Tentar emplacar uma carreira internacional é o sonho de muitos artistas. Mas nem todos conseguem ter esse alcance. Nessa toada, o escritor e mestre em filosofia e metafísica, e professor da Secretaria de Estado da Educação de Goiás, lotado em Valparaíso, no Colégio Estadual Jardim Oriente (CEJO), Elias Fontele Dourado, está nesse momento participando do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián, na Espanha.

Além de escritor, ele é produtor, roteirista e crítico na Fontele Studios, sendo sócio de seu irmão, Gustavo Fontele. Ambos foram convidados para estarem no festival. Elias conquistou notoriedade com o livro “Os Tempos Cerrados”, que foi lançado em maio na livraria Leitura do Shopping Sul, em Valparaíso, e teve grande repercussão na mídia.

Quando estudante de filosofia na Universidade de Brasília (UnB), o escritor costumava divulgar seus textos pelas redes sociais. “Eu tinha vontade de me enveredar pela escrita, mas não sabia como financiar, até buscar o recurso do Fundo de Apoio à Cultura do DF (FAC). Com isso, consegui publicar a obra e imprimi-la”, relata. “Felizmente, meus manuscritos chamaram a atenção de primeira, com as primeiras colocações nos editais do FAC. Desde então, sempre participo dos editais”, acrescenta.

Elias Fontele: “Eu tinha vontade de me enveredar pela escrita, mas não sabia como financiar até buscar o recurso do FAC”

Em relação ao audiovisual, Fontele diz que, com seu irmão graduado em cinema e atuante na área, também conseguiu o apoio do FAC. “Como eu já trabalhava com romance e poesia, entrei na área dos roteiros cinematográficos. Nosso destaque é ‘Hacker Leonilia’, roteiro que está quase pronto. Mesmo ainda em fase de produção, a história também atraiu atenção internacional”, revela Elias.

Festival internacional na Espanha

Em uma parceria com o programa Cinema do Brasil, que projeta trabalhos nacionais para o exterior, os imãos Fontele conseguiram passar em uma seleção de obras latino-americanas no Festival de San Sebastián, onde estão neste momento. “Estamos aqui com os nossos sonhos e a nossa empresa, a Fontele Studios, com o intuito de apresentar o nosso roteiro para pessoas de todo o mundo, desde grupos independentes até produtoras maiores”, comemora. “Ano passado também marcamos presença no Festival de Cannes, o maior da França; no Festival de Veneza, o maior da Itália; e agora é a vez de San Sebastián, o maior da Espanha. Estamos muito felizes”, celebra Elias.

Uma multiartista em Olhos d’Água

Eliana Carneiro é uma multiartista, diretora, atriz, dançarina e arte-educadora. Carioca de nascimento, ela aportou em Brasília ainda na adolescência, mas desde criança participou de muitos ateliês, escolas de dança e oficinas variadas que, segundo ela, foram fundamentais na sua formação.

Eliana Carneiro: “Além de apresentar um espetáculo de qualidade, muitas coisas acontecem para conquistar uma carreira internacional”

A dança sempre foi o carro-chefe de sua trajetória profissional. Hoje, seu ateliê em Olhos d’Água, conhecido como Casa Buriti, é o lugar onde ela compartilha seus conhecimentos, com formações artísticas e de artesanato, de forma gratuita e inclusiva para a comunidade do distrito. Ela também oferece atividades para crianças, jovens e adultos do município, com o projeto Jardim das Artes, além de aulas de dança para todas as faixas etárias. Para a terceira idade são disponibilizados processos de estímulo à leitura e há, ainda, criação de histórias para crianças e jovens especiais.

“Passei um bom tempo em Brasília e, em 1995, fundei a companhia ‘Seus Buriti Teatro de Dança’. A partir daí, surgiu o primeiro espetáculo da companhia, ‘Os Buriti Dançam Bambu’, que acabou virando o nome do grupo, Seus Buriti. Temos toda uma referência do Centro-Oeste, falando sobre um povo indígena e a palmeira que nasce no Cerrado, na beira das águas. Uma verdadeira homenagem ao bioma”, conta Eliana.

Sua filha, Naira Carneiro, na época com seis anos de idade, assistia aos ensaios e logo se interessou pelo mundo artístico, querendo, inclusive, fazer parte do espetáculo. “Achei isso superbacana e tinha certeza de que seria uma experiência muito diferente. O que eu não sabia é que mudaria toda a perspectiva, não só a minha, como a de todo o espetáculo. E, assim, participamos do primeiro Festival Cena Contemporânea, que já era um festival internacional”, afirma.

Como participar de festivais internacionais

Eliana ressaltou sua veia artística, voltada continuamente para a arte-educação. “Esse universo sempre me encantou e me nutre muito. E a relação com as produções artísticas também é de fundamental importância. A partir daí, os convites para viagens no exterior têm tido aspectos que, às vezes, são meio inexplicáveis”, analisa.

Ela enfatiza, ainda, de maneira divertida, as possibilidades que levam ou colaboram para que o artista alcance o mercado no exterior. “Além de apresentar um espetáculo de qualidade, muitas coisas acontecem para conquistar uma carreira internacional. Às vezes, você manda um material com muita antecedência e isso é avaliado. Mas também acontece da organização do festival que você participa, indicar o seu trabalho. Existem, ainda, alguns intercâmbios para artistas, em que você apresenta seu material e acaba dando certo. Alguns festivais, inclusive no Brasil, têm essa perspectiva, de fazer contato, de tentar valorizar os trabalhos daqui e, de alguma maneira, encaminhá-los. Existem comitivas de avaliação e as coisas vão fluindo. Tem alguma coisa de sorte, também, de você encontrar a pessoa certa no lugar certo. Outra é você conseguir focar absolutamente nisso, mandar o seu material, para onde souber que pode ter espaço”, detalha Eliana.

A artista conta ainda que levou uma montagem para um festival na Espanha, juntamente com sua filha Naira e alguns músicos. “Trabalho muito com música ao vivo e música autoral nas peças. E esse recente espetáculo que eu estou dirigindo depois do ‘Silêncio’, tem uma atriz surda. É uma performance de dança-teatro e a gente está adentrando nesse mundo maravilhoso das libras. O espetáculo, que é bilíngue, já esteve na Espanha e, agora, acabamos de voltar de um festival no Paraguai e de temporadas em São Paulo e Rio de Janeiro. Neste momento, a peça está circulando no Rio”, revela Eliana, lembrando que os artistas precisam ficar atentos aos convites que surgem e às possibilidades por meio dos festivais internacionais e de contatos. “Toda essa engrenagem vai se encaixando”, conclui.

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