Ynaê Siqueira Curado, pré-candidata à Prefeitura de Pirenópolis, apresenta propostas para a cidade

25 março 2024 às 13h38

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A vereadora Ynaê Siqueira Curado (UB), de 24 anos, anunciou que vai disputar a Prefeitura de Pirenópolis. O nome dela foi confirmado pelo governador Ronaldo Caiado (UB) na última segunda-feira, 11, durante evento do União Brasil em Goiânia. Ao Jornal Opção, ela contou como está a articulação política e quais nomes devem caminhar junto com o partido nas eleições de 2024.
Além disso, Ynaê abordou quais são os principais problemas enfrentados pelo município hoje e discutiu propostas para solucioná-los. Confira abaixo a entrevista completa.
Aline Bouhid: Em quase 300 anos de cidade e 200 anos de legislativo, você foi uma das poucas vereadoras mulheres eleitas na cidade de Pirenópolis em todos esses anos. Conta um pouquinho pra gente da sua história.
Acho que a primeira coisa que vocês precisam saber é que eu não tenho referência política familiar, eu não venho de uma família política. A minha família, na verdade, nunca se envolveu com política na cidade, eu sou a primeira. O meu interesse pela política, já falei isso em algumas outras vezes, mas eu conheci dentro da escola, que a gente foi fazer uma visita na Câmara, e aí a partir desse momento eu me apaixonei pela política e comecei a estudar sobre. A primeira coisa que eu fiz foi me apaixonar pela teoria política, que é a parte mais bonita, hoje na prática a gente vê que não é tão lindo quanto na teoria. E daí eu comecei a me preparar para isso, preparar de verdade, a estudar a realidade da cidade, a estudar sobre política e me candidatei em 2020. Então foi assim que começou a minha história na política.
Aline Bouhid: E você mora em Pirenópolis?
Moro, sou de família pirenopolina, inclusive de família inclusive tradicional na cidade.
Aline Bouhid: Em 2020 foi a sua primeira experiência política como vereadora. Conta um pouquinho pra gente como é que foi essa experiência.
Bom, primeiro era um desafio, porque ninguém acreditou que uma menina, como eles chamam, de 21 anos, iria se eleger ainda mais de primeira. Eu fui a mais votada do meu partido, que na época era o Democratas, e me elegi. Na campanha, todo mundo queria uma mulher no partido. Então, durante esse período de pré-campanha que nós estamos hoje lá atrás, Nossa, que maravilha, né? A gente precisa de uma mulher, a Ynaê vai ter uma porcentagem de voto, tem família grande, era o que eles pensavam. Quando eu ganhei foi tipo assim: ‘poxa, cara, não era pra você ter ganhado’. Tanto é que nos últimos 15 dias do processo eleitoral, que é quando a gente já começa a ter uma noção maior de quem vai ser eleito ou não, começou uma campanha de pessoas que estariam no meu grupo político, assim: ‘vota em qualquer um, menos na Ynaê’.
Giovanna Campos: Você é uma das poucas vereadoras da oposição, certo?
Fiquei durante dois anos e meio sendo a única oposição à prefeitura. Aí depois veio o Floriano e hoje a gente tá quatro na oposição. Mas trabalhei dois anos, quase três anos, sendo a única oposição. Não foi uma tarefa fácil, mas eu falo assim, não era simplesmente uma oposição política, era uma oposição apenas do que era muito, que é muito, até hoje que eu considerava errado, que eu considerava que tava prejudicando a população. Eu sempre mantive essa linha de separar o pessoal do político, eu nunca deixei que entrassem, tanto é que a minha linha de atuação, embora a oposição, eu até brinco, eu levei uma política muito elegante, que eu não desci em baixaria, coisas que a gente vê acontecendo em outros lugares.
Aline Bouhid: A sua oposição era na questão do plano diretor?
Não só, o plano diretor acho que foi o que pegou a maior repercussão, mas lá em Pirenópolis a gente teve inúmeros embates. Meu primeiro embate com a gestão pública, e eu vou contar essa história porque às vezes as pessoas acham que a briga política minha e do atual prefeito, foi por outro motivo, mas o motivo foi único e exclusivamente a Secretaria de Agricultura e os 40 cargos de assessoria. Chegou a estrutura orgânica, estrutura organizacional, na verdade, do município, que a gente tem que votar. E nessa estrutura orgânica, ele acabava com a autonomia da Secretaria de Agricultura, incluindo ela dentro da Secretaria de Infraestrutura e Trânsito.
