Uma grande empresa de biotecnologia está se instalando em Planaltina de Goiás

27 fevereiro 2024 às 13h04

COMPARTILHAR
O município de Planaltina de Goiás terá, em breve, uma fábrica e laboratório da Ekoa Life Sciences, empresa de biotecnologia que desenvolve soluções para a agricultura, saúde animal e humana. Trata-se de uma boa notícia para o Entorno, que terá um empreendimento especializado num dos ramos científicos mais promissores da atualidade, oferecendo múltiplas aplicações, inclusive com a utilização de micro-organismos para a produção de bioinsumos.
Com um investimento inicial de mais de R$ 70 milhões, segundo estimativa do CEO Douglas Scheunemann, a Ekoa ocupará 60 mil metros quadrados e trará como primeiro impacto a geração de cerca de 100 empregos diretos e indiretos, além de servir de polo de atração para outros negócios, formando um hub de tecnologia na região.
Nesta entrevista ao Jornal Opção Entorno, Scheunemann fala detalhadamente sobre a estrutura da Ekoa, quais as perspectivas de desenvolvimento da região do Entorno e produtos a serem criados a partir das pesquisas em biotecnologia realizadas no laboratório em Planaltina.
Luciana Amaral – O que significa a palavra “Ekoa”?
Douglas Scheunemann – Em tupi-guarani, significa “morada”. Quando iniciamos o processo de criação, discutimos qual era a nossa essência, o DNA da empresa. Durante o brainstorming, surgiram termos como “troca de conhecimento”, “colaboração”, “espírito colaborativo” e “viver como família”. Partimos para uma linguagem ancestral, pois temos os micro-organismos, que não são algo novo; a novidade está na tecnologia que aplicamos neles e transformamos em produto. Então, pensamos em algo que transmitisse tudo isso e chegamos em “Ekoa”. Afinal, morada é o local onde as pessoas trocam conhecimentos, colaboram umas com as outras e convivem como família. O nome, portanto, casou muito bem com a nossa proposta. “Ekoa” também remete ao verbo “ecoar”, no sentido de fazer ir mais longe aquilo que estamos apresentando. Queremos trazer à tona esse espírito, esse significado, essa parte ancestral. Para nós, isso é muito importante. Queremos que seja um negócio rentável, mas, junto a isso, deve haver um propósito maior, de colaborar com o meio ambiente e com as pessoas que se beneficiam do nosso produto. A parte financeira é consequência de um bom trabalho.
Luciana Amaral – Poderia dar mais detalhes sobre a trajetória da empresa e sua proposta de trabalho?
Douglas Scheunemann – A Ekoa é uma empresa brasileira surgida em abril de 2023 e cujo investidor é um family office chamado Worldapproach, que investe em negócios promissores, com bom valor agregado e posição estratégica vantajosa. Recebemos deles uma proposta para montarmos uma estrutura de biotecnologia, que eles não tinham ainda no portfólio. Fomos incumbidos deste desafio de buscar pessoas do mercado para colocar esse projeto de pé. E quando eu falo em biotecnologia, é tudo o que tem a ver com a parte de micro-organismos, Inteligência Artificial e tecnologia. Como estratégia, a gente começa a atuar com a parte de agro e a nossa solução nesse ramo é voltada ao controle de pragas e doenças, condicionamento e melhoria do solo para várias culturas agrícolas.
Temos a sede administrativa em Brasília, e a fábrica fica em Planaltina de Goiás. Esta unidade, que está sendo construída, terá uma parte voltada ao agro, que ficará pronta em março. O laboratório começa a funcionar provavelmente em abril. Já a parte de nutrição e saúde animal vai ficar na filial em Campinas. Quem dá suporte para todos os novos produtos a serem desenvolvidos e trazidos para o mercado é o nosso laboratório. A gente costuma dizer que não é o laboratório com maior investimento no Brasil ou na América Latina, mas, sem dúvida, é um dos mais completos na área de biotecnologia. Estamos importando do Japão e Estados Unidos alguns equipamentos e teremos independência na criação e desenvolvimento de novas soluções para o agro, para a área animal e, futuramente, também para a área de saúde humana. Junto a isso, teremos, ainda, a Divisão de Biorremediação de Água, para tratamento de águas residuais. Analisamos quais compostos estão deixando a água com determinados resíduos e trazemos alguma solução, seja mineral ou biológica.

