Mais do que um meio para se obter mais saúde e qualidade de vida, o esporte é uma ferramenta de transformação, inclusão e superação. O presidente da Associação Paralímpica do Estado de Goiás (Aspaego), José Aparecido de Oliveira Junior, sabe bem o que é isso.

Formado em Educação Física, ele pôde presenciar, ao longo dos anos, pessoas com os mais diversos tipos de deficiência conquistarem grandes feitos, descobrirem seu potencial e alçarem voos outrora inimagináveis. “A deficiência não as define”, enfatiza Aparecido.

E tudo começou em seu próprio convívio familiar, com parentes portadores de algum problema de ordem física ou intelectual. Sua experiência de vida o motivou a ajudar outros a utilizarem suas próprias dificuldades a seu favor, por meio do esporte. Assim, em 2019, José Aparecido fundou a Aspaego, com sede em Goiânia, juntamente com outros professores de Educação Física e pais focados nos mesmos ideais. O objetivo era proporcionar às pessoas com deficiência de todo o Estado de Goiás a oportunidade de se tornarem atletas e participantes de competições regionais, nacionais e internacionais.

A iniciativa foi muito bem-sucedida e José Aparecido conta, ao Jornal Opção Entorno, um pouco dessa trajetória na entrevista a seguir.

Luciana Amaral – Como começou a Aspaego e o que motivou a criação da associação?

José Aparecido – A Aspaego nasceu a partir da observação do cenário do nosso Estado. Existem poucas instituições que trabalham direcionadas para pessoas com deficiência. Em 2019 eu pude compor a delegação de Goiás para as paralimpíadas escolares, em São Paulo, que é o maior evento do mundo para crianças e jovens com deficiência entre 10 e 18 anos. Percebi então que a maioria deles não continuava na carreira esportiva por falta de perspectiva e suporte. Então, ainda em São Paulo, eu e alguns professores de municípios como Aparecida de Goiânia, Cidade Ocidental e Valparaíso decidimos fundar a Aspaego, com o intuito justamente de dar esse apoio a jovens atletas com deficiência dentro do Estado de Goiás.

Luciana Amaral – Antes de surgir a Aspaego, você já havia realizado outros trabalhos ou projetos ligados a pessoas com deficiência?

José Aparecido – Meu trabalho com pessoas com deficiência começou no ano de 2014, com o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), do Governo Federal. Na época, estava finalizando a graduação e iniciei um projeto numa escola pública de Goiânia. Foi a partir daí que comecei a me interessar mais fortemente pelo esporte para pessoas com deficiência.

Luciana Amaral – Como é a relação da Aspaego com o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB)?

José Aparecido – Temos o apoio institucional do Comitê Paralímpico Brasileiro via Centro de Referência Paralímpico, que tem núcleo em Goiânia. Trata-se de uma iniciativa que oferece modalidades paralímpicas para o desenvolvimento de atletas da iniciação até a fase de alto rendimento.

Luciana Amaral – A Aspaego atua na formação de atletas em diversas modalidades. Há algum apoio em nível estadual e federal ao trabalho realizado pela associação?

José Aparecido – Muitos de nossos atletas são beneficiários do Bolsa Atleta do Governo Federal e do programa Pró-Atleta do Governo de Goiás. Nós, enquanto instituição, buscamos a aprovação de projetos e a captação de recursos junto a empresas de médio e grande porte. Também vamos atrás de emendas parlamentares, tanto no âmbito municipal quanto federal.

Luciana Amaral – Uma das iniciativas desenvolvidas pela associação é o Projeto Paralímpicos do Futuro, que tem como núcleos Goiânia e o município de Cidade Ocidental, no Entorno do DF. Em que consiste esse projeto e como ele está sendo financiado?

José Aparecido – Uma das metas desse projeto é o desenvolvimento de modalidades como o parabadminton, o atletismo paralímpico, a bocha paralímpica, a natação paralímpica e o voleibol sentado. Essa iniciativa começou a ser desenvolvida diretamente sem financiamento em 2021, pós-pandemia. Em 2022, conseguimos uma verba de R$ 120 mil via emenda parlamentar, do deputado federal Adriano do Baldy (PP/GO). Com esse valor, compramos materiais esportivos, além de pagar professores e estagiários. Foi a partir desse recurso que conseguimos consolidar o projeto.

