Falta de chuva na região do Entorno e no DF pode provocar sérios danos climáticos
01 outubro 2024 às 16h41
COMPARTILHAR
A região do Entorno do Distrito Federal tem vivido um dos maiores períodos de estiagem da história. Já são cinco meses sem chuvas e as altas temperaturas elevam consideravelmente o consumo de água.
Segundo a Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago), os sistemas de abastecimento ainda operam dentro da normalidade nos 223 municípios onde ela atua. Contudo, em Caldas Novas, por exemplo, o volume de água do Lago Corumbá I atingiu apenas 26,5% da sua capacidade, um número bem abaixo do esperado.
Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) apontam que esse é o nono maior período sem chuvas já registrado desde que as medições começaram a ser realizadas, em 1961. “Nós estamos enfrentando o maior período de estiagem dos últimos 44 anos e os nossos mananciais estão com as suas vazões reduzidas. A falta de chuvas e os recordes de temperatura favorecem o aumento no consumo de água”, afirmou Camila Roncato, superintendente de Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Saneago.
Diante da seca prolongada, a Saneago tem feito investimentos para melhorias dos sistemas de abastecimento, além de ações operacionais, como perfuração de poços e interligação de sistemas. A companhia também emitiu um alerta à população para um consumo mais consciente. “Precisamos que todos usem a água somente para o que for necessário em casa e, sempre que for possível, reaproveite a água para outros fins, como molhar as plantas”, reforçou a superintendente.
Monitoramento diário via satélite
O nível de água dos reservatórios é monitorado diariamente via satélite pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa). O reservatório do Descoberto, que abastece a região do Entorno do Distrito Federal, apresentava, em 31 de agosto de 2024, um volume útil total (V.U.) de 81,9%, apresentando uma redução de 8,8% em comparação ao mês anterior.
“A redução do volume de água nos reservatórios é reflexo do atual cenário de estiagem, em razão do déficit de chuvas vivenciado no Brasil. Espera-se que com o término da estiagem e o retorno das chuvas, os reservatórios possam ser reabastecidos em sua plenitude”, frisou Alberonaldo Alves, superintendente de Recursos Hídricos da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).
A seca prolongada também trouxe danos para o Lago Corumbá I, que abrange uma área de aproximadamente 65 km², em Caldas Novas. Na última semana, ele chegou a 26,5% de volume útil de água, um número bem abaixo do esperado. Segundo informações da Prefeitura de Caldas Novas, o Lago Corumbá I foi construído para abastecer a usina hidrelétrica de Corumbá 1. Apesar do baixo volume, a usina opera normalmente e em segurança, com uma geração média de 80 megawatt. “Os dados sobre os recursos hídricos de Goiás podem ser acessados por todos de maneira simples e transparente por meio do SirhGO, plataforma que reúne informações sobre os recursos hídricos do estado”, ressaltou o superintendente da Semad.
Mudanças climáticas e a segurança hídrica
As mudanças climáticas, hoje, representam uma das maiores ameaças ambientais do planeta, e têm um grande impacto na segurança hídrica. De acordo com o diretor-executivo do Instituto Cerrados, o geógrafo Yuri Salmona, alguns fenômenos estão interagindo entre si e, no caso do Cerrado, gera um período de seca mais longo e mais intenso.
“O Cerrado é o bioma mais ameaçado do Brasil, com 56% da sua área desmatada. Os fenômenos climáticos e as mudanças do uso do solo se somam para reduzir a quantidade de água dos rios. Portanto, temos um bioma com menos disponibilidade de água nos períodos secos, em especial, aumentando o número de queimadas”, explicou Yuri.
Ele também faz um alerta importante sobre a falta de precipitações e o abastecimento: “Parte do Cerrado tem tido uma diminuição de chuva, estamos tendo um atraso de 36 a 56 dias do período chuvoso. Essa água que antes caía de setembro até abril, hoje cai em outubro. E isso faz com que a água da chuva, em vez de infiltrar no solo para depois ficar disponível nos rios, escorra superficialmente, porque o solo já está saturado”, alertou Salmona.
Para o geógrafo, a ação humana é uma das principais causas dessa instabilidade climática. “O desmatamento é a principal fonte de emissões de gases do efeito estufa no Brasil. Então, a gente precisa de uma série de políticas públicas que contenham o desmatamento de uma maneira muito severa, porque o prejuízo é diluído por toda a sociedade”, concluiu.