E eu venho de federação, então eu tinha plena consciência de que a gente precisa de uma Secretaria de Agricultura autônoma para conseguir buscar os programas. E nesse mesmo projeto criava-se 40 novos cargos de assessores de livre nomeação e livre exoneração. E o impacto financeiro disso é muito alto. Isso ele criou a mais, porque a gente já tem uma folha enorme. Então, como eu acreditei que ele tinha uma boa relação, eu fui pra casa, o projeto chegou, eu fiz uma relação do impacto financeiro disso ao longo dos quatro anos e pedi uma reunião com ele. Eu cheguei lá no gabinete e, de verdade, ele estava prestando atenção e eu achei que ele ia voltar atrás e dizer que foi um erro da assessoria.
Porque a cidade estava, até hoje está, mas estava esburacada, a gente ainda estava na pandemia, tinha uma, tinha tantas outras prioridades a não ser essa e também a questão da agricultura que eu sabia que os produtores, em consequência, 10 povoados ficariam descantando. Fui lá, conversei com ele, Aí ele me elogiou, falou assim, olha, parabéns, você fez um bom trabalho, isso é surpreendente pra sua idade, mas a questão é a seguinte, eu preciso que o projeto seja aprovado desse jeito, eu preciso desses cargos. Não teve outra conversa. Aí eu saí de dentro do gabinete, que na época ele tava atendendo uma casa, porque ele se recusava a ir pra dentro da prefeitura, só foi pra dentro da prefeitura depois que ele gastou mais de 100 mil reais pra reformar o gabinete, determinada a rejeitar esse projeto.
Na época, eu consegui com que outros três vereadores votassem comigo, mas aí foi aprovado na maioria. E tudo que eu temia aconteceu. A cidade, a zona rural está largada por falta de uma secretaria especializada para atender a demanda e os cargos e hoje ele utiliza para prender famílias e angariar eleitores, na pressão mesmo. Então a nossa diferença política nasceu a partir daí. Aí ele resolveu me perseguir, começou a vetar projeto meu em represália ao que eu tinha feito. Porque eu botei carro de som na rua, levei os produtores pra dentro da câmara, expus mesmo a situação. Aí ele vetou dois projetos meus na época, conseguia derrubar os vetos dele, mesmo a Câmara sendo dele, levando o povo.
Aí depois ele decidiu comprar uma caminhonete, numa licitação de 400 mil reais, de uso exclusivo do gabinete. E sem falar que o Edital tinha uma ilegalidade. Ele tinha um direcionamento da caminhonete que ele pretendia comprar. O que é vedado pela lei de licitações. Então a gente conseguiu paralisar essa licitação junto ao Tribunal de Contas do município. E daí em diante foi só ladeira abaixo, era um passo que eu dava, ia atrás pra desconstruir e pra ele virou algo pessoal, mas eu nunca entrei nisso porque eu achava feio, pra falar a verdade, tipo assim, mas poxa, o foco é a cidade. E daí se a gente for citar, teve inúmeros outros exemplos, porque sempre a gente parava na mesma situação, ele colocava uma intenção particular acima do benefício.
Eu acho que não é assim, sabe? A política pública é pra população, não é pro gestor. Eu sempre lembro daquela história que eu estudava em Ciência Política, o tal do patrimonialismo. Ele tá tratando o bem público como privado. E aí é o que eu fico enxergando lá dentro de Pirenópolis e inúmeras vezes bati com isso lá na Câmara. Gente, tem que mudar. O princípio tá errado. O fator gerador de movimentação aí tá torto.
Aline Bouhid: Eu queria que você voltasse um pouco na questão da Secretaria de Agricultura. Como é que foi exatamente isso? Queria que você contasse em detalhes porquê a Secretaria é importante para essa população dos agricultores. E, isso aconteceu em que ano?
Em todo novo mandato, em toda nova gestão, obrigatoriamente a prefeitura tem que propor esse projeto da estrutura organizacional, que vão ser a secretaria, os cargos e salários. E a gente tinha uma secretaria de agricultura no passado, uma diretoria muito forte de agricultura, que conseguiu alguns programas. E o pessoal estava muito feliz com a continuidade.
Por exemplo, tem máquinas que para gente acessar do governo estadual, por exemplo, através da Seapa, a gente tem que ter a Secretaria de Agricultura para poder conseguir esse maquinário. Então, eu tinha plena ciência disso, em relação à produção da agricultura de Pirenópolis. O pessoal acha que Pirenópolis não produz, mas produz muito. Pra você ver, a gente produz, isso é uma opção dados anual, 40 toneladas de arroz, mais de 14 mil toneladas de banana, 600 toneladas de borracha, 960 de laranja, e 40 de mandioca, eu posso mandar isso para vocês também se quiserem, são dados da FAEG e tudo. A gente tem milho, soja, tangerina, tomate, uva.