Atletas medalhistas da Aspaego no Panamericano de ParaBadminton 2022 (Foto: Divulgação/Aspaego)

Luciana Amaral – Como funciona o núcleo desse projeto na Cidade Ocidental?

José Aparecido – Em Cidade Ocidental nós trabalhamos com parabadminton, bocha paralímpica e o atletismo paralímpico. Temos muitos alunos que foram descobertos na região e que participam das paralimpíadas escolares. Portanto, o Entorno faz parte hoje do nosso campo de atuação. Um dos aspectos que buscamos é a descentralização, pois queremos multiplicadores e parceiros nessas cidades. Aliás, nossas atividades costumam ser em parceria com o município. Em muitos casos, há equipamentos esportivos em desuso ou pouco uso, os quais podemos aproveitar para beneficiar gratuitamente a comunidade e, em especial, as pessoas com deficiência, sem que haja ônus para a prefeitura.

Luciana Amaral – Há intenção de inserir algum núcleo do projeto em outra cidade do Entorno?

José Aparecido – Sim. Nossa intenção é, a partir de 2024, expandir para Luziânia. Tivemos uma reunião com o deputado estadual Wilde Cambão (PSD) e também iremos agendar em breve uma data com o secretário municipal dos esportes de Luziânia, para iniciarmos algumas ações em parceria. Já temos uma metodologia estruturada e um projeto consolidado.

Luciana Amaral – Quantos atletas do Entorno são filiados à associação?

José Aparecido – Temos cerca de 80 crianças e jovens do Entorno com deficiência ligados aos nossos projetos e ações. A intenção para 2024 é ampliar esse número, quando conseguirmos aumentar a oferta de atividades.  Por ser um público com deficiência, é preciso cautela. Cada profissional deve atender até um determinado número de pessoas, sem extrapolar, senão não conseguimos aplicar a metodologia corretamente.

Luciana Amaral – E quantas pessoas, no total, são beneficiadas pela Aspaego, somando as do Entorno?

José Aparecido – Aproximadamente 250. Temos alunos atletas em Itapaci, Alexânia, Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Valparaíso, Cidade Ocidental e Goiânia. Entre eles há campeões brasileiros, panamericanos, sulamericanos, mundiais e paralímpicos. Estamos agora indo para os Jogos Parapanamericanos de Santiago com duas atletas do badminton.

Luciana Amaral – Há atletas do Entorno que se tornaram medalhistas?

José Aparecido – Sim. O Paulo Murilo, de Valparaíso, ganhou medalha no aberto de parabadminton que ocorreu em Goiânia, competindo com atletas de vários lugares do Brasil. Um evento bastante competitivo. Temos também muitos medalhistas do Entorno nas paralimpíadas escolares e a próxima edição terá em torno de 15 representantes da região, em diversas modalidades. Esses atletas são bastante jovens e estamos trabalhando com essa juventude, para que ela possa ser o futuro do esporte paralímpico goiano e brasileiro.

Luciana Amaral – Para finalizar, como você avalia, resumidamente, toda a atuação da Aspaego?

José Aparecido – Temos tido êxito na aplicação dos recursos públicos e no trabalho que temos desenvolvido, não só em relação aos resultados esportivos, mas principalmente pela questão da mudança. Nosso papel enquanto instituição é conscientizar para a emancipação. Não basta apenas oferecer o esporte paralímpico puramente. Precisamos também utilizar o esporte como ferramenta de construção. Muitos de nossos atletas estão cursando ensino superior e outros estão prestes a se formar. Percebe-se uma perspectiva além da deficiência, de buscar uma formação, para se enquadrarem no mercado de trabalho. A conscientização maior é entender que a deficiência não os define. O esporte e a ponte para que eles possam chegar cada vez mais longe.