Com longa trajetória na política, tanto no Executivo, como secretário municipal, quanto no Legislativo, como vereador, deputado estadual e deputado federal, o advogado Francisco Rodrigues Vale Júnior assumiu a presidência da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego) em junho de 2023, a convite do governador Ronaldo Caiado (UB), com o compromisso de continuar investindo no fomento da industrialização em Goiás.

Criada em 1973 como Companhia de Distritos Industriais de Goiás (Goiás Industrial), a Codego só recebeu a denominação atual em 2015, com a promulgação da Lei nº 19.064. Hoje, sob a batuta de Francisco Júnior, a Companhia administra 24 distritos industriais no estado, um deles em Luziânia.

Nesta entrevista ao Jornal Opção Entorno, o presidente da Codego fala sobre os projetos em curso na região circunvizinha ao Distrito Federal, em especial em Luziânia, as perspectivas de expansão da atuação da Companhia no Entorno e o trabalho de assessoria às prefeituras, para atrair empresas e gerar desenvolvimento econômico.

Francisco Júnior com o governador Ronaldo Caiado (Foto: Divulgação)

Luciana Amaral – Qual a importância do trabalho desenvolvido pela Codego em Goiás e no Entorno?

Francisco Júnior – A Codego tem por responsabilidade promover o desenvolvimento econômico e a geração de empregos e oportunidades no território goiano. Hoje a Companhia administra 24 distritos e nós estamos resgatando outras áreas de atuação da empresa. Originariamente “Goiás Industrial”, a Codego foi responsável pelo fomento da industrialização em Goiás, sendo o Daia (Distrito Agroindustrial de Anápolis) o primeiro, maior e mais estruturado distrito no estado, com mais de 10 milhões de metros quadrados, 160 empresas instaladas e cerca de 30 mil empregos gerados. No Entorno, a Codego tem o papel de fomentar o desenvolvimento, assim como no restante do estado. No município de Luziânia, existe um distrito instalado, com algumas empresas funcionando e diversos projetos tramitando. Então, há uma importância, sem dúvida, com relação à criação de postos de trabalho, dada a grande demanda por empregos que existe na região.

Luciana Amaral – O senhor acha que o Entorno tem potencial para abrigar um polo industrial? Quais os empecilhos?

Francisco Júnior – Com certeza, um dos nossos objetivos é desenvolver a região em termos de indústria. Não só em Luziânia, onde temos uma área, um distrito. Há projetos e vontade também de levar a experiência das indústrias via Codego a outros municípios, como Águas Lindas, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto e Padre Bernardo. Todas as cidades do Entorno têm um potencial muito grande. Mas precisamos resolver algumas situações. Basicamente, quando se vai buscar uma empresa, há uma demanda por três características: a primeira é a energia e ela precisa ser suficiente para as empresas funcionarem. Hoje, existe uma carência energética não só em Goiás, como no Brasil, e nós estamos trabalhando para resolvê-la ou pelo menos minimizá-la. A outra questão é a logística: nesse aspecto, a região do Entorno é muito bem servida, porque há um mercado consumidor, uma população consumidora muito expressiva na região, além de termos o Distrito Federal muito próximo. Então, é um ponto bastante positivo. E a terceira é a qualificação da mão de obra. Existem programas do estado e projetos da própria Codego nesse sentido. Esses três pontos são os que mais buscamos resolver, para poder efetivamente atrair empresas e gerar novos negócios na região.

O presidente da Codego com a secretária do Entorno, Caroline Fleury, em visita a Luziânia (Foto: Divulgação)

Luciana Amaral – A Companhia criou no ano passado uma assessoria especial para atender as prefeituras. Como funciona essa assessoria e quais têm sido os resultados desse diálogo com os gestores?

Francisco Júnior – Essa assessoria que estamos criando, uma superintendência, visa o atendimento a prefeituras com ou sem distritos industriais. Naturalmente, as que não têm distrito, estavam antes fora desse diálogo. É papel da Codego fazer a interlocução e buscar investimentos, buscar novos negócios e criar um ambiente para que empresas locais possam crescer e gerar mais empregos. O que estamos criando é uma superintendência, que estou chamando de Novos Negócios e Inovação, para dialogar com o município, perceber as oportunidades e dar, em forma de assessoria ou consultoria, as condições necessárias, em parceria com o município e com o estado, para que a gente possa criar o ecossistema ideal, o ambiente necessário, tanto para trazer novas empresas, quanto desenvolver as que estão lá. Então, é muito mais um serviço de assessoria e consultoria no quesito desenvolvimento regional. Tanto é, que as futuras empresas não precisam vir só para uma região que tenha distrito. Se conseguirmos identificar a vocação do município, gerar aquele ambiente que comentava na questão anterior, da mão de obra qualificada, boa logística e energia, então nós podemos atrair uma empresa, mesmo que não tenha distrito. E aí vamos dar toda a consultoria ao município, no sentido de adequar a legislação, criar as situações e a infraestrutura mínima necessária para que essa empresa possa vir, se instalar e gerar o desenvolvimento na região. Portanto, a intenção nossa é o desenvolvimento da região, não necessariamente a criação de distritos.

Luciana Amaral – Há alguma parceria com a Secretaria do Entorno para facilitar essa comunicação e levar esse serviço às prefeituras?

