Quase um mês após serem transferidos da parte superior da Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília, para o Setor Comercial Sul, vendedores ambulantes relatam dificuldades para manter as vendas e se adaptar ao novo local. A mudança, que ocorreu em 1º de julho, faz parte da reestruturação iniciada após a concessão da rodoviária à iniciativa privada.

De acordo com a Administração Regional do Plano Piloto, a realocação foi definida após reuniões e análises técnicas. “A solução encontrada, após muito diálogo e análise técnica, foi a destinação de um espaço no Setor Comercial Sul, que atende aos critérios legais e oferece estrutura adequada para o trabalho dos ambulantes”, afirmou o administrador regional, Bruno Olímpio.

No entanto, ambulantes ouvidos pela reportagem do Jornal Opção Entorno afirmam que não foram incluídos nas discussões e que a mudança foi feita de forma precipitada, sem planejamento adequado.

A vendedora de bijuterias Maria do Carmo Oliveira, que atuou por 12 anos na Rodoviária, diz que o movimento de clientes caiu drasticamente. “A gente saiu de um local onde passava gente o dia inteiro pra um canto escondido. Minhas vendas despencaram. Fomos jogados pra lá, sem apoio, sem aviso, sem estrutura.”

Jorge Almeida, que comercializa capas de celular e acessórios, também sente o impacto. “Aqui mal passa gente. Eu vendia quase tudo até o fim do dia, agora passo o dia esperando cliente. E quando vem, é um ou dois. Estamos abandonados.”

Segundo a administração regional, 132 ambulantes foram identificados no estacionamento da plataforma superior da rodoviária, mas apenas 62 estavam em situação regular. Esses receberam uma licença provisória de 30 dias para continuar vendendo enquanto regularizam sua situação. Os demais devem procurar a administração para realizar o cadastro.

A nova área destinada aos ambulantes fica na Quadra 5 do Setor Comercial Sul, em dois pontos: atrás do posto policial da Praça Central e ao lado da Praça dos Artistas. A taxa de ocupação foi reduzida de R$ 23 para R$ 10 mensais, devido à diminuição do espaço.

Mesmo com a redução no valor, a vendedora de doces Silvana Ferreira afirma que os prejuízos superam os benefícios. “De que adianta pagar menos se não tem venda? Aqui a gente fica no sol, sem cobertura, sem banheiro perto. Antes eu pagava mais, mas vendia. Agora tô no prejuízo.”

A transferência dos ambulantes foi uma consequência do novo modelo de gestão da rodoviária. O contrato com o Consórcio Catedral, responsável pela administração do terminal por 20 anos, foi assinado em abril de 2023. A empresa assumiu a gestão em junho deste ano.

Diante do cenário, os trabalhadores buscam se adaptar à nova realidade e cobram das autoridades mais diálogo, apoio e infraestrutura para manter suas atividades. “A gente só quer trabalhar com respeito. Não pedimos luxo, só o mínimo pra conseguir vender e levar comida pra casa”, concluiu Maria do Carmo.