A prefeita de Formosa, Simone Ribeiro (UB), afirmou ver misoginia e violência política de gênero em uma fala atribuída ao vereador Marcos Araújo (MDB), divulgada a partir de mensagens enviadas em um grupo de vereadores. O caso ganhou repercussão política e passou a ser debatido também por envolver outras manifestações consideradas ofensivas.

Conteúdo compartilhado em grupos de mensagens. Foto: Reprodução

De acordo com o conteúdo que circulou, o vereador teria afirmado. “A primeira e a última”, em referência ao mandato da prefeita. Em seguida, disse: “Vai ficar muitos anos sem uma mulher na prefeitura. Uns 30 anos”.

Para a prefeita, a declaração configura violência contra as mulheres. Em conversa com o Jornal Opção Entorno, Simone Ribeiro afirmou:

“A violência contra a mulher é uma ferida social que não pode mais ser silenciada. Ela se manifesta de diversas formas, física, psicológica, moral e patrimonial, e atinge mulheres de todas as idades, classes e realidades.”

Ela acrescentou que o enfrentamento desse tipo de violência exige mais do que discursos. “Exige coragem, políticas públicas eficazes, acolhimento e exemplo”, disse.

Ainda segundo a prefeita, ocupar o cargo de chefe do Executivo municipal representa um avanço simbólico para as mulheres. “Em Formosa, essa caminhada não representa apenas uma vitória eleitoral, mas um avanço simbólico e necessário para todas as mulheres”, afirmou.

Simone Ribeiro também declarou que já foi alvo de ataques durante o mandato. “Neste primeiro ano de mandato, fui alvo de diferentes formas de violência, inclusive ataques verbais e manifestações discriminatórias, como a afirmação de que ‘seria a última vez que uma mulher estaria no poder’”, disse. Para ela, “esse tipo de discurso é inaceitável e revela o quanto ainda precisamos avançar enquanto sociedade”.

O Jornal Opção Entorno também ouviu o vereador Marcos Araújo, que negou qualquer intenção discriminatória. Segundo ele, a fala foi retirada de contexto. “Em momento nenhum eu criminalizo porque é mulher, porque a prefeita é mulher, nada disso. As críticas que eu faço à Simone é a gestão de Simone Ribeiro, não porque ela é mulher”, afirmou.

O vereador explicou que a conversa ocorreu dentro de um debate entre parlamentares e citou falas anteriores no grupo. “Teve um vereador que falou assim: ‘pois uma mulher não vai sancionar uma lei que beneficia as mulheres’. Aí outro falou que estava difícil eleger outra mulher prefeita em Formosa. Depois citaram até a Dilma Rousseff”, relatou.

Sobre sua própria declaração, Marcos Araújo disse: “Eu falei: Formosa vai gastar 30 anos pra fazer uma nova mulher prefeita. A minha fala foi só essa, ainda coloquei um KKK lá no ponto de brincadeira, que não tem nada de discriminação contra a mulher”.

Questionado se a frase indicaria que nenhuma mulher poderia assumir a prefeitura nesse período, ele negou. “Amanhã pode ser outra mulher prefeita. Eu não acredito que a Simone vai ser prefeita reeleita, mas não entendo que outra mulher não pode ser prefeita, não. Jamais eu falei isso”, disse.

O vereador é oposição ao governo municipal. Em outro episódio recente, noticiado pelo Jornal Opção Entorno, ele denunciou a retirada de uma máquina da garagem da prefeitura. A Polícia Civil investigou o caso e concluiu que não houve crime, mas sim falha administrativa. Sobre o assunto, Marcos Araújo afirmou:

“Eu fiz a denúncia quando a máquina saiu da garagem da prefeitura. A polícia civil entendeu que não houve crime, que houve foi uma falha administrativa.”

Ele também comentou sobre o equipamento. “Não, era uma máquina que não poderia ter sido como sucata. Ela poderia ter sido vendida em leilão”, afirmou.

Este não é o primeiro episódio de ataques à prefeita. Nas redes sociais, Simone Ribeiro já relatou críticas relacionadas à sua origem social. Em uma das manifestações, um internauta escreveu: “Trouxeram uma senhora lá do assentamento do Cangalha e colocaram no cargo mais alto do executivo. Nunca administrou nem uma padaria como vai administrar uma cidade”.

Conteúdo compartilhado em grupos de mensagens. Foto: Reprodução

Já em outro caso, também passaram a circular mensagens com tom agressivo em conversas atribuídas a grupos de debate político. Antes dos trechos, houve uma contextualização sobre o conteúdo das mensagens. Entre as falas divulgadas, uma delas diz: “Tenho 03 anos e 11 meses para bater em Simone Ribeiro, a vagabunda…”.

Conteúdo compartilhado em grupos de mensagens. Foto: Reprodução

Em seguida, outra mensagem apresenta uma definição do termo utilizado: “Pessoa vagabunda… Desprovido de honestidade, que se comporta de modo desonesto; malandro, canalha…”.

Diante do conteúdo, uma pessoa reage no próprio grupo e escreve: “Moço apaga esses trem”.

À época das críticas nas redes sociais, a prefeita se manifestou publicamente afirmando que “ter origem rural ou simples não é fator de incapacidade”, e relembrou sua trajetória profissional e política até chegar ao cargo de prefeita. Em outro episódio citado por ela, a prefeita informou que acionou a Justiça contra o autor das ofensas e que obteve decisão favorável no processo.

Na Câmara Municipal, em sessão do dia 13 de maio, a vereadora Professora Nilza (PT) também abordou o tema. Segundo ela, “os ataques que são feitos à prefeita não é a gestão, é a pessoa”. A parlamentar afirmou ainda: “Aqui em Formosa sofre-se muito as mulheres que estão em espaço de poder. Isso chama-se política, ataque ao gênero”.

Ela acrescentou que esse tipo de ataque ocorre não apenas dentro do parlamento, mas também fora dele, em redes sociais e grupos de mensagens.