Francisco Júnior – Eu tenho conversado muito com a secretária do Entorno, a Carol. Recentemente estivemos juntos trabalhando numa visita técnica com a empresa alemã Siemex Solutions. Não existe ainda nenhum protocolo assinado, nada mais robusto, mas existe uma discussão, um diálogo constante na disposição de podermos desenvolver essa parceria. Temos muito que caminhar ainda, mas estamos conversando.

Foto: Divulgação

Luciana Amaral – Quais ações da Codego, além da assessoria às prefeituras, o senhor destacaria na região do Entorno?

Francisco Júnior – Em que pese a preocupação e a vontade de investir do governador Ronaldo Caiado na região – e ele sempre cita que é uma de suas prioridades –, a Codego ainda tem pouca atividade no Entorno. Efetivamente nós temos um distrito, que tem poucas empresas instaladas, e nós estamos iniciando um trabalho no sentido de gerar o ambiente necessário para conseguirmos atrair as empresas. Outro ponto que a Codego começa a fazer agora e pode ter um resultado interessante para o Entorno, é a discussão em torno da geração de energia. A Codego está muito preocupada com a questão energética do estado e a intenção nossa é, em todas as regiões onde a Codego está, onde tem algum distrito, onde nós temos área, designarmos uma parte dessa área para a geração de energia. E no caso do Entorno, há uma possibilidade muito concreta de podermos avançar nesse quesito.

Luciana Amaral – Em Planaltina existe uma empresa de biotecnologia sendo instalada, que vai ser um embrião de um hub de tecnologia no local. O senhor considera que isso pode trazer um grande desenvolvimento econômico para a região? A Codego pode atuar de alguma forma?

Francisco Júnior – Naturalmente, tudo o que é tecnologia, tudo o que é investimento, tudo o que é inovação, é hoje fundamental para o desenvolvimento. Não se pode pensar em desenvolvimento sem pensar em tecnologia e inovação. Então, essa é uma excelente notícia para o Entorno. A Codego não está envolvida nesse projeto, por enquanto, mas está conversando, de forma especial com a Secretaria de Ciência e Tecnologia, para criar um polo de indústria de tecnologia, a princípio na Região Metropolitana de Goiânia. Mas nada impede que nós possamos lincar essas duas ações, discutindo e prospectando projetos nesse sentido. A questão da Inteligência Artificial, do desenvolvimento da tecnologia, da tecnologia no agronegócio e tantas outras áreas, torna-se hoje uma discussão obrigatória, quando se fala em geração de empregos, geração de desenvolvimento e industrialização do estado.

Foto: Divulgação

Luciana Amaral – No início deste ano, representantes da empresa alemã Siemex Solutions estiveram em Luziânia para discutir a instalação de uma fábrica de energia fotovoltaica no município. Como estão as tratativas a respeito desse tema e quais benefícios essa fábrica vai trazer para o Entorno?

Francisco Júnior – Os benefícios são inúmeros. Não é uma fábrica de produção de energia, mas de produção de equipamentos para se criar usinas fotovoltaicas. Hoje, todo esse equipamento é importado, a maioria da China. É uma empresa muito interessante, de altíssima tecnologia e que se desdobra em três projetos. Na verdade, são três indústrias: uma química, uma física e uma de montagem, que trariam um impacto muito interessante para toda a região. Essas indústrias química e física, onde será transformado o silício no produto necessário para se fazer as placas fotovoltaicas, serviriam tanto a indústria de montagem das placas que seriam instaladas em Luziânia, como poderiam vender para o Brasil e para o mundo. Nós ainda estamos em fase de diálogo, respondendo a várias perguntas e concedendo várias informações que a empresa nos solicitou, não só a Codego, mas também as Secretarias de Indústria e Comércio e do Meio Ambiente. Então, todo o estado está envolvido, dialogando com essa empresa, para demonstrar que Goiás, de forma especial o Entorno, Luziânia, é o melhor lugar para ela se instalar.

Em reunião com o prefeito Diego Sorgatto (UB) para discutir melhorias para o distrito industrial de Luziânia (Foto: Divulgação)

Luciana Amaral – O Governo de Goiás quer que o estado seja abastecido completamente com fontes de energia renovável, o que reduziria, inclusive, os custos de operação da Saneago e da Codego. Além da implementação da usina fotovoltaica, existem outras iniciativas nesse sentido na região adjacente ao Distrito Federal?

Francisco Júnior – Realmente, é uma decisão do governo, que lançou esse projeto e a Codego faz parte. Existe esse esforço para que nós possamos contribuir com a geração de energia e com essa transição energética, nesse momento tão necessário. Hoje, o que o Brasil passa, de forma especial no Rio Grande do Sul, é um bom exemplo do que está acontecendo em relação ao meio ambiente. Se nós não cuidarmos agora, as consequências serão drásticas. E não adianta imaginarmos que é uma coisa ou outra: ou desenvolvimento ou sustentabilidade. Nós precisamos fazer as duas coisas. No caso do Entorno, existe um estudo inicial de podermos ter uma usina fotovoltaica. Mas não há ainda orçamento e nem projeto executivo. Então, há uma compreensão da importância dessa usina, até pela população da região, que é muito expressiva. E se nós queremos desenvolver, nós precisamos de energia. Portanto, existe essa compreensão, há vontade e há um início de estudo. Eu entendo que em pouco tempo nós já teremos algo mais definido, alguma coisa mais robusta para apresentar.