A mestre queijeira e empresária Juliana Moraes, da fazenda Coqueiral, localizada na zona rural de Corumbá de Goiás, município da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF), fez história ao ser a primeira goiana a obter o Selo Arte, uma certificação emitida a itens alimentícios artesanais pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), com inspeção da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa). Com isso, Juliana ganhou o reconhecimento oficial da qualidade e originalidade de seu principal produto, o Queijo Coqueiral, que lembra o coalho, de massa firme e sabor acentuado. E o melhor: ela pode comercializá-lo em todo o país.

À frente da gestão da queijaria desde 2023, a empresária é também uma das diretoras da Rota dos Pireneus. Por mês, na fazenda, são produzidos 1.500 litros de leite, utilizados para a fabricação não só do Coqueiral, como também do D’ju, que lembra o tradicional queijo brie; dos queijos com café e com carvão; e do frescal.

Juliana Moraes apresentou seus produtos na Abav Expo, em Brasília: qualidade, autenticidade e regionalidade (Foto: Divulgação)

Para ela, o Selo Arte é uma certificação muito importante, que atesta a qualidade, autenticidade e regionalidade de seus produtos, além de viabilizar a comercialização. “O selo reforça que o consumidor está adquirindo um produto que segue todas as normas de boas práticas de fabricação”, resume a mestre queijeira.

A queijaria artesanal é uma das atrações da Rota dos Pireneus Queijos e Vinhos, uma iniciativa para fortalecer o turismo nas cidades de Pirenópolis, Cocalzinho e Corumbá de Goiás. “É uma oportunidade para que os turistas possam conhecer o processo de produção dos queijos e vinhos e aproveitar para tomar um café da manhã ou da tarde”, afirma Juliana, que disponibiliza seus produtos em empórios de Pirenópolis e Brasília ou atende a encomendas pelo Instagram.

Queijos de fácil digestibilidade

Na zona rural de Alexânia, o casal Vitório e Noélia Beltran, empresários do ramo de itens cirúrgicos, vem se dedicando aos queijos artesanais nos últimos anos com a Queijaria Lininho, também detentora do Selo Arte.

No início, a produção era de 20 litros de leite de queijo para o consumo da fazenda e da família. “Fazíamos em panelas, de forma bem artesanal, mas sempre com todo cuidado de higiene e segurança alimentar, com a assistência de uma engenheira de alimentos”, explica Noélia. “A quantidade foi aumentando e vimos a necessidade da aquisição de alguns equipamentos para nos ajudar na produção, como, por exemplo, um tanque de produção e pasteurização do leite”.

Os queijos Lininho, de Alexânia, levam leite A2, de vacas geneticamente modificadas (Foto: Divulgação)

As vendas dos produtos eram realizadas nas feiras do município e para alguns amigos. “Sempre recebíamos elogios de como os nossos queijos eram de qualidade. Com as vendas indo bem, decidimos legalizar a queijaria”, relata a empresária. Hoje, o diferencial do empreendimento é o leite A2, de fácil digestibilidade e produzido por meio de vacas geneticamente modificadas.

Para a produtora, o Selo Arte traz diversos benefícios tanto para os produtores, quanto para os consumidores. “Fizemos algumas adaptações na estrutura que já tínhamos e construímos mais uma parte do que hoje é a Queijaria Lininho, conforme todas as recomendações para aquisição do certificado. O selo possibilita vendermos para o todo Brasil e traz uma maior visibilidade para a nossa empresa. Já o consumidor tem a segurança do alimento ser artesanal e com qualidade”, avalia Noélia.

No momento, a queijaria processa, por mês, 450 litros de leite e produz quatro tipos de queijo, sendo dois com zero lactose. É possível encontrar os queijos Lininho em Brasília, Goiânia e Anápolis, além de outros estados, como São Paulo, Bahia, Pernambuco e Alagoas.

Noélia Beltran: “O consumidor tem a segurança do alimento ser artesanal e com qualidade” (Foto: Divulgação)

Regras para o Selo Arte

Atualmente, 12 pequenas queijarias de Goiás, entre elas a Coqueiral e a Lininho, já estão habilitadas com o Selo Arte e, para conquistá-lo, o interessado deve se cadastrar junto à Agrodefesa. Após a formalização, a queijaria passa a receber orientações técnicas oferecidas em visitas periódicas, a fim de estimular práticas adequadas no manejo do gado e na qualidade do leite.

De acordo com o gerente de Inspeção da Agrodefesa, Paulo Viana, para obter o selo, é preciso que sejam atendidos os requisitos sanitários e de fabricação, e garantidas as boas práticas agrícolas, como produção em pequena escala, totalmente artesanal. Além disso, as receitas devem ser autorais. “O produto precisa ser algo totalmente inédito na sua composição, adquirindo sabor único. Esse é o diferencial dos queijos artesanais habilitados. São medidas previstas em instruções normativas da Agência e que o produtor já conhece, já faz parte da rotina dele”, explica o gerente.

Paulo Viana explica que o selo de identificação artesanal é diferente do selo do Serviço de Inspeção Municipal (SIM). “O selo de inspeção é obrigatório para todos os produtos de origem animal. Logo, ao consegui-lo, os produtores podem comercializar seus produtos de forma legalizada e sem preocupação”.

Selo regionalizado

Em relação ao SIM, a Secretaria do Entorno do Distrito Federal (SEDF-GO) luta pela adoção de um selo que seja regionalizado e válido tanto em Goiás, quanto no DF. “Nós temos o selo municipal, mas entendemos que o que pode ser consumido em Goiás, certamente pode ser consumido em Brasília e vice-versa. Nós temos estimulado muito a produção de pequenos produtores, mas como fazer isso, se um grande mercado consumidor, que é Brasília, a gente não consegue comercializar?”, questiona a titular da SEDF-GO, Caroline Fleury.

A chefe da pasta também ressalta que o SIM regionalizado assegura a qualidade e a segurança alimentar dos produtos. “O que a gente observa é a comercialização de produtos de forma clandestina em muitas feiras do DF e não é o que a gente quer. Com a implantação do selo, serão estabelecidas regras em comum, padronizadas e pensadas enquanto uma região metropolitana”, esclarece.

Por ser um projeto interestadual, a viabilização depende de uma regulamentação do governo federal, por meio do Ministério da Agricultura. “Hoje, nós esbarramos nessa questão legal que o selo regionalizado deveria ser feito pelo ministério, mas ainda estamos buscando avançar para que o produtor consiga vender nos municípios vizinhos”, complementa Fleury.

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