A charmosa Fazendinha JK, localizada em Luziânia (GO), a cerca de 50 km de Brasília, acaba de enriquecer seu acervo histórico. Os proprietários receberam, como doação do Arquivo Público do Distrito Federal nesta quarta-feira (13), quatro quadros raros com documentos e projetos do arquiteto e urbanista Lúcio Costa — autor do Plano Piloto e figura central na concepção da capital federal. A casa, projetada por Oscar Niemeyer e última residência do ex-presidente Juscelino Kubitschek antes do golpe militar de 1964, já preserva peças emblemáticas da trajetória política e pessoal do presidente que idealizou Brasília, como a Mercedes-Benz 1963 preparada para sua campanha presidencial de 1965.

A entrega foi realizada por servidores do Arquivo Público do DF, que celebra 40 anos de existência. Estiveram presentes o historiador e coordenador do Arquivo Permanente, Elias Manoel da Silva, a historiadora Cecília Soares Mombelli, o arquivista Arthur Luiz Albino da Silva e a bibliotecária Jocélia Martins de Oliveira. “Nesta manhã, o Arquivo Público, em comemoração aos 65 anos de Brasília e aos 40 anos da instituição, está doando à Fazendinha JK alguns documentos enquadrados sobre Lúcio Costa. É um momento privilegiado, pois agregamos ao espaço a memória daquele que criou a capital de todos os brasileiros”, afirmou Elias.

O secretário municipal de Turismo de Luziânia, Luciano Braz, ressaltou a importância da parceria: “A Fazendinha JK é um ponto turístico e cultural da nossa cidade. Tudo que enriquece nosso patrimônio histórico fortalece o turismo e o desenvolvimento regional. Luziânia tem história e muito mais para mostrar”.

Lúcio Costa, formado pela Escola Nacional de Belas Artes em 1924, começou sua trajetória como expoente do movimento neocolonial. Foto: Cintia Ferreira

Um encontro de legados

A doação simboliza a reunião, no mesmo espaço, de dois dos maiores nomes da construção de Brasília: Juscelino Kubitschek, o presidente visionário que decidiu erguer a capital no coração do país, e Lúcio Costa, o urbanista que venceu o concurso nacional para o projeto urbanístico da nova cidade, em 1957.

Lúcio Costa, formado pela Escola Nacional de Belas Artes em 1924, começou sua trajetória como expoente do movimento neocolonial, mas ganhou projeção internacional ao abraçar o modernismo arquitetônico e desenvolver o ousado desenho do Plano Piloto — inspirado na forma de um avião ou de uma cruz, com eixos que organizam a cidade de forma funcional e simbólica. Trabalhou lado a lado com Oscar Niemeyer, que concebeu os prédios icônicos da capital, como o Palácio da Alvorada, o Congresso Nacional e a Catedral.

Os documentos agora expostos na Fazendinha incluem registros de projetos como a Torre de TV e outras obras que marcam o centro de Brasília. Eles evidenciam a contribuição de Costa para o movimento moderno brasileiro e para a consolidação da arquitetura como expressão cultural do país, especialmente entre as décadas de 1930 e 1960.

A história da Fazendinha

A propriedade reúne diversas relíquias na última residência de JK, no Centro-Oeste. Foto: Cintia Ferreira.

A propriedade, que pertencia a JK, foi posteriormente adquirida pelo ex-deputado paranaense Lázaro Servo, admirador do ex-presidente. Hoje, pertence a Rosana e Antônio Henrique, filho de Lázaro. Juscelino utilizava o espaço como um “laboratório agrícola” para mostrar que o solo do cerrado podia ser fértil, cultivando diversas espécies, incluindo uma araucária que ainda resiste no local, mesmo sem produzir pinhões.

Com a chegada das relíquias de Lúcio Costa, a Fazendinha JK se consolida como um ponto de encontro da memória viva de Brasília — reunindo, sob o mesmo teto, histórias de quem sonhou, planejou e construiu a capital que mudou o mapa do Brasil.