Empresários do setor de limpa-fossas em Valparaíso de Goiás estão enfrentando sérios prejuízos após a suspensão temporária da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Etapa B, gerenciada pela Saneago. A unidade está inativa há cerca de 20 dias e, até o momento, não há previsão para o retorno das atividades. Enquanto isso, moradores da região reclamam do mau cheiro vindo da estação, mesmo sem a entrada dos caminhões para o descarte no local.

Sem poder utilizar a estrutura da cidade, os caminhões precisam se deslocar até municípios vizinhos, como Cidade Ocidental e Novo Gama, para realizar o descarte dos resíduos. “Estamos rodando mais de 40 quilômetros por dia só pra conseguir descarregar o caminhão. Isso dobrou nosso custo e reduziu pela metade o número de atendimentos”, relata o empresário Reinaldo Barcelos. Segundo ele, o serviço que antes permitia até sete viagens diárias hoje não passa de três.

Outro prestador de serviço, Renato Ximenes, que atua há seis anos no setor, também relata dificuldades. “Na Cidade Ocidental tá um caos. Estão limitando para 30 caminhões diariamente. Hoje eu fui e não consegui descarregar. Vou ter que amanhecer lá pra tentar. Agora são 17h e eu ainda não descartei”, desabafa.

Ele afirma que, por conta da distância e dos obstáculos enfrentados, o valor da limpeza de fossa residencial subiu consideravelmente. “O valor mudou de R$ 250 para R$ 450. Meu caminhão tem capacidade para 10 mil litros de dejetos e normalmente suporta, no máximo, duas fossas. Eu vivo disso, de limpa-fossa. Mas a gente não consegue trabalhar direito”, lamenta.

Diante das dificuldades, os profissionais do setor se mobilizaram e deram início à criação de uma associação dos limpa-fossas da cidade. O objetivo é cobrar das autoridades uma solução urgente para o problema. “Fizemos paralisações na porta da Saneago, da prefeitura, tentamos diálogo, mas até agora só promessas. A Saneago exigiu que a gente se regularizasse e pagasse por uma licença ambiental em Valparaíso, mas hoje não temos nem onde descarregar dentro do município”, afirmou Reinaldo.

Na última reunião organizada pelo grupo, estavam presentes representantes do Ministério Público, do Procon Goiás e do Sindicato dos Condomínios de Valparaíso. No entanto, segundo os organizadores, a Prefeitura e a Saneago não compareceram.

“Queremos ser ouvidos. Não dá mais para seguir assim. Já começaram a surgir reclamações de moradores no Procon por causa da taxa de tratamento de esgoto que é cobrada na conta de água da Saneago, e o serviço não é prestado aos moradores”, completou.

A reportagem teve acesso a uma fatura da Saneago, na qual constam duas tarifas: coleta/afastamento de esgoto residencial e tratamento de esgoto residencial, que somam o equivalente a 100% do valor consumido em água potável.

Crescimento desordenado

A Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), conhecida como “Pinicão”, foi implantada na década de 1980, conforme critérios técnicos da época, quando Valparaíso ainda era distrito de Luziânia. A área já era destinada a esse tipo de infraestrutura, incluindo a atual sede da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Naquele período, segundo o IBGE, a população de Valparaíso era de aproximadamente 2.673 habitantes. Em 2025, o número saltou para cerca de 213.506 moradores — um crescimento populacional desproporcional aos investimentos na infraestrutura de saneamento. A ETE já não comporta o volume de esgoto produzido e despejado diariamente no local. A Saneago não anunciou nenhuma obra para o município. Em maio de 2025, anunciaram obra em execução para Novo Gama que trata da Estação de Tratamento de Esgoto Santa Maria e a Estação Elevatória de Esgoto Final, com investimento de R$ 74 milhões e capacidade de vazão de até 365 litros por segundo na segunda etapa.

Outra informação apurada pela reportagem do Jornal Opção Entorno é que os dejetos classificados como gordura, produzidos por condomínios, residências e estabelecimentos comerciais (como padarias e restaurantes), não podem ser recolhidos pelas empresas locais de limpa-fossas, já que a Saneago não permite o despejo desse tipo de resíduo na estação. Empresas do Distrito Federal realizam esse serviço e destinam o material à Caesb, responsável pelo tratamento no DF.

O que dizem os órgãos públicos

Saneago
A Companhia de Saneamento de Goiás informou, em nota, que o odor gerado na ETE Etapa B é natural ao processo de tratamento, mas que medidas estão sendo tomadas para amenizar os impactos. Entre elas, estão o uso de biorremediadores, cinturão verde, limpeza das lagoas e instalação de novos equipamentos.

A empresa explicou que, devido às obras de modernização (retrofit) da estação, o despejo de caminhões limpa-fossa foi temporariamente suspenso. Durante esse período, os resíduos devem ser destinados às unidades de Cidade Ocidental ou Novo Gama. A previsão é que a ETE Etapa B volte a operar normalmente até o fim deste ano.

A Saneago garantiu que todas as ações estão sendo acompanhadas pela Prefeitura, órgãos ambientais e outros entes públicos.

Procon Goiás
O Procon informou que recebeu 96 reclamações contra a Saneago em 2025, apenas na região de Valparaíso. No entanto, devido à migração de sistema interno, ainda não foi possível identificar quantas estão relacionadas à taxa de esgoto ou à suposta falha na prestação do serviço.

O órgão orienta que os consumidores que se sintam lesados registrem a reclamação de forma formal, apresentando documentos como faturas, imagens e protocolos de atendimento.

As denúncias podem ser feitas pelo telefone (62) 3201-7124 ou pelo site do Portal Expresso (www.go.gov.br). Valparaíso também conta com um Procon municipal apto a receber denúncias e agir em casos de irregularidades.

O Procon Goiás ressaltou que mantém diálogo com órgãos públicos e está à disposição para articular medidas que assegurem a qualidade dos serviços e o respeito aos direitos do consumidor.

Prefeitura de Valparaíso
A Prefeitura informou que a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Etapa B, conhecida como “Pinicão”, foi implantada na década de 1980, conforme os critérios técnicos da época, quando Valparaíso ainda era distrito de Luziânia. A área já era destinada à instalação de infraestrutura sanitária, incluindo a atual sede da Secretaria de Meio Ambiente.

Sobre as queixas de mau cheiro, o município afirma que realiza fiscalizações frequentes, mas destaca que a responsabilidade pela operação da estação é da Saneago, que atua sob licença ambiental emitida pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Segundo a prefeitura, todas as análises realizadas indicam que a operação está dentro dos parâmetros legais. Reclamações recebidas são verificadas pelas equipes da Secretaria.