Uma construção iniciada em 2007 e que beneficiaria milhares de pessoas ainda não está pronta. O Hospital Estadual de Águas Lindas é um retrato do Brasil. Um país que sofre cotidianamente com obras essenciais paradas por conta de entraves burocráticos e políticos, além do velho “toma-lá-dá-cá”, tão inerente aos bastidores do poder. Mas, como dizem por aí, “uma hora a coisa anda”. E a obra finalmente está prestes a ser entregue à população, pois a atual gestão do governo de Goiás tomou para si as rédeas do empreendimento e está realmente colocando a mão na massa, com o apoio da prefeitura do município.

Esta celeridade vista recentemente, porém, contrasta com boa parte dessa história, outrora aparentemente interminável. Há 16 anos, a construção da unidade hospitalar estava a cargo da prefeitura. Em 2013, foi repassada ao Estado de Goiás, mas ficou paralisada em 2018, na gestão anterior ao governo Ronaldo Caiado.

Em julho de 2021, dois anos após ter assumido seu primeiro mandato, Caiado anunciou que retomaria as obras do hospital a partir de setembro. E acusou, na época, pessoas que estavam atrapalhando propositalmente a conclusão do complexo hospitalar. “Mas vamos fazer isso aqui”, enfatizou.

Atendimento em todas as especialidades

Lucas Vissotto: hospital com estrutura completa para a população do Entorno (Foto: Divulgação/Goinfra)

Quem assumiu a responsabilidade pela edificação da unidade hospitalar foi a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra). O projeto inicial, de 11.484,2 metros quadrados, foi ampliado para 15.914,37 metros quadrados.

Segundo Lucas Vissotto, presidente da Goinfra, as obras estão em fase final de conclusão, com previsão de início dos serviços de saúde para a população no primeiro semestre de 2024. “Esta obra vem para atender toda a região do Entorno do Distrito Federal. Além de oferecer atendimento em todas as especialidades, a policlínica contará com 163 leitos, UTI, 10 centros cirúrgicos, ala para tomografia, ressonância magnética e laboratórios”, enumera.

Relato contundente

E quem precisa de saúde, tem pressa. A gestora de Recursos Humanos Dulcineia Aguiar, que utilizou os serviços do SUS numa das épocas mais problemáticas da pandemia, em Águas Lindas, conta como foi seu “calvário”, ao necessitar de atendimento em um hospital do município.

Em uma manhã de setembro de 2021, às 9h, ela se dirigiu ao Hospital Municipal Bom Jesus com sintomas de Covid-19. Ficou numa poltrona, ligada a uma bala de oxigênio, sem receber qualquer tipo de alimento. Quando precisou de um banheiro, decidiu ir sozinha, sem oxigenação, devido à demora da equipe de enfermagem em atendê-la. Assim, acabou agonizando por falta de ar.

Somente às 22h, o médico de plantão decidiu pela internação e ela conseguiu se alimentar com o lanche trazido pela companheira.

Após dois dias, a equipe médica decidiu que a paciente seria transferida para Formosa, pois não havia estrutura em Águas Lindas, caso seu quadro se agravasse.

“Notei que o maior desafio no Hospital Municipal Bom Jesus, além da superlotação, era a busca pela informação, pois era o paciente que tinha de correr atrás do resultado dos exames e procurar o médico. Era um caos!”, relata. E acrescenta: “A estrutura física era precária, com falta de iluminação, o piso era desnivelado e não havia ar-condicionado em quase todo o setor, pelo que percebi”.

Ela espera que a implementação do novo Hospital Estadual de Águas Lindas ajude a agilizar os procedimentos hospitalares. E sugere um treinamento periódico de todo o corpo de funcionários da unidade, para que haja um tratamento mais humanizado dos pacientes, maior cordialidade no atendimento, mais agilidade no processamento de exames pelo laboratório e maior atenção quanto aos ajustes técnicos pela equipe de manutenção. “Também espero que priorizem informações ao paciente e aos familiares, com maior clareza e transparência quanto ao tratamento e procedimentos a serem realizados”, conclui a gestora.