Luciana Amaral – E o que será desenvolvido na área de saúde humana?
Douglas Scheunemann – Vamos atuar com probióticos, prebióticos e simbióticos, elaborando novos produtos e soluções para a saúde humana. Para se ter ideia, existem, inclusive, empresas que já utilizam micro-organismos voltados ao tratamento de câncer. Não é o nosso caso, mas há uma série de novidades que lançaremos a curto e médio prazo.
Luciana Amaral – Por que escolheram Planaltina de Goiás para a instalação da unidade fabril?
Douglas Scheunemann – Antes de definir esse local, eu havia conversado com prefeitos de alguns municípios do Entorno. Tivemos uma boa conexão com Planaltina de Goiás, devido à grande proximidade com a Embrapa Cerrados. Ao conversarmos com o prefeito Cristiomário, vimos que poderíamos colaborar muito com o município. Ele comentou que Planaltina é uma cidade-dormitório e queria trazer algo diferenciado para a região, a fim de gerar mais empregos e renda. Na época, vimos que tudo isso fazia muito sentido com a nossa proposta. Não queríamos fazer um negócio pensando somente no ganho financeiro, mas colaborar com Planaltina. Inclusive, temos um projeto para a realização de palestras em escolas, para incentivar as pessoas a entenderem o que é biotecnologia.
Luciana Amaral – Quantos empregos diretos e indiretos deverão ser gerados na região?
Douglas Scheunemann – Acreditamos que, em pouco tempo, várias outras empresas vão se instalar na região, montando estruturas de apoio. É o que a gente chama de hub de tecnologia e vai gerar cerca de 100 empregos diretos e indiretos, incluindo estágios e postos de trabalho temporários. Estamos trazendo pessoas que vão morar no município. Haverá, ainda, uma parte voltada à formação e capacitação de pessoal com os nossos técnicos na área de biotech. Em termos logísticos, Planaltina é um ponto estratégico de distribuição, por estar no centro do país.
Luciana Amaral – O senhor participou, recentemente, de uma reunião com a secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás, Andréa Vulcanis. O que foi tratado nesse encontro?
Douglas Scheunemann – Ela ficou impactada com a proposta da empresa e pediu que ajudássemos de alguma forma o estado, trazendo soluções regenerativas para problemas pontuais, como tratamento de água. Temos uma equipe muito experiente para isso e com vasta formação acadêmica até mesmo fora do país. A secretária solicitou, então, que formalizássemos alguns acordos de cooperação para dar andamento nessas questões e ajudar a construir soluções. Goiás se posiciona hoje como estado produtivo, mas quer não apenas produzir, como também preservar o meio ambiente.

Luciana Amaral – Como os micro-organismos podem ser manipulados para o desenvolvimento de produtos?
Douglas Scheunemann – Os micro-organismos têm uma função específica no meio ambiente. É como se você olhasse uma floresta. Não é como uma lavoura, que às vezes você planta, uma lagarta vem e come tudo. Na floresta, o ambiente é equilibrado. Mas quando você desequilibra de alguma forma um ambiente, seja acidificando o solo, ou fazendo qualquer interferência, os patógenos, que são os micro-organismos que fazem mal, tendem a se proliferar. Os micro-organismos benéficos, nessa corrida, acabam ficando para trás. No nosso negócio, unimos a ancestralidade à tecnologia. Utilizamos esse micro-organismo benéfico, que está em menor quantidade, para recuperar o equilíbrio do sistema, seja ele um sistema imunológico, seja um sistema numa lavoura ou para controle de uma doença específica. No laboratório, isolamos e identificamos o micro-organismo, fazemos um sequenciamento genético e vemos a estabilidade dele como produto. Temos um biorreator, o mesmo utilizado pela indústria farmacêutica, para fazer esse processo.