*Por Ane Caroline

O Sindicato dos Enfermeiros (SindEnfermeiro-DF) está denunciando a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) pela desassistência que atinge a Atenção Primária à Saúde em todo o DF, principalmente na Unidade Básica de Saúde (UBS) 3 de Planaltina. Os cerca de 8 mil moradores da região estão há mais de 6 meses sem médico, com a equipe reduzida ao mínimo e uma estrutura física precária. 

A UBS 3 está funcionando atualmente com duas enfermeiras, um agente comunitário de saúde e um técnico de enfermagem. A falta de médicos acaba comprometendo as consultas, os encaminhamentos e o acompanhamento de pacientes crónicos, resultando na alteração dos quadros clínicos de hipertensos e diabéticos, além de prejudicar os pré-natais. A quantidade de profissionais atuando na unidade é muito abaixo do necessário para garantir uma assistência mínima para a população. 

De acordo com o presidente do SindEnfermeiro-DF, Jorge Henrique, o déficit de profissionais é generalizado e significativo. “As equipes se desdobram para atender demandas espontâneas, emergências, ações coletivas e todo o acompanhamento programado do território, o que gera sobrecarga física e mental intensa”, afirma. 

Para a autônoma Maria Luiza Lima, a falta de profissionais na Unidade Básica de Saúde já ultrapassa os 6 meses. Ela afirma que há quase um ano procurou o local para vacinar o filho de 9 meses e que só havia uma enfermeira para realizar os atendimentos. Ainda foi informada que não existia previsão de quando teria um médico para as consultas. “A gente se mudou de setor e o nosso filho perdeu algumas consultas de rotina e deram um chá de cadeira na gente. Quando a gente foi tentar marcar um mês depois, era sempre essa história de que não tinha médico”, relata. 

A estrutura física do local também faz parte da denúncia. A UBS 3 está operando em um espaço cedido por uma escola de saúde, sem repasse financeiro, sem reformas e sem clareza sobre a responsabilidade de manutenção. A sala de vacina da unidade está fechada por falta de técnico de enfermagem e por falha no ar-condicionado. Além  disso, a tenda que é utilizada como área de espera pelos pacientes está destruída e fica alagada sempre que  chove, colocando os usuários em risco. 

Os problemas nas Unidades de Saúde se agravaram após o processo de terceirização das Unidades de Pronto Atendimento (UPA). “As UPAs passam a ter dificuldade no atendimento das urgências, e as UBS viram retaguarda desses serviços. Hoje a Atenção Primária recebe até pacientes graves que deveriam ser atendidos na atenção secundária ou hospitalar. Os profissionais não podem recusar o atendimento e acabam sobrecarregados”, aponta Jorge Henrique. 

Com o atendimento sobrecarregado, a violência contra os trabalhadores também aumentou, com registros de agressões físicas e verbais em várias regiões do DF. 

Em nota, a Secretaria de Saúde afirma que a Unidade Básica de Saúde de Planaltina conta sim com uma equipe de Saúde da Família  e que sempre que há necessidade, médicos de outras unidades auxiliam a equipe complementando os atendimentos. A SES-DF chega a reconhecer os desafios enfrentados para o fornecimento de profissionais de saúde, mas alega que é uma realidade que afeta tanto o Sistema Único de Saúde (SUS) quanto o setor privado. Por fim, a pasta diz que a recomposição das equipes está entre as prioridades da gestão, mas que também depende da disponibilidade orçamentária para novas contratações.