O Entorno do Distrito Federal é hoje uma potência política. A mesma explosão populacional que trouxe dificuldades para a gestão fez com que a região se tornasse chave para qualquer vitória eleitoral — afinal, das 18 maiores cidades de Goiás, oito ficam no Entorno de Brasília. Isso também significa que o Entorno não tem mais dono; diversas forças disputam a maior densidade de votos do Estado. 

Para se ter uma ideia, a taxa de crescimento populacional do Brasil entre 2010 e 2022 foi de 0,52% (a menor desde o início da série histórica, que vai diminuir ainda mais nos próximos anos). Já nos 12 municípios goianos do entorno, o crescimento foi em média de 2,2%; ou seja, 4,4 vezes maior. Cidade Ocidental chegou a crescer 4,21% ao ano. Niquelândia foi a única cidade que encolheu, com déficit demográfico de -1,6% ao ano. 

Hoje, a Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) tem seis deputados que representam o Entorno. Wilde Cambão (PSD), de Luziânia; André do Premium (Avante), de Santo Antônio do Descoberto; Anderson Teodoro (Avante), de Águas Lindas de Goiás; Cristóvão Vaz Tormin (PRD), de Luziânia; Dra. Zeli (UB), de Valparaíso de Goiás; Ricardo Quirino (Republicanos). 

Porém, a concorrência está aumentando e alguns desses nomes terão de trabalhar para se manter na disputa. Cristóvão Tormin tem de se defender de mais de um processo; Anderson Teodoro enfrenta cassação no Supremo Tribunal de Justiça; Ricardo Quirino trabalha pelo Entorno no Legislativo, mas não tem raízes na região (é do RJ, fez carreira no DF, foi escolhido pela Igreja Universal para representar o partido em Goiânia em 2015). Mesmo deputados federais, como Lêda Borges (PSDB), têm asteriscos próximos a seus nomes — a  sobrevivência política da deputada menos votada do estado depende da mudança de partido

O que explica a entrada de novos players? Diversos prefeitos do Entorno conquistaram seu segundo mandato em 2024 (a reeleição foi recorde na região) e já se preocupam com a possível falta de projeção política ao término de suas gestões. Para esses, uma alternativa é fazer deputados em 2026. 

Hildo do Candango, mostrou como funciona: assumiu o cargo deputado federal em 2023 e 2024 e ajudou a eleger sua esposa, Aleandra Sousa (UB) como vice de Lucas Antonietti (UB) em Águas Lindas De Goiás. Em Santo Antônio do Descoberto, o caminho foi inverso — o deputado André do Premium desde 2022 construiu a candidatura a prefeita de sua esposa, Jéssica do Premium (UB), que se elegeu em 2024.

O prefeito de Novo Gama, Carlinhos do Mangão, já ensaia lançar Joscilene Martins, a primeira-dama e Secretaria de Ação Social, à Alego em 2026. Apesar de pertencer ao PL, tem boa relação com a base do governo estadual. O bom relacionamento com a base é condição imprescindível para sucesso no Entorno, onde não pertencem ao grupo de Ronaldo Caiado (UB) e Daniel Vilela (MDB) apenas os candidatos eleitos de Cabeceiras, Cristalina e Formosa. Prova do bom relacionamento é o fato de que Mangão indicou Flávia Arruda (PL) para a Secretaria de Estado do Entorno do DF — Flávia Arruda, por sua vez, indicou Caroline Fleury, atual secretária. Apenas Mangão compareceu à posse da secretária em março de 2023. 

Em recente nota de bastidores do Jornal Opção, se falou sobre a possibilidade de o Entorno lançar o candidato a vice-governador na chapa de Daniel Vilela em 2026. Entretanto, a história mostra que ninguém deve tomar o espaço por garantido. No cenário de acirramento da disputa, a acomodação abre espaço para novos competidores. Quem tende a sair prejudicado são velhos medalhões da política local, acomodados em suas bases, que não perceberam a nova competição. 

(I.C.W)

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