Cidade conhecida principalmente pelos cristais e pelo ecoturismo, Cristalina terá, em breve, um memorial para preservação de sua história e identidade. Trata-se da Casa da Cultura, um empreendimento que servirá principalmente de museu, reunindo documentos e artefatos de época.

O local escolhido para a obra é um antigo casarão da década de 1940, à frente da Praça São Sebastião e edificado, na época, pelo fazendeiro e intendente (antiga nomenclatura para “prefeito”) do município, Otaviano de Paiva Rezende, que utilizou materiais trazidos de São Paulo para a construção.

Casado com Eleonora Bittencourt de Paiva, Otaviano veio a óbito na década de 1960 e deixou uma numerosa família, composta de nomes que fizeram parte da história, economia e política de Cristalina, como o ex-prefeito Eduardo de Paiva Rezende, já falecido.

Imagem: CVR Engenharia/ Divulgação

Obras de restauração

Para manter ao máximo suas características, o casarão passará por um processo de restauração, antes de abrigar definitivamente a Casa da Cultura, preservando seu estilo neoclássico. A empresa responsável pelo projeto é a CVR Engenharia, que estimou a entrega da obra até julho, quando a cidade completará 108 anos de emancipação. “O projeto arquitetônico foi muito bem desenvolvido, considerando que estamos falando de uma restauração; então, apesar dos reparos, todas as características principais da casa estão sendo mantidas com excelência”, analisa a arquiteta Luísa Moema, que integra a equipe da Secretaria de Obras da prefeitura.

Luísa Moema, Daniel Sabino e Eliézer Bispo em frente ao antigo casarão que está sendo restaurado (Foto: Divulgação)

De acordo com o prefeito de Cristalina, Daniel Sabino Vaz (UB), o investimento para a restauração é de cerca de R$ 1,5 milhão, sendo a obra de fundamental importância, já que não havia um lugar específico para a preservação da memória do município. “Temos muitos objetos que contam essa trajetória, mas estão espalhados, não foram ainda guardados ou catalogados. E essa história vai se perdendo, se não tivermos um lugar para abrigar tudo isso. Muitas crianças hoje nem sabem o que é cristal ou de onde surgiu Cristalina”, relata. “Com a Casa da Cultura, teremos peças de acervo do início de Cristalina, passando pela questão do garimpo e dos cristais, até chegar no agronegócio e na irrigação”, complementa.

Acervo completo

O secretário de Comunicação do município, Eliézer Bispo, que está escrevendo um livro sobre a história de Cristalina e é responsável pela montagem do acervo da Casa da Cultura, diz que, devido a questões burocráticas relacionadas ao inventário, foram necessários três anos de tratativas, até que a prefeitura adquirisse o casarão. “Estou feliz por sido escolhido para reunir esse acervo. Teremos peças, documentos, fotografias, inclusive cristais, e vamos ter informações sobre personalidades do mundo político, cultural e educacional do município, tudo o que remete à nossa origem e à nossa história”, afirma Eliézer.

Ele conta que a economia do município nas décadas de 1930, 1940 e 1950 girava em torno dos cristais. “Muita gente vinha para cá ganhar dinheiro com isso, mas não se estabelecia na cidade. Então, não havia construções boas naquele período em Cristalina, exceto pelo casarão. Por isso ele chama a atenção até hoje”, pontua. E completa: “Como cristalinense nato, eu posso dizer que a aquisição desse casarão e a criação da Casa da Cultura foram um gol de placa do prefeito”.

Daniel Sabino com Hermes de Paiva Rezende, um dos filhos remanescentes de Otaviano e Eleonora; e o neto do casal, Igor de Paiva Cozac

O empresário Igor de Paiva Cozac, por sua vez, neto de Otaviano Rezende, diz que deixar o casarão sob os cuidados da prefeitura, com o intuito de preservar a história do município, foi uma ótima decisão. “A casa é original e não quisemos que isso acabasse. Se vendêssemos para qualquer pessoa, a primeira coisa que ela faria seria derrubar tudo e construir outro imóvel no lugar. A Casa da Cultura será muito benéfica para a cidade”, salienta.