músicas animadas e coreografias sincronizadas. Na região, a quadrilha Rasga o Fole é um dos exemplos mais expressivos dessa tradição.

Quadrilha Rasga o Fole é um dos exemplos mais expressivos dessa tradição. Foto: Divulgação

Fundada em Valparaíso de Goiás, em 2009, a quadrilha surgiu do desejo de um grupo de amigos de fazer diferente. “Nosso objetivo era dançar quadrilha e trabalhar no grupo da forma que achávamos correta. Participávamos de outro grupo na cidade e não concordávamos com a forma de trabalho. Por isso, resolvemos sair e montar o nosso próprio grupo”, conta Denilson Andrade, atual presidente e um dos fundadores do Rasga o Fole.

Hoje, o grupo reúne cerca de 110 integrantes, entre dançarinos e equipe de produção, e é presença constante em festivais e concursos do Distrito Federal, do Entorno e de outros estados. “Iniciamos nossos ensaios no fim de novembro do ano anterior e seguimos até o final de agosto, com muito trabalho nos ensaios e nas apresentações. Nosso coreógrafo é o Will, um pernambucano que cuida de toda a parte coreográfica”, explica Denilson.

Assim como muitas quadrilhas da região e do país, o Rasga o Fole enfrenta desafios financeiros para manter suas atividades. Os figurinos, essenciais para o brilho das apresentações, são oferecidos gratuitamente aos integrantes graças ao esforço coletivo. “Os dançarinos não pagam pelo figurino. A quadrilha oferece tudo 100% grátis, e custeamos esses trajes por meio de apresentações particulares, rifas e concursos que vencemos durante a temporada”, destaca.

As festas juninas também desempenham um papel importante na economia local, movimentando pequenos empreendedores — de produtores de alimentos típicos a costureiras responsáveis pelos trajes. A cultura junina não só preserva a tradição, mas também gera emprego e renda, fortalecendo a economia das cidades do Entorno.

A região também se destaca por sediar diversos festivais e concursos que reúnem quadrilhas de todo o país. A Rasga o Fole, por exemplo, já representou Valparaíso e o Entorno em eventos de destaque. “Já disputamos o Arraiá Brasil, no estado do Mato Grosso, e ficamos em terceiro lugar, ganhando os prêmios de melhor marcador e melhor casal de noivos”, conta Denilson, com orgulho. Em 2023, o grupo participou novamente do evento como atração especial, ao lado de quadrilhas de todos os estados.

Atualmente, o Rasga o Fole é filiado à Liga Independente de Quadrilhas Juninas do DF e Entorno (LINQ/DFE), participando do módulo especial e ocupando a quinta colocação no ranking de 2024. “Nosso plano é estar entre as três melhores quadrilhas do DF em 2025 e levar o nome da Rasga o Fole para todo o Brasil”, afirma Denilson.

João Calmoni, marcador de quadrilha: A pessoa que conduz, conta a história e dá os comandos para os dançarinos. Foto: Reprodução

Apesar do reconhecimento, o caminho é repleto de desafios, especialmente pela falta de apoio financeiro. “Nosso maior desafio é manter essa cultura viva sem ajuda do poder público, sem dinheiro, sem nada. Imagina ter que investir de R$ 60 mil a R$ 100 mil na temporada sem saber de onde tirar. Esse é o valor que precisamos para representar bem a cidade, com trajes, cenários e a nossa banda ao vivo”, desabafa.

Para quem deseja integrar o Rasga o Fole, o grupo está sempre de portas abertas a novos integrantes. O único requisito é o comprometimento. “Não paga nada. A única coisa que cobramos é o compromisso com os ensaios e as apresentações”, explica Denilson.

No Entorno do Distrito Federal, como em tantas outras regiões do Brasil, as festas juninas são um espaço de encontro e celebração das raízes culturais. Além das quadrilhas, elas reúnem diversas expressões artísticas: forró pé de serra, sanfoneiros, grupos de teatro e as tradicionais barracas de comidas típicas, que mantêm viva a memória culinária do interior.

Para Denilson, manter essa tradição é uma verdadeira missão, que passa de pai para filho. “Manter essa cultura viva é fundamental. A quadrilha junina não é só dança — é história, é resistência, é uma forma de mostrar para as novas gerações que nossas raízes precisam ser preservadas e valorizadas”, conclui.

À medida que o mês de junho se aproxima, as cidades do Entorno se enfeitam com bandeirolas coloridas, o cheiro de milho verde toma conta das ruas, e grupos como o Rasga o Fole se preparam para mais uma temporada intensa, levando alegria, tradição e identidade cultural por onde passam.