Entre buracos e esperança: Entorno vive contraste no Dia Mundial do Meio Ambiente

05 junho 2025 às 19h39

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O meio ambiente não é algo distante. Ele é o vizinho de muro, o chão da rua, a árvore da esquina, o córrego que passa atrás da casa. É o que a gente respira, bebe, come e sente. E, quando ele está maltratado, todo mundo sofre junto.
Neste 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, em vez de festa, muita gente só tem preocupação. Em várias cidades do Entorno do Distrito Federal, a destruição da natureza avança rápido. Um dos maiores símbolos disso é a enorme voçoroca — buraco causado por erosão — que cresce às margens da BR-040, em Valparaíso de Goiás. O buraco, que já engoliu parte da vegetação, assusta quem vive por perto. “Eu nasci aqui. Antigamente tinha árvore, bicho, passarinho. Hoje tem só buraco e poeira. A natureza tá cobrando. E vai cobrar mais, se ninguém fizer nada”, alerta seu Antônio Pereira, 58 anos, morador da região.
Para marcar a data, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), lançou em Goiânia o projeto Agro Sustentável, que busca recuperar a bacia do Rio Meia Ponte com ações ambientais. Ele destacou o esforço do estado para unir produção agrícola e preservação. “Goiás é hoje referência nacional em gestão ambiental, com ações concretas que preservam nossas nascentes e promovem o desenvolvimento sustentável”, afirmou o governador.

Mas os desafios são muitos, principalmente nas cidades do Entorno, onde a urbanização avança sem freio. A ambientalista Paloma Ludmyla acredita que tudo começa pela base. “O maior desafio é a educação ambiental. Sem a participação da população e sem gestores capacitados, não há mudança real.”
Ela também critica o descarte irregular de lixo. “Entulho é jogado em qualquer lugar. Falta local adequado, mas também falta consciência.”
Como parte das ações da Semana do Meio Ambiente, a Secretaria do Entorno apoiou o projeto Virada Ambiental, idealizado pela UFG, que vai plantar mais de 15 mil mudas de árvores nativas e frutíferas na região. Pela primeira vez, os 13 municípios do Entorno aderiram juntos à iniciativa.
O secretário Pábio Mossoró vê na ação um caminho certo. “Projetos como o replantio de árvores são essenciais para garantir que o amanhã seja mais sustentável que hoje.”
E como o Entorno está diretamente ligado à capital federal, os impactos se cruzam. A tenente Thais Gonçalves, da Polícia Militar Ambiental do DF, comentou sobre as consequências da degradação. “Tivemos, recentemente, uma escola no Varjão que precisou cancelar as aulas por causa do ataque de uma onça-pintada. O animal chegou a matar um cavalo e outros bichos estão desaparecendo.”
Ela explica que o desmatamento afugenta os animais de seu habitat. “Com o desmatamento, os animais perdem suas casas e vêm buscar abrigo na cidade. Temos tecnologia moderna para fiscalizar, mas precisamos evitar que o crime ambiental aconteça.”
Segundo a tenente, o DF tem utilizado a plataforma Brasil Mais, que usa inteligência artificial para detectar desmatamentos em tempo real. Em 2024, as ações de fiscalização aumentaram, mas o número de denúncias ainda preocupa.
Para José Mário Schreiner, presidente da Faeg, é possível equilibrar produção e proteção.“Produção e preservação hoje caminham juntas. A gente planta, cuida e colhe. Mas precisa de apoio e de regras claras.”
A secretária estadual do Meio Ambiente, Andrea Vulcanis, reforça o avanço da gestão ambiental em Goiás. “Conseguimos estruturar a Secretaria, criar políticas e mostrar resultados. O programa Juntos pelo Araguaia, por exemplo, já tem reconhecimento internacional.”
Enquanto os programas avançam, a realidade de quem vive perto das áreas afetadas continua dura. Seu Antônio, mesmo com pouca terra, cultiva o que pode. “É só um pezinho de goiaba, mas é minha parte. Quem sabe assim meus netos ainda veem essa terra verdinha de novo”, lamenta.
A lição que fica neste Dia Mundial do Meio Ambiente é clara: seja com políticas públicas ou com gestos individuais, o planeta precisa de cada um. Porque a casa é nossa. E não tem para onde fugir.