Presente na mesa do brasileiro, o trigo está entre os produtos mais consumidos do mundo. A cultura deste cereal na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) tem se mostrado como uma ótima alternativa para os produtores, sendo o Cerrado com condições bastante favoráveis para o plantio, devido ao fácil manejo e pouco ataque de pragas e doenças.

Em 2023, a safra do grão na Ride alcançou cerca de 300 mil toneladas, representando um crescimento de 4,8 vezes no período de sete anos. É a maior produção da série histórica da cultura, desde 1982. Na avaliação do pesquisador da Embrapa Cerrados, Julio César Albrecht, fatores climáticos, associados às pesquisas para o aprimoramento da qualidade e produtividade dos grãos, contribuíram para esse resultado expressivo.

“A Embrapa sempre acreditou na produção de trigo na região do Cerrado e vem desenvolvendo pesquisas na área de melhoramento do manejo. O cereal é uma excelente opção de cultivo tanto no sistema irrigado quanto no sequeiro”, explica o pesquisador. Segundo ele, o cultivo é em março e a colheita ocorre em um período entressafra, por volta de maio ou junho. Já o trigo irrigado é cultivado em maio e colhido em meados de setembro. “No Sul do país, maior produtor do grão, a colheita começa em novembro e dezembro. No final, tudo isso faz com que o produtor da região consiga melhores condições no mercado”, frisa.

Segundo Albrecht, outra vantagem em relação ao Sul é a produtividade elevada. “No caso do trigo irrigado, a média é de seis mil quilos por hectare, enquanto a média nacional é de 3 mil. No trigo sequeiro, como a gente depende da chuva, essa quantidade é um pouco menor, em torno de 2.500 kg por hectare, mas é uma lavoura de custo mais baixo, porque ela aproveita toda a adubação residual da soja, garantindo um bom retorno econômico para o produtor”, afirma.

Julio César Albrecht: excelente opção de cultivo tanto no sistema irrigado quanto no sequeiro (Foto: Divulgação/ Embrapa Cerrados)

Rotatividade na produção

A área de plantio de trigo vem crescendo nos municípios de Cristalina, Formosa, Luziânia, Água Fria e São João d’Aliança. O produtor Paulo Bonato, de Cristalina, ganhou repercussão mundial em 2021, por ter batido o recorde global de produtividade diária ao colher, em setembro, 9.630 kg de trigo por hectare, o correspondente a 160,5 sacas ou 80,9 kg em área irrigada de 51 hectares.

Produtor também de soja, milho e feijão, Bonato investiu na variedade de semente BRS 264, desenvolvida há mais de dez anos pela Embrapa, especificamente para o clima seco, e hoje ocupa 70% da área de cultivo no Cerrado. “A diversificação de culturas na fazenda é bem grande, o que contribui para a rotação de produção de grãos, aliando a sustentabilidade à melhoria do solo e matéria orgânica”, comenta.

Bonato aponta que os bons resultados são frutos de um manejo adequado, uso de tecnologias disponíveis e parcerias com os pesquisadores e técnicos da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF). “Eu trabalho com sondas de solo para ter uma umidade adequada para a cultura, equipamentos bem dimensionados para irrigação e as melhores técnicas de pulverização. É uma busca constante por melhorias”, diz ele.

O produtor destaca, ainda, outro aspecto vantajoso do cereal cultivado na região do Entorno: “É um dos melhores trigos em termos de qualidade de panificação do mundo, por ser colhido num período de seca e ser isento de toxinas que são prejudiciais à saúde”.

Programa de melhoramento

De acordo com o pesquisador da Embrapa Jorge Chagas, o trigo no Entorno é produzido em dois sistemas, o sequeiro e o irrigado, e a Embrapa tem um programa de melhoramento que atende a região do Cerrado. A inserção do grão em rotação no sistema tem proporcionado diversos benefícios, como a quebra do ciclo de pragas e doenças na área, principalmente fungos de solo, plantas daninhas e nematoides. “Temos colhido bons resultados de uns dez anos para cá, sendo mais uma alternativa para o produtor aqui da região. A pesquisa está avançando gradativamente e alguns programas de melhoramento vêm trazendo opções mais seguras para os produtores”, frisa Chagas.

Jorge Chagas: alternativas mais seguras para os produtores (Foto: Divulgação)

O pesquisador enfatiza que o trigo de sequeiro é indicado para cultivo em áreas com altitude igual ou acima de 800 metros. O produtor interessado nessa opção deve verificar se o trigo safrinha é apropriado para a sua região e quais cultivares são adequadas. As portarias com as informações sobre o zoneamento agrícola de risco climático para o trigo podem ser encontradas nos sites da Embrapa e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.