A recomendação da Embaixada dos Estados Unidos para que turistas norte-americanos evitem algumas regiões do Brasil, incluindo quatro cidades do Distrito Federal, gerou forte reação em Brasília. O comunicado, divulgado nesta sexta-feira (30), orienta que não se viaje “por qualquer motivo” para favelas, vilas ou comunidades, nem para as regiões administrativas de Ceilândia, Santa Maria, São Sebastião e Paranoá.

O alerta também menciona riscos nas áreas próximas às fronteiras terrestres do Brasil e em favelas de grandes centros, como o Rio de Janeiro, onde, segundo o comunicado, há registros frequentes de violência e ações de criminosos contra estrangeiros. A embaixada recomenda ainda que seus funcionários evitem o uso de ônibus municipais no país, especialmente à noite, devido ao risco de assaltos.

Em Brasília, no entanto, as críticas foram imediatas. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), classificou o posicionamento como “sem embasamento”. Para ele, a segurança na capital é eficiente e reconhecida. “Nós temos em Brasília uma segurança muito boa aqui, que a gente só tem a elogiar o trabalho que é feito pelo secretário de segurança e pelas forças policiais do Distrito Federal”, afirmou.

Ibaneis disse ainda que conhece bem as cidades citadas no alerta. “Eu ando por todas essas cidades todos os dias e a gente não vê falar de sequestro aqui em Brasília. Até os sequestros relâmpagos que existiam mais no passado desapareceram”, garantiu o governador. Ele foi além e fez um convite: “Eu convido eles a virem conhecer essas quatro cidades que eles falaram, que eles vão ver como as pessoas vivem com segurança e em paz”.

O governador também rebateu a crítica citando problemas de segurança nos Estados Unidos: “Eu estive em Nova Iorque semana passada, por exemplo, e as ruas cheias de rato, urina, drogados no meio da rua. Eu acho que eles deveriam olhar um pouquinho para dentro do que acontece nos Estados Unidos”, disparou.

O presidente da Associação dos Forrozeiros do Distrito Federal, Marques Célio em evento cultural. Foto: Reprodução

O sentimento de indignação é compartilhado por moradores das cidades mencionadas, como o pioneiro de Ceilândia e presidente da Associação dos Forrozeiros do Distrito Federal, Marques Célio. Morador há mais de 30 anos da maior cidade do DF, ele fez questão de exaltar a história e a força do local. “Eu tenho muito orgulho de residir nela, porque é uma cidade acolhedora, composta inicialmente por nordestinos e hoje por seus filhos, que nasceram aqui. Uma cidade tranquila, em desenvolvimento, que acolhe pessoas de todos os estados do Brasil”, destacou.

Marques Célio lamentou profundamente a recomendação americana. “O meu sentimento é de tristeza, não vou dizer revolta, mas tristeza. Porque somos seres humanos e habitamos na capital do país, onde Ceilândia é uma peça desse Distrito Federal que é tão grande”, disse. Para ele, a declaração revela desconhecimento sobre a realidade local. “Ceilândia é uma cidade que merece respeito, que tem qualidade de vida, um povo hospitaleiro que está sempre em busca de resolver seus problemas”, completou.

Ele também destacou a diversidade cultural, a força do artesanato e a importância econômica da cidade, que abriga polos industriais e abastece feiras e mercados do Distrito Federal com sua produção agrícola.

Apesar da maior repercussão em Brasília, o alerta da embaixada norte-americana também menciona as fronteiras do Brasil com países como Bolívia, Colômbia, Venezuela e Paraguai, além de desaconselhar visitas a favelas, mesmo em passeios guiados. Segundo o comunicado, nem empresas de turismo nem a polícia podem garantir a segurança nesses locais.