Moradores de Valparaíso estão preocupados com possíveis mudanças na Escola Municipal de Línguas, que podem limitar o acesso da população aos cursos gratuitos de inglês, espanhol e Libras. Alunos temem perder o direito de estudar, enquanto professores relatam falta de reconhecimento profissional. Em nota, a prefeitura nega o fechamento da unidade e afirma que as mudanças seguem exigências legais, com a promessa de manter o atendimento à comunidade e garantir direitos aos educadores.

Segundo a administração municipal, a escola precisa se adequar a uma nova norma que exige o atendimento a alunos do ensino regular da rede pública para ser reconhecida como uma unidade escolar, e não apenas como um projeto. Já os estudantes temem que essa mudança acabe restringindo o acesso de moradores da cidade que não estão mais na educação básica, como pais, mães e adultos que buscam aprender um novo idioma para se qualificar profissionalmente.

Um aluno, que preferiu não se identificar, relata como a possível mudança pode impactar sua vida: “Eu não sou aluno regular, mas sou da cidade. Se mudarem o modelo, a gente fica de fora. É uma injustiça com quem está tentando melhorar de vida”, emenda: “Faltam três anos para eu terminar meu curso. Como fica minha situação se o projeto acabar ou mudar de público?”, questiona.

A estrutura da escola também é motivo de preocupação. Segundo os estudantes, os professores atuam como voluntários e, oficialmente, não têm o cargo reconhecido. Muitos estão contratados como auxiliares administrativos, mesmo exercendo a função de docentes. Isso impede o acesso a benefícios como aposentadoria especial e bonificações.

Além disso, os próprios professores arcam com os custos dos materiais usados em sala de aula, como data show, pincéis, caixas de som e até produtos de limpeza.

A aluna Gessica Fernandes de Souza, que está no primeiro ano do curso de inglês, também se mostra preocupada. “Foi um baque. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer com um projeto tão importante.” Ela elogia a metodologia aplicada, mas teme não ter mais a oportunidade de estudar. “A escola é gratuita, segue o padrão dos CILs de Brasília e ainda dá certificado. Isso muda a vida de muita gente aqui na cidade”, completa.

A estudante destaca que transformar a escola em uma unidade de ensino básico será uma perda para Valparaíso. “Vai deixar uma imagem ruim para as autoridades. É um retrocesso”, afirma.

Atualmente, a escola atende aproximadamente 5 mil alunos, de todas as idades, e é considerada por muitos um dos melhores projetos educacionais da região.

O que diz a Prefeitura

Procurada pela reportagem do Jornal Opção Entorno, a Prefeitura de Valparaíso de Goiás negou qualquer intenção de fechar a Escola Municipal de Línguas ou de demitir professores concursados. Em nota, explicou: “Ocorre que, com a mudança recente na legislação, o que antes era classificado como Centro de Línguas passou a ser formalmente reconhecido como uma escola. Para que esse novo enquadramento seja válido na prática, é necessário que a unidade atenda também alunos do ensino regular da rede pública”, diz o comunicado.

Ainda segundo a prefeitura, essa mudança trará benefícios aos profissionais: “Ao atuar em uma escola, e não mais apenas em um projeto, o tempo de trabalho dos professores passa a ser considerado como regência efetiva, garantindo os devidos direitos e contagem de tempo para fins funcionais e administrativos.”

A Secretaria de Educação afirma que a proposta é adequar a unidade ao novo formato legal, incluindo alunos da rede pública, “sem deixar de atender a comunidade em geral.” Caso essa adequação não seja possível, os professores concursados serão remanejados, e o atendimento à comunidade poderá continuar com profissionais contratados.

A nota encerra enfatizando que não existe qualquer plano de encerramento das atividades da escola nem demissão de servidores efetivos.