Polícia desmonta rede milionária de cogumelos alucinógenos; alunos da UnB estão entre os presos

04 setembro 2025 às 16h39

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A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) revelou nesta quinta-feira (4) os bastidores de uma das maiores operações já realizadas contra o tráfico de drogas alucinógenas no país. Batizada de Operação Psicose, a ação desmantelou uma rede criminosa que movimentou mais de R$ 26 milhões com a produção e venda de cogumelos contendo psilocibina, substância psicotrópica proibida pela Anvisa. O que mais chama a atenção dos investigadores é o envolvimento de jovens universitários, entre eles dois alunos da Universidade de Brasília (UnB), que atuavam diretamente na distribuição do produto no DF.
De acordo com a PCDF, o grupo estruturou um esquema em escala industrial. O centro de produção ficava em Curitiba (PR), onde os cogumelos eram cultivados em larga escala, com capacidade estimada em 200 quilos por mês. Para dar aparência de legalidade, os líderes abriram empresas de fachada nos setores alimentícios em Santa Catarina e no Paraná, usadas para lavar dinheiro e ocultar a verdadeira atividade. Do ponto de vista logístico, a rede funcionava no modelo de dropshipping, em que os pedidos eram feitos em plataformas digitais e enviados diretamente por transportadoras e Correios, dificultando o rastreamento das remessas.
As investigações começaram após o monitoramento de perfis em redes sociais e sites que promoviam os chamados “cogumelos mágicos” como alternativa terapêutica contra ansiedade e depressão, sem respaldo científico. A propaganda era sofisticada: a rede mantinha um catálogo online com fotos em alta resolução, descrições detalhadas, diferentes opções de pagamento e até parcerias com DJs e influenciadores para divulgar os produtos em festas de música eletrônica. Segundo os investigadores, foram contabilizadas 3.718 encomendas, que somaram aproximadamente 1,5 tonelada da droga distribuída em todo o Brasil.
De acordo com as investigações, por meio da Coordenação de Repressão às Drogas (CORD), o esquema chamou a atenção pelo nível de profissionalismo. O principal cultivador faturava cerca de R$ 400 mil por mês, enquanto o responsável pela distribuição em Brasília lucrava em média R$ 35 mil. Em alguns períodos, a movimentação diária ultrapassava R$ 200 mil. Durante a operação, foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão e 9 prisões preventivas em estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Pará, Espírito Santo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. No Distrito Federal, dois estudantes da Universidade de Brasília foram presos, um em Taguatinga e o outro em Águas Claras. Cerca de 150 policiais participaram da ação, que contou ainda com apoio da Receita Federal e dos Correios no rastreamento de bens e remessas.
A psilocibina, princípio ativo dos cogumelos, provoca alterações sensoriais, distorções de tempo e espaço e experiências emocionais intensas, podendo gerar euforia ou crises de ansiedade e paranoia, as chamadas “bad trips”. No Brasil, a substância é listada como proibida desde 1998, mas o grupo explorava brechas na fiscalização para expandir a distribuição, principalmente entre jovens.
O crime
De acordo com a PCDF, os suspeitos devem responder por tráfico de drogas qualificado, lavagem de dinheiro, organização criminosa, crimes ambientais, contra a saúde pública, publicidade enganosa e curandeirismo. As penas podem ultrapassar 50 anos de prisão. A Justiça já autorizou o bloqueio de mais de R$ 250 milhões em ativos, incluindo contas bancárias, veículos de luxo e empresas ligadas ao esquema.
Em nota, os advogados que representam os dois estudantes da UnB negaram que eles tivessem papel de liderança no grupo e afirmaram que ambos têm bons antecedentes e nunca haviam respondido a processos criminais. A defesa disse confiar no devido processo legal e pediu solidariedade às famílias.
“Os acusados jamais orquestraram qualquer esquema ilícito, muito menos na magnitude que vem sendo veiculada em determinados meios de comunicação.
Todas as narrativas apresentadas serão devidamente analisadas e esclarecidas no âmbito processual, com absoluto respeito às garantias constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa.
Em momento oportuno, os senhores Lucas Fernandes e Igor Tavares se pronunciaram diretamente, prestando os devidos esclarecimentos. Até lá, esta banca defensiva permanece à disposição para fornecer informações quanto aos fatos, sempre em busca da verdade e da correta aplicação da Justiça“.