Enquanto no Entorno políticos se esmeram em firmar alianças para o pleito de 2024, no Distrito Federal a palavra “eleições” ainda corre à boca-miúda, em estratégias de bastidores, já que os eleitores somente irão às urnas em 2026. De fato, parece ousadia falar em candidatura faltando mais de dois anos para a população decidir quem merece o botão verde de “Confirma”. Entretanto, o principal adversário do atual governador Ibaneis Rocha (MDB), Leandro Grass (PV), hoje presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), não parece intimidado com isso. “Preparei-me para ser governador e estou pronto. Vamos agora avançar na construção do projeto 2026 em parceria com os partidos e lideranças. Precisa ser um projeto coletivo”, diz, sem cerimônias.

Talvez essa pressa em se colocar como postulante ao cargo máximo do Poder Executivo no DF tenha um motivo: a esquerda precisa se reposicionar no tabuleiro político local. E com urgência. Afinal, perdeu muito do seu protagonismo de outrora.

Paralelamente a isso, vale lembrar que nenhum dos três gestores de esquerda a ocuparem o Palácio do Buriti – Cristovam Buarque (PT), Agnelo Queiroz (PT) e Rodrigo Rollemberg (PSB) – conseguiu uma reeleição. O único a chegar muito próximo a essa conquista foi Cristovam, ultrapassado no segundo turno por Joaquim Roriz, num dos pleitos mais disputados da breve história das eleições no “quadradinho”. Agnelo, por sua vez, ficou chamuscado por escândalos de corrupção e teve várias condenações na Justiça.

Leandro Grass: pronto para ser governador (Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil)

Oportunidade perdida

“A esquerda teve sua oportunidade em Brasília e não aproveitou nenhuma delas”, avalia um jornalista e analista político que não quis se identificar. “E o Partido dos Trabalhadores não renovou os seus quadros por aqui. Tanto não renovou, que acabou apoiando o candidato do PV, o Leandro Grass”.

Historicamente, não é muito do feitio do PT abrir mão de uma candidatura própria. Mas, na análise do jornalista, não houve alternativa, na época. Rolaram a ciumeira, a desconfiança e um certo orgulho ferido. De fato, para os figurões do partido não foi fácil deixar o “verde” se sobressair à estrela vermelha. Por outro lado, Leandro teve também jogo de cintura e postura conciliadora, conquistando 27% do eleitorado. Só não foi ao segundo turno, porque outros candidatos, como Leila do Vôlei (PDT) e Izalci Lucas (PSDB), tiveram desempenho pífio.

Vermelho ou verde?

Mas o partido vermelho continuará mesmo apostando no verde? Nesta briga – ou será aliança? – de cores pelo poder, o deputado distrital Chico Vigilante (PT) não dá como certo esse apoio. “O Leandro teve um desempenho fantástico, mas isso não quer dizer que ele será candidato em 2026”, assinala. “Essa decisão vai depender da frente a ser formada por vários partidos, como PT, PCdoB e PV, os quais irão fazer uma discussão efetiva sobre o próximo pleito”.

Chico Vigilante: a esquerda ainda definirá seu candidato para 2026 (Foto: Divulgação)

Segundo o parlamentar, é preciso recuperar o terreno perdido, especialmente na Câmara dos Deputados, em que a esquerda perdeu boa parte de sua bancada por conta, principalmente, do bolsonarismo, ainda bastante forte no DF. E mesmo com Lula na presidência, essa tarefa não será nada simples. “Teremos de mostrar à população o que o governo federal vem fazendo, as melhorias que estão ocorrendo, para que possamos transformar tudo isso em votos para a esquerda em 2026”, analisa o deputado.

Para Leandro Grass, os resultados do governo Lula têm sido satisfatórios e podem influenciar positivamente o pleito no DF: “Agora, com a reforma tributária aprovada – algo que nenhum governo havia conseguido desde 1988 –, a tendência é de mais avanços na economia e na renda da população. Isso também produzirá um efeito político”.

E a direita, como fica?

Se na esquerda as peças do tabuleiro estão ainda longe de ser definidas, na direita já era dada quase como certa a possibilidade de Ibaneis se candidatar ao Senado, deixando o trajeto livre para a vice-governadora, Celina Leão, caminhar a passos largos rumo ao Buriti.

Celina Leão é nome fortíssimo à sucessão de Ibaneis Rocha (Foto: Renato Alves/ Agência Brasília)

Mas na política, não existem certezas e a imprevisibilidade é a rainha, em meio aos estratagemas palacianos. Há rumores de que Ibaneis provavelmente vai preferir permanecer no Executivo até o fim de seu mandato, sem tentar uma vaga no Legislativo, mas trabalharia pela eleição de Celina ou algum outro aliado. Se tudo der certo, caso esse cenário prevaleça, Ibaneis teria também todo o suporte para retornar ao GDF em 2030.

Isto, é claro, são suposições somadas a muitas expectativas, já que o atual mandatário tem grande força política, apoio de setores conservadores e grupos empresariais, e nada de braçada para eleger seu sucessor – ou sucessora.

Parece tudo muito óbvio, porém há um elemento importante a ser considerado, segundo o jornalista e analista político: a senadora Damares Alves (Republicanos). “Ela vai estar no meio de seu mandato e geralmente nessa fase senadores se candidatam ao cargo de governador, como a Leila e o Izalci fizeram. Se essa lógica prevalecer, Damares vai dividir os votos da direita, o que pode ser favorável à esquerda”, avalia. Será ela o verdadeiro entrave às pretensões de Ibaneis e de Celina Leão? A conferir.