Medo constante acompanha motoristas de aplicativo no Entorno e DF
28 outubro 2025 às 18h16

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A insegurança tem sido parte da rotina de motoristas de aplicativo no Distrito Federal e Entorno. Muitos relatam receio ao aceitar viagens, principalmente durante a madrugada, porque não sabem quem estão transportando. Para quem depende dessa atividade como renda principal ou extra, o medo de não voltar para casa passou a ser uma preocupação constante.
De acordo com dados do módulo Trabalho por meio de plataformas digitais 2024, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE, o país possui cerca de 871 mil motoristas, somando taxistas e condutores de aplicativo. Entre eles, 86,1% trabalham por conta própria, enquanto apenas 6,1% são empregadores. A informalidade atinge 71,1% desses profissionais, número superior aos 43,8% registrados entre trabalhadores fora das plataformas.
O caso de violência mais recente ocorreu na madrugada de segunda-feira, quando Elias Alves, de 37 anos, que há seis anos conciliava as corridas de aplicativo com o trabalho como mestre de obras, foi esfaqueado após aceitar uma viagem entre Águas Lindas (GO) e Recanto das Emas (DF). Durante o trajeto, o passageiro atacou o motorista com golpes de faca no pescoço. Mesmo ferido, Elias tentou dirigir até o hospital, mas perdeu o controle do veículo e colidiu contra um poste. Ele permanece internado em estado grave.
O suspeito, Gerlielson de Jesus, se entregou à polícia e relatou, em depoimento, que acreditou estar sendo assaltado quando o motorista fez um desvio na rota. Ele havia saído de uma confraternização com a família e tinha ingerido bebida alcoólica. Após o ataque, fugiu para uma área de mata e telefonou para o irmão, que o buscou enquanto ainda estava com a roupa ensanguentada. Na segunda-feira, apresentou-se à 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Norte) acompanhado de um advogado e teve a prisão preventiva decretada.
A preocupação entre motoristas já era tema de alerta. No dia 13 deste mês, o policial penal Henrique André Venturini, de 45 anos, foi assassinado na QS 08 do Riacho Fundo II enquanto trabalhava como motorista de aplicativo para complementar a renda. Henrique costumava dirigir armado por receio de ser reconhecido. Ele foi esfaqueado no abdômen e morreu dentro do carro, que colidiu contra um muro. O Corpo de Bombeiros Militar do DF foi acionado, mas o óbito foi confirmado no local.
Para quem vive da profissão, o sentimento é de vulnerabilidade. Um motorista do Entorno, que preferiu não se identificar, resumiu: “A gente sai de casa para trabalhar, mas nunca sabe como vai ser a volta. Cada corrida é uma surpresa. Às vezes, a gente tenta analisar o passageiro quando ele entra no carro, mas não tem como saber a intenção da pessoa. Tem dia que eu fico pensando se vale a pena continuar, mas é o trabalho que eu tenho no momento. A gente continua porque precisa, porque tem conta para pagar e família para sustentar, mas o medo está sempre sentado no banco de trás. A gente trabalha rezando para chegar vivo no fim do dia.”
