Na rua, sem segurança, pacientes de Valparaíso esperam na madrugada por van para Goiânia

17 setembro 2025 às 13h36

COMPARTILHAR
Todos os dias, moradores de Valparaíso de Goiás que necessitam de tratamentos de saúde especializados enfrentam a madrugada à espera de transporte para Goiânia. Por volta das 2h30 da manhã desta terça-feira (16), cerca de dez pacientes foram vistos em frente à Secretaria Municipal de Saúde, no bairro Parque Rio Branco, aguardando uma van da prefeitura. Eles permaneciam no local sem qualquer estrutura de apoio – sem segurança, assentos ou abrigo – até o veículo chegar para levá-los à capital do estado.
Esses pacientes, entre eles idosos, pessoas com deficiência, crianças e pacientes oncológicos, dependem do transporte gratuito oferecido pelo município para conseguir tratamento em Goiânia. A capital, que fica a aproximadamente 190 km de distância (cerca de 2h30 de viagem), conta com hospitais de referência em oncologia, urologia e hemodiálise, serviços não disponíveis em Valparaíso com a mesma complexidade. Por isso, muitos precisam se deslocar semanalmente ou até diariamente para continuar seus cuidados de saúde.

A equipe do Jornal Opção Entorno acompanhou de perto a realidade desses pacientes nesta semana. Ao chegar ao local, por volta das 01h50 da madrugada, encontrou uma idosa de 74 anos sozinha na rua, vulnerável, aguardando o transporte diante da Secretaria Municipal de Saúde de Valparaíso. O prédio, entretanto, estava fechado, sem qualquer espaço para abrigar os passageiros. Durante a permanência da reportagem no local, uma viatura da Polícia Militar passou pela via principal do bairro, sem que houvesse qualquer efetivo destinado à segurança das pessoas que aguardavam.
“As autoridades não estão pensando na dignidade humana. Se tá chuva, se tá frio, a gente fica aqui no meio da rua. É perigoso”, desabafou uma paciente que faz tratamento oncológico em Goiânia.
Fechamento do CAIS agravou o problema
Atualmente, três pontos de embarque servem aos usuários do transporte: em frente à Secretaria de Saúde (Parque Rio Branco), na UPA do bairro Marajó (Unidade de Pronto Atendimento) e no Hospital Municipal no Jardim Céu Azul. Antes, o principal local de encontro era o antigo CAIS (Centro de Atendimento Integrado à Saúde), em Valparaíso II, mas a unidade foi fechada recentemente. Com isso, os pacientes foram obrigados a se concentrar na Secretaria de Saúde, enfrentando condições precárias.
“Eu já passei por quimioterapia, cirurgia, radioterapia, e ainda tenho que ficar aqui nesse breu de madrugada esperando uma van”, relatou outra paciente, que realiza acompanhamento periódico no Hospital Araújo Jorge.
Transporte essencial, mas espera desumana
Pouco antes das 3h da manhã, a van da prefeitura finalmente passou para recolher os pacientes no Parque Rio Branco, seguindo depois para os outros pontos de embarque na cidade. O transporte sai de Valparaíso nesse horário para garantir que todos cheguem a tempo de suas consultas e sessões de tratamento em Goiânia, em hospitais como o Crer, o HGG (Hospital Estadual Alberto Rassi) e o Araújo Jorge.
Apesar da importância do serviço, as condições em que os pacientes aguardam preocupam familiares e usuários. Eles reivindicam o mínimo de estrutura – um local coberto, assentos adequados e presença de segurança – para que pessoas já debilitadas pela doença não fiquem tão expostas.
“Fecharam o CAIS e jogaram a gente aqui na frente da secretaria, sem segurança, sem banheiro, sem banco pra sentar. Isso é desumano”, afirmou uma idosa em tratamento no HGG.
Até o momento, não há sinal de melhorias no ponto improvisado. A cena de pacientes vulneráveis aguardando no escuro da madrugada continua evidenciando um problema que pede solução urgente, em nome da dignidade e segurança de quem já enfrenta uma difícil batalha pela saúde.
A Prefeitura de Valparaíso de Goiás foi procurada, porém, não respondeu os nossos questionamentos.
Leia também: