Maria Inês percorre quase 50 km para levar a mãe no tratamento contra a diabetes, em Goiânia. Saindo de Inhumas, pelo menos 4 vezes por ano, ela e Eva Conceição vão ao Centro Estadual de Atenção ao Diabetes (Cead) para o acompanhamento. Lá, além do cuidado, ela recebe as orientações e participa de atividades em grupo, entre elas o acompanhamento com fisioterapeuta, podólogo, nutricionista e apoio psicológico.

Em tratamento no Cead desde 2020, Eva perdeu o dedo mindinho do pé esquerdo após um acidente com um gato. A filha conta que depois da mordida o dedo não sarava e após a necrose do local da ferida, o dedo precisou ser amputado. “Agora, como está controlado, ela está bem forte e reagindo bem aos tratamentos”, conta.

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Diferença do tipo 1 e 2

Conhecido como ‘pé diabético’, as feridas ou infecções nos pés costumam demorar para cicatrizar ou sequer conseguem se regenerar devido à má circulação sanguínea e à neuropatia periférica. “Isso pode levar a infecções graves”, conta o médico endocrinologista e diretor do Cead, Nelson Rassi.

Ele explica que o diabetes, que origina o ‘pé diabético’, é uma doença crônica de saúde que afeta a maneira como o corpo regula o açúcar no sangue. Conhecido como glicose, o carboidrato é uma das principais fontes de energia para as células do corpo e é controlada pelo hormônio chamado insulina, produzido pelo pâncreas. “O diabetes ocorre quando há algum problema com a produção dessa insulina ou da ação dela, o que pode ocasionar níveis elevados de glicose no sangue”, detalha.

Rassi conta ainda que existem diversos tipos de diabetes, sendo os mais comuns o tipo 1 e o tipo 2. “A tipo 1 é considerado uma doença autoimune, onde o sistema imunológico do corpo ataca as células que produzem a insulina, o que resulta em uma quantidade insuficiente no sangue.

Já a diabetes tipo 2 está associada a fatores de risco como obesidade, falta de atividade física, predisposição genética e envelhecimento.

Atendimento via SUS

Os pacientes atendidos no Cead passam pela regulação da Secretaria de Saúde Estadual que encaminha o caso para a unidade que é administrada pelo Instituto de Desenvolvimento Tecnológico e Humano (Idtech), ligada ao Hospital Estadual Alberto Rassi (HGG).

Além do acompanhamento especializado, as pessoas em condições de diabetes são avaliadas pela rede de atenção primária através das 1.665 equipes de Saúde da Família e 188 equipes da atenção primária nos 246 municípios goianos. A atenção especializada também é feita nos diversos centros de especialidades nos municípios.

Ao todo, Goiás conta com 35 Centros Especializados, incluindo as unidades estaduais da rede de Policlínicas (Posse, Quirinópolis, Goianésia, Formos, Goiás e São Luís de Montes Belos) e na capital somente a Centro Estadual de Atenção ao Diabetes (Ceadi), no Hospital Estadual Dr. Alberto Rassi (HGG). Nestas unidades, são registradas as primeiras consultas com endocrinologista juntamente com outros atendimentos clínicos.

Custo do tratamento

Em Goiânia, o custo para o tratamento do diabetes pode variar entre R$ 300 e R$500, a depender do grau de avanço da doença. A reportagem percorreu algumas das principais redes de farmácia da Capital para verificar o preço dos medicamentos.

De acordo com uma farmacêutica, o brasileiro ainda é privilegiado, pois parte do tratamento está disponível no SUS. Ela aponta que, apesar disso, o tratamento sai em torno de R$ 400.

A lista de medicamentos disponíveis gratuitamente no Programa Farmácia Popular incluem: cloridrato de metformina 500mg, cloridrato de metformina 500mg de ação prolongada, cloridrato de metformina 850mg, glibenclamida 5mg, insulina humana regular 100ui/ml e a insulina humana 100ui/ml. Além disso, o programa também fornece o dapagliflozina, para o tratamento do Tipo 2 da doença em formato de coopagamento.

