Exatamente um mês após o deslizamento de uma pilha de lixo no aterro da empresa Ouro Verde, em Padre Bernardo (GO), os danos ambientais seguem sem solução definitiva. O desastre, ocorrido no dia 18 de junho, contaminou o córrego Santa Bárbara — fonte de água para agricultores da região — e escancarou falhas na contenção dos resíduos. Desde então, autoridades públicas pressionam a empresa por providências imediatas.

Nesta sexta-feira (18), vence o prazo para que a Ouro Verde comprove a contratação dos caminhões que farão a retirada do material. O serviço está previsto para começar no domingo (20), conforme estabelecido em Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pela empresa no último dia 11, após mobilização da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad), da prefeitura local e do ICMBio.

Segundo os órgãos envolvidos, o isolamento da área afetada foi concluído nesta semana, tanto antes quanto depois do ponto de contato com o córrego. A estrada de acesso para os caminhões já foi aberta, e o lixo será transferido, provisoriamente, para uma célula construída na mesma propriedade. A manta geotêxtil que vai proteger o solo também já foi adquirida, segundo a empresa.

Outra medida prevista no TAC é a contratação de um laboratório independente para monitorar a qualidade da água. As primeiras coletas começaram nesta sexta-feira (18) e serão realizadas semanalmente. Embora a Semad já viesse realizando esse monitoramento desde o dia seguinte ao acidente, os equipamentos do órgão não detectam com precisão a presença de metais pesados presentes no chorume.

O deslizamento ocorreu por volta das 9h30 do dia 18 de junho. Funcionários conseguiram evacuar a área ao perceberem sinais de instabilidade, evitando feridos. A Semad só foi informada horas depois, e por meio da imprensa — a empresa não comunicou oficialmente o ocorrido.

A situação do lixão da Ouro Verde já era crítica antes do desastre. Desde 2016, o local foi autuado oito vezes pelo governo estadual e operava amparado por uma liminar da Justiça Federal. Após o colapso, a secretária estadual de Meio Ambiente, Andréa Vulcanis, esteve no local e determinou o embargo imediato das atividades, a apreensão de cinco máquinas e a apresentação de um plano emergencial. Também foi criado um gabinete de crise com outros órgãos.

Apesar da gravidade do caso, a resposta inicial da empresa foi considerada insuficiente. O governo estadual acionou a Justiça e obteve o bloqueio de R$ 17,1 milhões da Ouro Verde, valor que poderá ser utilizado na recuperação dos danos ambientais. O Ministério Público solicitou novos bloqueios.

No fim de junho, a situação se agravou ainda mais com o surgimento de focos de incêndio no lixo acumulado, o que gerou riscos para moradores e trabalhadores da região. O fogo foi controlado em 24 horas.

Diante da lentidão nas ações da empresa, a Semad decidiu intervir diretamente. Equipes construíram uma nova via de acesso à grota para facilitar a remoção dos resíduos e isolaram a pilha de lixo. Além disso, passaram a bombear a água do córrego por cima da massa de resíduos, numa tentativa de reduzir a contaminação.

A prefeitura de Padre Bernardo também tem atuado para mitigar os impactos à população, distribuindo água potável por meio de caminhões-pipa e galões, além de entregar cestas básicas às famílias afetadas. A Semad aplicou multa de R$ 37,5 milhões à empresa Ouro Verde.

Para combater a infestação de moscas, uma das consequências do acúmulo de lixo, drones começaram a aplicar inseticida na região no dia 4 de julho. Três dias depois, em reunião realizada em Goiânia, a empresa finalmente aceitou assinar o TAC, assumindo compromissos com prazos definidos.

Agora, a expectativa da comunidade e dos órgãos de fiscalização é pelo cumprimento efetivo do acordo. Após 30 dias de impasse, a recuperação ambiental precisa, enfim, sair do papel.