A força do eleitorado religioso pode ser decisiva em campanhas políticas? Especialistas e candidatos respondem
27 agosto 2024 às 15h26
COMPARTILHAR
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que candidaturas que mobilizaram a religiosidade de forma direta durante a campanha são mais votadas. Além disso, o número de estabelecimentos religiosos existentes no Brasil, segundo o Censo do IBGE (2022), chega a 579,7 mil, de diferentes tipos.
Porém, estima-se que haja mais estabelecimentos religiosos no país do que aqueles apresentados no estudo, pelo fato de muitas igrejas e terreiros realizarem suas atividades em lugares atípicos, como casas particulares, lojas e hotéis.
Como se posiciona a Igreja Católica
De acordo com assessoria de Relações Institucionais e Governamentais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – que não quis nomear ninguém específico para falar sobre o assunto, apenas se posicionando via assessoria –, religiões e política são dois campos que se influenciam historicamente. Segundo a CNBB, o crescimento da pressão sobre as instituições tradicionais e sua relação com a religião integram um conjunto dinâmico de relações de força, relações que podem mudar e que na realidade mudam a todo momento. E no que concerne à relação entre religião e política, as religiões podem ajudar o eleitor a pensar.
Além disso, para a CNBB, nos momentos eleitorais há um efeito particularmente preocupante, que vem se tornando uma tendência muito presente em vários países: o uso político da intolerância religiosa. Para a instituição, não se pode simplesmente se abster da discussão, considerando que a religião seja assunto privado. É preciso assumir a tarefa de pensar as consequências sociais das decisões movidas pela religião, bem como refletir se os princípios subjacentes de uma determinada forma de vida religiosa são compatíveis com os valores fundamentais da liberdade, da justiça e da paz.
Cooperação entre o Estado e a Religião
Para o Doutor em Sociologia e professor da Universidade de Brasília (UnB), Eurico Antônio Gonzalez Cursino dos Santos, essa representatividade do eleitorado religioso não é muito clara. Segundo ele, existem argumentos religiosos durante as eleições na esfera pública. “Ao longo da nossa história, há 391 anos, para ser exato, o Decreto no 119-A, de 7 de janeiro de 1890, que separa a Igreja do Estado, dizia, no final, que iria continuar a colocar dinheiro no ensino religioso. O Estado brasileiro sempre quis cooperar com as religiões; de um modo ou de outro, o decreto previa isso”, explica Eurico.
O professor complementa dizendo há um mercado religioso aquecido e muito empenho em colocar a religião na esfera pública. “A tese de Tocqueville é de que a religião abraça o Estado e vai experimentar o mesmo destino do Estado. Se o Estado cair, a religião cai também”, teoriza, enfatizando que 90% da população brasileira segue alguma religião.
O tamanho do eleitorado evangélico é crescente, com 30% da população brasileira evangélica, enquanto 50% é católica e 10% declara não ter religião. O restante é dividido entre as demais religiões. Ele acrescenta: “A gente tem que se acostumar com a religião sendo discutida na esfera pública. Mas colocar que tem que ser assim, porque Deus quer, isso eu não acho construtivo. Porém, acredito que a democracia vai depurar essas coisas. A igreja é uma instituição civilizatória. A igreja evangélica, por exemplo, é muito democrática, diferentemente do Catolicismo”, analisa Eurico.
Ele finaliza, afirmando que a mídia anda muito preocupada com a religião, tentando enquadrar a política em um certo sentido. “É o humano tentando morder o cachorro. Essa investida das seitas sobre o Estado é uma coisa fora do normal, por isso virou notícia. Todavia, gera uma incapacidade de perceber como está integrando a sua lógica. Isso é o que a política faz desde 1891. Os setores pensantes queriam esquecer. Mas já tivemos muitos argumentos religiosos na política. Só parou de ter um pouquinho na República. A gente ainda tem ensino religioso e cada estado decide qual é a metodologia. Uma vertente é mostrar o ensino religioso como ciência, supondo que a pessoa que está sendo objeto de ensino, quer aquele ensinamento. E tem o ensino confessional, que é quando você ensina a religião, doutrinando em qualquer religião”, conclui o docente.
O que dizem os candidatos do Entorno
O prefeito de Luziânia Diego Sorgatto (UB), candidato à reeleição, acredita que é importante respeitar as diversidades religiosas, independentemente das eleições. “Um gestor público deve administrar uma cidade, um estado ou um país respeitando e reconhecendo a diversidade religiosa. Em qualquer situação, acredito que o foco principal deve ser o desenvolvimento e o progresso da cidade e, principalmente, o cuidado com as pessoas”, afirma.
Já para o candidato a prefeito por Valparaíso de Goiás, Marcus Vinicius Mendes (MDB), a política interfere em muitos aspectos da vida comum e não seria diferente em relação à religião. “Pensando principalmente nas pautas, nas bandeiras que a gente defende, nos ideais, eu creio que é muito importante que o povo cristão esteja envolvido de fato nas eleições. É importante também quando a gente pensa em uma política cada vez mais justa, mais inclusiva, uma política que pense verdadeiramente no próximo. Então, neste aspecto, eu entendo que a participação do eleitorado cristão aqui em Valparaíso é fundamental, para que a gente tenha governantes cada vez mais sérios e que pensem no bem-estar da comunidade”, argumenta.
Marcus Vinicius conclui, afirmando que seu posicionamento é público: “Tenho ideais cristãos e faço questão que saibam do meu envolvimento, da minha fé, da minha participação nos movimentos da Igreja e, principalmente, do apoio que eu tenho recebido da comunidade cristã de Valparaíso neste momento”.
Já o prefeito de Novo Gama, Carlinhos do Mangão (PL), outro candidato à reeleição, acredita que a sua missão é sempre oferecer um governo que atenda às necessidades e anseios de todos os habitantes do município. “Cada cidadão é valioso e merece respeito, independentemente de sua religião, crença ou origem. O que guia nossas ações e decisões é o compromisso com o bem-estar de toda a população, sem discriminação. O verdadeiro valor de um eleitor não reside em sua religião, mas sim em sua capacidade de fazer escolhas conscientes, baseadas na análise cuidadosa do trabalho e das propostas dos candidatos”, frisa o candidato.
Leia também:
Padre Marcelo destaca a eficaz gestão de Alexandre de Jesus em Santo Antônio do Descoberto