A população de Valparaíso de Goiás (GO) é a que mais cresce no Entorno do Distrito Federal. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, o município está com 198.861 habitantes, um aumento de quase 50% em relação ao último censo de 2010 – 132.982 moradores. Em comparação, Águas Lindas de Goiás (GO) teve um incremento populacional de 41% nos últimos anos, estando hoje com 225.693 domiciliados, enquanto Luziânia (GO) apresentou um crescimento de 20%, com 209.129 habitantes na atualidade.

De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Antônio Reis, essa posição de Valparaíso se justifica pelo fato da cidade estar mais próxima do Distrito Federal. “O motivo maior é a localização geográfica do município, na saída sul, a 35 km do centro de Brasília, além de grande parte do comércio existente na capital federal estar presente também em Valparaíso”, explica.

Antônio Reis: proximidade de Valparaíso ao DF influi no número de habitantes (Foto: Divulgação)

A razão que levou Andres Carvalho, especialista em suporte de sistemas, a se mudar de mala e cuia para o município, é a mesma de muitos outros indivíduos que se tornaram cidadãos valparaisenses nos últimos anos. “Moro em Valparaíso há quatro anos, mas trabalho em Brasília. Escolhi essa cidade para viver devido à proximidade da capital e para ter melhor qualidade de vida”, diz.

Poucos eleitores

Esse vaivém entre Goiás e DF, tão comum à realidade do Entorno, traz à tona um fenômeno interessante: o baixo número de eleitores em alguns municípios da região, apesar do número de habitantes estar em alta. Em Valparaíso, foram 89.624 votantes em 2022, correspondente a apenas 45% do número de moradores.

Já em Águas Lindas, por exemplo, esse valor sobe um pouco mais, 47%, equivalente a 107.616 eleitores. Em Luziânia o percentual é bem maior: 60%, ou seja, 125.926 cidadãos votantes.

Segundo Antônio Reis, o ideal é que esse percentual seja de 70%, levando-se em conta que há menores de idade que ainda não votam e idosos que já não vão mais às urnas.

Alexandre Azevedo: ocorre revisão do eleitorado quando ultrapassa 80% da população (Foto: Divulgação)

Porém, o professor e mestre em Direito Eleitoral, Alexandre Azevedo, esclarece que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) trabalha com percentual máximo, e não mínimo. “Um dos requisitos para fazer a revisão do eleitorado, é quando ele está acima de 80% da população. Neste caso, há suspeita de fraude, a qual pode ocorrer tanto na transferência de eleitores, quanto no alistamento”, pontua. “Já se o eleitorado permanecer até o limite de 80%, não há esse indício”.

Transferência de título

Para Azevedo, a aparente disparidade nos municípios quanto ao percentual de eleitores tem como uma das principais causas a não transferência do título de eleitor para a cidade onde a pessoa vive atualmente. “No mês de maio, quando fechar o cadastro eleitoral, esse número pode aumentar”, prevê.

Já o secretário de Governo de Valparaíso, Roberto Martins, acredita que há também falta de interesse em modificar o domicílio eleitoral. “Identificamos muitos moradores com vínculos sociais e políticos com a capital federal, os quais preferem manter o domicílio eleitoral em Brasília”, observa.

Roberto Martins: “Muitos preferem manter domicílio eleitoral em Brasília” (Foto: Divulgação)

É o caso do vigilante Narcísico Batista de Carvalho, que vive há 12 anos em Valparaíso, mas trabalha e vota no Distrito Federal. “Não vejo melhorias na cidade, os políticos só olham para o Valparaíso I”, justifica.

Quem também não se interessa em transferir o título é o microempresário paulista Francisco das Chagas Gomes, que está há 6 anos no município goiano. “Não me interesso pela política local e pretendo voltar para São Paulo”, revela.

Fenômeno temporário

Em Águas Lindas, o secretário de Economia do município, Nilton Eduardo, afirma que esse descompasso entre número de eleitores e habitantes tende a diminuir. “É um fenômeno temporário, que vem apresentando decréscimo ao longo dos últimos anos”, considera. “Esta situação é passível de mudança à medida em que a população da cidade – que se formou essencialmente pela migração – gradativamente estabelecer vínculos de pertencimento com a estrutura política local”.

Marcos Melo: “A população fincou raízes em Luziânia” (Foto: Divulgação)

Já em Luziânia, com 60% da comunidade local indo às urnas, a tradição fala mais alto e provavelmente explica o percentual razoável de votantes. “É uma cidade antiga, que vai completar 277 anos de fundação e onde a população fincou raízes, algo que muitas vezes não se vê em outros lugares”, analisa o secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Marcos Melo.

O administrador de empresas Paulo Rocha, natural de Aracaju (SE), é um desses moradores que se estabeleceu há vários anos em Luziânia, desde 1990, e adota também a cidade como seu domicílio eleitoral. “Sinto-me no dever de escolher o que for melhor para o município e, assim, tenho também o direito de cobrar o que for necessário”, argumenta.

Paulo Rocha adotou Luziânia como seu domicílio eleitoral (Foto: Divulgação)

O microempresário e vidraceiro Genildo Alvez dos Santos, por sua vez, habitante em Luziânia há 15 anos, resolveu transferir seu título de eleitor para o município somente 10 anos após ter se estabelecido na cidade goiana. “Eu não gostava de votar aqui, porque não conhecia os candidatos. Então, ficava justificando o meu voto”, relata. “Mas com a oportunidade de emprego que tive, eu mudei de ideia”, conclui.