Em questão de bovino, quase 200 mil cabeças de gado na cidade. Quase 4 mil equinos. A gente tem mais de 5 mil suínos. Tem questão também de produção de granja lá na cidade. Temos quase 20 mil vacas de ordenha, que é produção leiteira. Então, assim, não dá pra mim fingir que essa parte da cidade não existe. O turismo realmente hoje é a nossa maior fonte de renda.
Eu venho do turismo, venho da iniciativa privada, mas eu tenho pai produtor rural. Então eu conheço os dois lados da história. Eu cresci no meio disso e venho também da FAEG. Então eu conheço com propriedade toda essa realidade e na hora que eu vi aquilo, eu sabia que seria prejudicial. Porque se eu tenho uma secretaria que vai cuidar da infraestrutura da cidade, do trânsito, e vai estar lá com a agricultura também, pode ser o melhor secretário do mundo que um vai ficar descanteio. E aconteceu o que a gente temia, a agricultura ficou descanteia. E eu expliquei tudo isso pra ele na época, mas ele preferiu assim. Como ele tem a maior base na Câmara, então o projeto foi aprovado.
Aline Bouhid: São quantas mulheres hoje na Câmara?
Duas, eu e a vereadora Lôla. A gente vai completar 194 anos de poder legislativo. Um dos poderes legislativos mais antigos do estado. Então a gente vê que realmente é um número muito pequeno. Eu sou a quarta mulher eleita em quase 200 anos. E as outras se elegeram muito recente também. Uma delas nunca mais quis mexer com política por tudo que ela passou dentro da Câmara.
Aline Bouhid: Ynaê, e agora você está saindo como pré-candidata para poder bater de frente com essas questões. Como você avalia a cidade hoje?
Bom, a cidade está largada, está suja, a infraestrutura de Pirenópolis eu brinco que parou na década de 80, depois a gente não teve melhora significativa. Ou manteve o que fizeram ou acabou, muitas coisas acabaram. Então, Piranópolis está gritando por gestão, por planejamento. A gente, você consegue ver a falha do planejamento da gestão pública a partir do momento que ele não consegue nem sequer cumprir o orçamento. A quantidade de suplementação e de dotações que ele vai modificando ao decorrer do ano, você percebe assim, cara, na hora que eles fizeram esse projeto aqui, eles simplesmente jogaram pra cumprir a lei, mas não planejaram nada. E isso tá notável pra todo mundo na cidade. Até pra quem gosta, fala que realmente tá faltando uma coisinha ali.
A gente tem oito anos dele prefeito, quatro dele vice-prefeito, mais quatro anos agora. São 16 anos das mesmas pessoas, das mesmas caras, do mesmo jeito de fazer política, que já provou que deu errado. Se não, Pirenópolis não estaria passando o que passou. A cidade não tem problema financeiro e tem uma visibilidade enorme. Então, qual que é o problema da cidade? Gestão. E aí, assim, através de muito discurso, muita caminhada, a gente conseguiu mostrar isso pra população. Tanto é que a minha pré-candidatura prefeita, ela foi lançada primeiro pelo povo. Quando começou a aclamar aquela situação, daí a gente foi analisar. Existe viabilidade? Existe. A gente está indo pra uma eleição real.
Aí eu encarei isso, porque fácil também não é não. Não é um mar de rosas. Eu sei o que eu passo todos os dias lá dentro de Pirenópolis. Agradeço ao governo de Goiás, ao Caiado, porque ele me deu autonomia e proteção política também, porque se eu não tivesse ele, eu não tenho dúvida que já teriam me tirado de cena.
Giovanna Campos: Você chegou a solicitar um mandado de segurança, né?
Em 2022, entrei com o mandato de segurança em relação ao plano diretor, para pedir para a justiça: “Olha, não me obrigue a votar algo que eu sei que está errado, que feriu o processo legislativo, porque eles contrariaram o estatuto da cidade ao não realizar as audiências públicas na Câmara”. Fora a série de vícios que a gente já tinha ciência, que nasceu lá no executivo. Mas foi a última opção, que eu só entrei na justiça mesmo quando não tinha outra alternativa.
