Encontro nacional promove a igualdade racial e abre caminhos para o enfrentamento do racismo no Entorno

18 outubro 2024 às 12h40

COMPARTILHAR
Com o objetivo de atualizar e fortalecer a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR), o fórum reúne lideranças e especialistas para discutir estratégias e ações que possam garantir direitos e promover a igualdade racial em todas as esferas da sociedade. A expectativa é que as propostas debatidas ajudem a melhorar a assistência e o apoio governamental na Região Metropolitana do Entorno (RME), onde as desigualdades raciais ainda persistem.
Para Michael Laiso Felix, presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Combate ao Preconceito (CEDHIRCOP), os municípios do Entorno, como Valparaíso de Goiás, Novo Gama, Luziânia e Águas Lindas, ainda precisam avançar nas políticas públicas de igualdade racial. Apesar de já possuírem conselhos formalmente constituídos, poucas ações institucionais são efetivamente desenvolvidas nesses municípios. “A maior parte das iniciativas é oriunda da sociedade civil, principalmente nas áreas de educação e cultura”, explicou o presidente.

Felix, que também é líder da Associação das Tradições Sociais e Culturais Afro-Brasileiras (Atracar), em Águas Lindas de Goiás, com atuação em várias cidades circunvizinhas ao DF, destaca ainda que é possível aprender com as experiências de outros estados e aplicar essas práticas no Entorno. “Um dos principais temas debatidos no encontro é a criação de um consórcio de conselhos de igualdade racial. Estamos discutindo a formação desse consórcio para englobar os municípios do Entorno em uma única política de igualdade racial”, divulgou. Ele frisou, ainda, que o objetivo é, por meio do fórum, criar uma política unificada com o apoio do Conselho Estadual, a fim de abordar a igualdade racial de forma transversal, abrangendo áreas como educação, cultura e saúde da população negra.
Ausência de negros nos espaços de poder
O maior desafio no combate ao racismo é o reconhecimento de sua existência pela sociedade. “Muitas pessoas ainda negam que o racismo é um problema real no Brasil”, observou. Felix ressalta que, ao analisar os dados, fica evidente a ausência de negros nos espaços de poder e liderança. “Por exemplo, no Supremo Tribunal Federal, não temos nenhum juiz negro; no Congresso Nacional, há pouquíssimos negros em cargos de liderança; e até no governo do presidente Lula, que é de esquerda, não vemos tantas pessoas negras em posições de destaque”, salientou. Para ele, essa escassez de representatividade reflete o racismo estrutural e o primeiro passo para enfrentá-lo é reconhecer que ele existe.
Durante o encontro, Felix teve a oportunidade de expor as demandas da região à ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Ele questionou como o Ministério poderia atuar na região metropolitana e na Ride-DF. “A resposta da ministra foi bastante positiva. Ela se mostrou aberta a receber as demandas dos municípios e disposta a desenvolver políticas específicas para combater o racismo na região”.
Capacitação e conscientização
O governo de Goiás já implementou o Programa Goiás sem Racismo. Caroline Fleury, secretária do Entorno do DF (SEDF-GO), enfatizou que o Goiás Social tem ampliado significativamente as iniciativas de combate a qualquer tipo de preconceito. Foi criado o Conselho Estadual de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Combate ao Preconceito, presidido por Felix. Ele já procurou o governo com o objetivo de criar conselhos municipais em todos os municípios do Entorno, que atualmente estão presentes em apenas quatro.

“Além de criar os conselhos, é fundamental que eles funcionem de forma integrada”, afirmou Fleury. “O combate ao racismo e a todos os tipos de discriminação é uma questão cultural que, infelizmente, perdura há muitos anos. Temos esse racismo arraigado na nossa cultura, nos traços do cotidiano, muitas vezes até sem perceber. As pessoas estão sendo racistas, ou estão normalizando o racismo, ou têm a errônea ideia de dizer que o Brasil não é um país racista, que isso é coisa do passado”.
Fleury ressaltou a dívida cultural com a população negra: “Precisamos abordar esse assunto em sala de aula e trazer essa temática para discussão dentro da sociedade. Estamos chamando a atenção para o fato de que o racismo e vários outros tipos de discriminação ainda são extremamente corriqueiros na nossa realidade”. Ela acredita que a criação dos conselhos é uma ação essencial.
A secretária também mencionou as iniciativas já realizadas: “Nós fizemos um seminário em Águas Lindas com os profissionais de segurança pública sobre essa temática. É fundamental capacitar nossos órgãos e agentes para atuarem no enfrentamento desses tipos de crimes e precisamos expandir esse seminário para os demais municípios. O papel da conscientização é crucial para enfrentar esse racismo enraizado. Precisamos educar e qualificar os servidores públicos, trazendo essas questões para dentro das escolas de forma prática, mostrando casos concretos de discriminação que podem ter passado despercebidos”.
Ela destacou a importância da delegacia especializada: “Atualmente, só temos a delegacia especializada em crimes raciais e de intolerância em Goiânia, o que já foi um grande avanço por parte do Estado de Goiás e do governador Ronaldo Caiado (UB), mas precisamos trazer pelo menos uma delegacia desse tipo para a região do Entorno”, avalia. “Estamos falando de trazer a delegacia especializada para o combate a esses crimes, da capacitação da força de segurança, da conscientização da sociedade e de parcerias com a educação, para que esses temas sejam debatidos em sala de aula. As crianças desempenham um papel importante como multiplicadoras dentro da sociedade e em casa. Elas podem chamar a atenção dos pais sobre atitudes racistas que, muitas vezes, são naturalizadas”, concluiu Caroline.
Leia também:
Vereador Neném da Civil é vítima de racismo em Santo Antônio do Descoberto