A proposta do prefeito de Águas Lindas de Goiás, Dr. Lucas Antonietti, feita ainda durante a campanha, em relação à infraestrutura e saneamento, era bastante clara: a ideia era tornar a “cidade atrativa e saudável, capaz de receber investimentos em novos empreendimentos e expandir os atuais”.

Uma de suas promessas foi construir adutoras e reservatórios de água para melhorar o abastecimento, evitando a interrupção mesmo com falta de energia elétrica. Também consta a expansão do serviço de coleta de esgoto; a construção de uma nova rodoviária; um terminal de integração rodoferroviário; a revitalização da BR-070, que corta a cidade; a manutenção das vias que passam pelo município; além de uma criação de área de convivência por meio de ciclovias e outras atrações familiares, entre outros projetos.

No entanto, ao fazer uma comparação da proposta original com informações atualizadas, é possível constatar, só para citar alguns exemplos, que a ciclovia ainda não foi finalizada e nem todos os bairros estão contemplados com pavimentação e coleta de esgoto.

Projetos não implementados

Segundo a ex-vereadora Neide Ferreira de Castro, conhecida como Neide Enfermeira, nada do que está na proposta foi cumprido e a cidade continua abandonada. “Está da mesma forma que há três anos, quando o prefeito assumiu”, acusa. “O município está jogado ao léu”.

Ela destaca determinados projetos que constavam no programa de governo e não foram implementados, como a construção da nova rodoviária e a criação dos terminais multimodais de transbordo de passageiros.

Para a ex-parlamentar, o pouco que é feito no município serve apenas para mascarar a falta de ação da prefeitura. “Eles colocam lampadazinhas de LED, enquanto pessoas morrem por falta de estrutura”, desabafa.

Neide Enfermeira: “O município está jogado ao léu”

Ela diz ainda que os bairros perecem com a falta de cuidados básicos, tornando-se focos de doenças. “Está havendo um surto de dengue. Hoje mesmo irei a um velório de uma pessoa que morreu por dengue hemorrágica. Vemos a cidade repleta de pontos com mato alto, lixo jogado nas ruas e saúde precária”, enumera.

E mesmo com a promessa de melhorar o abastecimento de água, a ex-vereadora conta que é comum moradores ficarem sem fornecimento por até 10 dias, prejudicando atividades simples, como tomar banho ou fazer comida. “Está um calor infernal e estamos vivendo sem água e sem saúde pública. Como se manter desta forma?”, questiona.

Creches abandonadas

A ex-parlamentar também chama a atenção para várias creches que foram entregues na gestão anterior, mas não foram colocadas em funcionamento, como as de Jardim Brasília II, Jardim Paraíso, Águas Bonitas I, Jardim América II e Jardim da Barragem VI.

No vídeo abaixo, Neide encontra-se na creche do bairro Mansões Pôr do Sol, que passou por reforma, mas não foi disponibilizada à população, segundo ela. Confira:

Neide teve seu mandato cassado em novembro por quebra de decoro parlamentar, ao acusar o vereador Chiquinho Craveiro (PTC) de violência doméstica. Os colegas da Câmara Municipal chegaram à conclusão de que tais denúncias eram infundadas. Ela alega, no entanto, ter sido alvo de perseguição política. “Fui cassada por denunciar a corrupção no município”, afirma.

O que diz a prefeitura

Apesar das acusações da ex-vereadora, a prefeitura, em nota, informa que os investimentos em obras e infraestrutura urbana no período de janeiro de 2021 a novembro de 2023 foram superiores a R$ 50 milhões. Tais recursos foram utilizados em diversas obras de pavimentação, esgoto ou águas pluviais em bairros como Coimbra, Sol Nascente, Solar da Barragem, América I, América IV, Mansões Pôr do Sol, Mansões Olinda, Setor 08, Setor 09, Setor 12, Jardim Pinheiro, Jardim Brasília, Barragem I a VI, Jardim Paraíso, Jardim Brasília II, Guaíra e Águas Bonitas.

A nota, porém, não incluiu nesses valores outros empreendimentos que ainda estão em andamento, como a ciclovia; um novo sistema de abastecimento de água realizado pelo Consórcio Águas Lindas, formado pela parceria entre a Caesb e a Saneago; a Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Solar da Barragem; uma nova quadra poliesportiva e pracinha do Setor 11; a Feira do Pérola 2; e 35 casas no Jardim Barragem VI.

Vale mencionar também o Hospital Regional de Águas Lindas de Goiás, realizado em parceria com o governo estadual, e o Mercadão Goiano, que está a cargo do governo de Goiás por intermédio da Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Serviços (SIC), com previsão de entrega em maio de 2024.

Ainda sobre a questão do fornecimento de água e saneamento básico, a prefeitura afirma que foi apresentado à Câmara Municipal o Projeto de Lei n° 036/2021, que dispõe sobre a criação da Agência Municipal de Regulação dos Serviços de Água e Esgotos (Amae/Águas Lindas), com a finalidade de “dar cumprimento às políticas públicas e desenvolver ações voltadas para a regulação, o controle e a fiscalização dos sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário do município de Águas Lindas de Goiás”. A prefeitura espera que a proposta seja aprovada em breve.

“Olhou, tirou fotos e foi embora”

Para muitos moradores de Águas Lindas, porém, persiste a sensação de abandono por parte de quem deveria zelar pelo município. Esta, pelo menos, tem sido a impressão da dona de casa Edvania Maria Moura da Silva, que vive há mais de 20 anos no bairro Jardim América I. “O asfalto veio no ano passado, mas pela metade”, pontua.

Edvania Silva: Falta de saneamento básico e infraestrutura (Foto: Divulgação)

E cita ainda o caso de seu avô, de 85 anos, que mora em outro bairro, no Setor 16, antigo Jardim Califórnia, numa área ainda sem pavimentação. “Ele usa cadeira de rodas e precisamos levá-lo sempre para o hospital, só que não tem como entrar na rua de carro, porque tem muito lixo e sujeira”, explica.

Ela diz ter solicitado ajuda da prefeitura, mas não foi atendida. “Há quatro meses pedi que fosse feita uma terraplanagem, pelo menos para o carro passar”. Fora isso, há problemas de alagamento em época de chuva, o que obrigou a família a construir um muro de retenção para evitar a entrada de água na casa.

Terreno no Setor 16 sem asfaltamento (Foto: Divulgação)

Além de todo esses percalços, falta saneamento básico. “Não temos esgoto, por aqui temos muitas fossas e risco de doenças”, ressalta. E conclui: “Só vi o prefeito uma única vez, passando de carro, quando inaugurou o asfalto pela metade. Olhou, tirou fotos e foi embora”.

O Jornal Opção Entorno mantém o espaço aberto para que a prefeitura se manifeste quanto às denúncias de obras inacabadas ou não realizadas.