E eu tenho todos os ofícios protocolados, as atas, mostrando que, olha, eu tentei de verdade, eu só entrei na justiça porque não restou outra alternativa. E isso aí eu carrego tranquilo, se eu cheguei a brigar lá em Pirenópolis é porque antes eu tinha tentado tudo, de verdade. Às vezes eu ia discutir, assim, “Ah, nem sério que eu vou ter que discutir de novo?” Porque é desgastante, mas assim, eu não ia deixar de fazer sabendo que estava errado.
Barbara Noleto: Eu queria te perguntar sobre a questão dos recursos federais que voltaram de Pirenópolis por falta de execução.
Bom, os dois exemplos mais recentes que a gente tem são o caso do Aldir Blanc, em que a prefeitura não conseguiu fazer o edital e utilizar os recursos disponíveis. Além disso, teve mais de 2 milhões que foram devolvidos, os quais eram destinados para a reforma de quadras na cidade. Em relação aos recursos federais, houve o caso da devolução dos fundos destinados à reforma das quadras, além dos programas do governo estadual que o município não adotou, pois não assinou os convênios.
Então, assim, todos, a prefeitura não pegou nenhum programa, porque não quis pegar. Batia na porta e voltava. Então, qual é a lógica? Prejudicar o povo por quê? Aí ele pega e fala assim, ah, eu tô fazendo o meu máximo. Tá fazendo seu máximo mesmo? Uma assinatura é difícil. Você dá no convênio um programa que foi feito em 246 municípios, todos os municípios pegaram e em Pirenópolis não?
Eu estava com o presidente da Goinfra esses dias discutindo alguns assuntos que precisam ser resolvidos em Pirenópolis. Aí ele tem lá na sala dele um mapa do estado. E o alfinete está em todas as cidades que pegaram o programa. O único vazio lá é Pirenópolis. É vergonhoso. Perguntei por que Pirenópolis não pegou esse convênio e ele disse porque a gente mandou e não assinou convênio. A gente está com uma questão de regularização fundiária também de uma área do Estado. O Estado tenta passar a área para o município e o processo está parado há um ano porque o município não movimenta, não dá retorno.
Aline Bouhid: Esse programa da Goinfra era qual?
Era o do recapeamento dos municípios: Goiás em Movimento. É um programa que o governador fez pra fazer recapeamento nos municípios. E também a Patrulha Mecânica Rural.
Aline Bouhid: Quais seriam os maiores problemas enfrentados pela cidade hoje?
A gente tem relato aqui de escola que pediu para a mãe não levar o aluno porque não tem professor. Escolas pediram para a mãe não levar o aluno porque não tinha professora de apoio. São vários problemas e de todas as ordens, mas de certa forma eu me tranquilizo porque são todos os problemas possíveis de serem resolvidos, porque eu também analisei muito antes de lançar essa minha candidatura. Os problemas de Pirenópolis não são problemas de longo prazo, então, a maior parte deles a gente resolve em curto ou médio prazo. Realmente dá para organizar.
Giovanna Campos: E os empreendimentos irregulares que tomaram conta do município. Foi aprovado um plano de manejo agora, certo? O que muda?
O prefeito já liberou, inclusive tem processo no Ministério Público, um condomínio em confronto ao plano diretor vigente, ele liberou no condomínio Maracujá. Ele liberou via decreto, em desconformidade com o plano diretor vigente. Eu fiquei muito feliz com o plano de manejo da APA e do Parque dos Pirineus, porque agora a gente tem uma proteção a nível de Estado para essa área. E a portaria da SEMAD também foi muito boa porque ela não prejudica, por exemplo, quem já está, quem começou o turismo em Pirenópolis e inibe essa questão desses novos empreendimentos que querem vir para a cidade sem ela ter a menor capacidade de receber. Vocês provavelmente devem ser turistas de Pirenópolis. Vocês já foram pra lá em feriado? Você vê como o trânsito fica.
Hoje a gente tem vivido esse trânsito de quarta a domingo. A gente só tem uma tranquilidade na cidade de conseguir se movimentar com facilidade segunda e terça. Então assim, a gente tem problemas sérios. Aí ele fica liberando essas coisas. Não tem lógica. Não é que a gente seja contra o empreendimento quanto é o empreendedor que vai levar o empreendimento. O que a gente tá cobrando é planejamento. É garantir condições de que a cidade vai viver bem, que não vai quebrar, e que aí o empreendimento também, a pessoa tem que ter o direito de empreender se quiser, mas dentro de limites proporcionais.