Entre as principais diferenças do tratamento está na aplicação da insulina ou no uso dos medicamentos orais. A diabetes Tipo 1 é, normalmente, tratado com a aplicação de insulina administrado por meio de injeção ao longo do dia. Em algumas farmácias da Capital, uma ampola, suficiente para uma semana, varia entre R$ 45 e R$ 150.

Já o Tipo 2 da doença, dependendo do grau da alteração nos níveis de açúcar, o tratamento pode passar apenas por fazer algumas alterações na dieta e no estilo de vida, ou então, incluir o uso de remédios, como antidiabéticos orais ou insulina

Estrutura atende dois mil pacientes por mês

De acordo com o diretor, são recebidos mais de dois mil pacientes por mês na unidade. A equipe multidisciplinar é formada por endocrinologistas, psicólogos, nutricionistas, podólogos, enfermeiras e educadores físicos. “É importante esse atendimento humanizado para que saibam que não estão sozinhos no tratamento da doença”, conta Rassi.

Um dos destaques da unidade é a oficina sobre alimentação, que trabalha na criação de receitas saborosas que auxiliam os pacientes no tratamento. A nutricionista Anayse Amorim atende na unidade e é uma das responsáveis pela elaboração das receitas e das palestras.

“Aqui no Cead a gente trabalha muito a educação nutricional e a educação em diabetes. A educação nutricional é focada na alimentação saudável, direcionando o adulto, a criança e o idoso, mostrando que a gente pode ter melhores escolhas”, conta. A profissional relata que além da preparação dos alimentos, a oficina mostra que a alimentação, ainda que com algumas restrições, pode ser prazerosa e barata. “Atendemos pacientes do SUS, então essa é uma preocupação, que os alimentos sejam acessíveis”, relata.

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Amorim pontua que é fundamental superar alguns mitos, como em relação aos açúcares das frutas. “Trabalhamos com a pirâmide dos alimentos da população brasileira, mostrando como deve ser essa questão de porcionamento dos alimentos, principalmente quando a gente fala do controle glicêmico”.

Atendimentos

A estrutura conta com consultórios, auditório, espaço para treinamento e para conferências presenciais e a distância, além de uma central de atendimento telefônico. Outra atividade é a promoção da educação alimentar – uma cozinha experimental para orientar pacientes e familiares, de forma fácil e prática, como se alimentar melhor e colaborar com o tratamento do da doença. Esse acompanhamento integral permite que complicações decorrentes do diabetes não se agrave, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

Goiás tem quase meio milhão de diagnósticos de diabetes

Dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) mostram que 494.590 mil pessoas têm o diagnóstico da doença em Goiás. A última estimativa da prevalência da diabetes foi feita pelo 1º inquérito telefônico de fatores de risco e proteção para doenças e agravos não transmissíveis no Estado de Goiás (Vigitel).

De acordo com a pesquisa, a frequência de adultos que referiram diagnóstico médico de diabetes em Goiás foi 6,4%, variando 4,9% na macrorregião Sudoeste e 7,4% na macrorregião Nordeste. Quanto ao sexo, a frequência foi de 5,4% no sexo masculino e 7,5% no feminino.

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“A frequência referida de diabetes foi crescente de acordo com a faixa etária, variando de 1,5% no intervalo entre 25 e 34 anos a 18,6% para idade maior ou igual a 65 anos. A frequência do diagnóstico referido de diabetes diminuiu com o aumento da escolaridade”, diz o documento.

O inquérito foi realizado com 5.018 pessoas maiores de 18 anos, levando em consideração sexo, faixa etária, escolaridade e regiões de saúde. A coleta de dados foi feita entre janeiro e abril de 2022, por meio de entrevistas telefônicas.

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