E o que a gente conseguiu garantir no plano de manejo da APA que eu fiquei muito feliz, foi garantir o direito de propriedade da pessoa, função social, que pra mim é algo muito importante, aliada à preservação, aliada à preservação do meio ambiente, que a gente vai conseguir garantir qualidade de vida. E é isso que eu cobrava também do Plano Diretor. Se eu tenho 10 povoados sem regularização, eu tenho uma série de aglomerados que surgiram e não teve regularização fundiária, arruma a casa primeiro, depois você pensa em expansão. A gente já tem problema de água lá, a gente já tem problema de energia, a gente já tem problema de esgoto, a gente já tem problema de coleta de lixo.
Giovanna Campos: Há um problema de contaminação dos rios também, né?
Lógico. Se menos de 40% do esgoto da cidade é coletado, para onde está indo o resto? Eles arrumaram uns contêineres agora, através de um programa do governo federal, que era da gestão passada. E aí eles não fazem a coleta desse lixo, não. Aí fica montanha em vários pontos da cidade. Todos os dias eu falo assim, gente Deus abençoe realmente eu consiga ganhar essa eleição com o apoio do povo, a primeira coisa que eu quero fazer é limpar a cidade. Sabe assim, sabe aquela vontade de pegar água e sabão e limpar de verdade? Porque eu desço da minha casa todos os dias, eu passo numa esquina lá do Bairro do Carmo, onde tem um desses, aí eu tenho que subir o vidro toda vez, porque senão eu chego fedendo no trabalho.
Aline Bouhid: Um dos problemas que a gente apontou em uma das reportagens foi a ausência de fiscal de posturas para essas pessoas. Se eleita, o que pretende fazer em relação a isso?
Tem que fazer concurso. Primeiro, porque é a lei, a gente tem que cumprir. E a gente tem o fiscal que está hoje lá e está quase para aposentar já e realmente não dá conta, não adianta você querer cobrar que o servidor faça o trabalho que muitos deveriam fazer, né? Então isso já é um compromisso que eu posso estar, tipo, até firmando. Porque é o que a lei manda fazer e é o que a gente precisa. E a gente tem uma série também de situações de perturbação de sossego que às vezes não consegue efetivar por conta da falta de fiscal. É somente um fiscal e a Prefeitura joga tudo pra cima da polícia militar. Não é função de polícia resolver isso.
Barbara Noleto: O seu gabinete foi invadido por um stalker, eu queria falar sobre isso porque são 300 mulheres por mês em Goiás. Como foi essa situação? O que que isso ainda impacta na sua vida?
Impactar, graças a Deus até que não, porque já passou. Agradeço a polícia militar e a polícia civil. O Estado, realmente, pela movimentação rápida, foi extraordinário o tempo que eu falo Estado como um todo, porque a justiça, a polícia, tudo atendeu. Mas qual foi o principal motivo que me levou a denunciar a situação? Hoje eu sou uma mulher pública e represento vozes de tantas outras. Se eu ficasse calada, imagina que tá em casa passando por inúmeras situações. Às vezes tem alguém que percebe que é o meu caso, eu não conheço a pessoa. Ele me viu no jornal, ele viu eu parar lá em Pirenópolis atrás de mim.
Eu denunciei realmente nesse sentido. E eu também tinha muita preocupação com a minha família, no sentido de eu não sabia se era uma pessoa agressiva ou o que que era de fato ou se só queria atenção, só queria, sei lá, chamar atenção ou se ele teria coragem de fazer alguma coisa, né? Então, na via das dúvidas, eu tomei essas opções. E o engraçado é que quando eu desci pra delegacia no caminho eu só pensava assim, nossa, eu tenho que proteger a minha família, foi a primeira coisa que eu pensei, porque eu não tinha medo do que faria comigo, porque na minha cabeça eu consigo me proteger, eu tenho medo de fazer algo com meus irmãos e com minhas sobrinhas.
E o outro fator gerador foi justamente esse. Eu, enquanto pessoa pública, eu tenho que dar confiança. Olha, denuncia. O Estado tá aqui pra dar a mão, pra poder ajudar. Eu sei que acontece com muita gente e muitos casos ficam anônimos, então fico feliz de ter dado condições para que outras pessoas que às vezes ficariam com vergonha de relatar uma situação desse, para que elas pudessem denunciar. Porque tem muitos casos que não para só na perseguição, igual aconteceu comigo. Tem casos que pode levar até a óbito, dependendo da situação.
(Giovanna Campos, Aline Bouhid e Barbara Noleto)