Mesmo com mais de 47 milhões de embarques registrados em 2024, o transporte semiurbano entre o Entorno do Distrito Federal e Brasília ainda é marcado por superlotação, veículos em mau estado de conservação e altos custos das tarifas para os usuários. As dificuldades são enfrentadas diariamente por pessoas que dependem do serviço para acessar oportunidades de emprego, estudo e atendimento público na capital federal.

Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em dias úteis são transportados, em média, 157.560 passageiros entre o DF e as cidades goianas da região. Nos finais de semana, esse número cai para 90 mil aos sábados e 47 mil aos domingos e feriados. No total, o sistema semiurbano movimentou 47,7 milhões de passageiros ao longo de 2024.

As cidades com maior número de embarques foram Águas Lindas de Goiás (12,2 milhões), Luziânia (9,3 milhões), Cidade Ocidental (5,6 milhões), Valparaíso de Goiás (4,3 milhões) e Santo Antônio do Descoberto (3,6 milhões). Os dados foram fornecidos pela ANTT, a quem cabe a regulação do serviço de transporte semiurbano interestadual.

Apesar da alta demanda, a qualidade do serviço oferecido é alvo de críticas. Morador de Santo Antônio do Descoberto, Fábio Gomes relata que a rotina de deslocamento até o DF é exaustiva e marcada por constantes falhas, são cerca de 55km de trajeto.

“Saio de casa às 5h15 para estar no trabalho às 8h. Não há linha direta para a região da L2 Norte, perto da UnB, o que obriga a pegar dois ônibus. E os veículos da Taguatur estão sempre lotados e quebram com frequência. Já houve semana em que isso aconteceu em três dos cinco dias úteis”, contou o passageiro.

Segundo Fábio, os ônibus apresentam problemas de manutenção, limpeza e atraso. “Já precisei trocar de ônibus duas vezes no mesmo trajeto por falha mecânica. É um serviço caríssimo e precário. A sensação é de abandono por parte do poder público, que deveria fiscalizar essas empresas”, cobrou.

De acordo com dados da ANTT, seis empresas estavam habilitadas para operar as linhas semiurbanas GO/DF até o fim de 2024: Amazônia Inter Turismo (antiga Expresso Planaltina), Central Expresso, Kandango (Catedral Turismo), Rota do Sol, UTB e Taguatur. Esta última foi responsável pelas linhas entre Águas Lindas e Brasília, bem como Girassol (Cocalzinho), até janeiro de 2025. Desde então, parte da operação foi assumida pela Global Transportes, conforme informou a agência.

Frota numerosa, mas ineficiente

Em 2024, a frota total contava com 935 veículos. A UTB operava com 368 ônibus; a Taguatur, com 341; Amazônia Inter Turismo e Kandango, com 71 cada; Central Expresso, com 58; e Rota do Sol, com 26. Ainda segundo a ANTT, não há informações disponíveis sobre o tempo médio de deslocamento nas viagens entre as cidades do Entorno e o DF, porém, ao conversar com os passageiros, a rotina de viagem leva de de 2h a 2h30 de permanência dentro dos ônibus, principalmente nos horários de pico.

Soluções em andamento: BRT e infraestrutura viária

Para tentar mudar esse cenário, os prefeitos da região têm buscado apoio do Governo Federal e apostam em obras estruturantes. Em Luziânia, o prefeito Diego Sorgatto (UB) anunciou a sinalização positiva para a implantação de um sistema de BRT que permitirá maior integração com o transporte do Distrito Federal.

“O transporte público é uma das maiores preocupações da nossa população. Estamos trabalhando para garantir soluções reais e duradouras. O avanço nos projetos do BRT, viadutos e passarelas demonstra que estamos no caminho certo”, afirmou Sorgatto.

Segundo a Prefeitura de Luziânia, o BRT dialoga com a necessidade de integração ao metrô e a outras linhas do DF. Além disso, estão previstos a construção de um viaduto no trevo da cidade e a instalação de duas passarelas na BR-040, na altura do Jardim Ingá — trechos com alto fluxo de pedestres e veículos.

Já em Valparaíso de Goiás, região que faz parte do mesmo corredor do Entorno Sul, o prefeito Marcus Vinícius (MDB) destacou que a conclusão de um viaduto será fundamental, recentemente recebeu recursos do Governo Federal para a fase final da obra. “A prefeitura vem trabalhando para colaborar com a qualidade do transporte e reduzir o tempo do trajeto de Valparaíso até Brasília.”, informou por meio de nota.

As iniciativas no Entorno, no entanto, ainda enfrentam o desafio de suprir uma demanda crescente por mobilidade de qualidade. Para os trabalhadores, a situação do Entorno evidencia a necessidade de um sistema integrado de transporte entre Goiás e o Distrito Federal, com tarifas acessíveis, frota renovada e fiscalização mais rigorosa das operadoras.

Confira a distância e média de tempo entre as cidades e o centro de Brasília

1.           Águas Lindas de Goiás

50 km – 1h30

2.           Cidade Ocidental

49 km – 1h20

3.           Cocalzinho de Goiás

90 km – 2h10

4.           Cristalina

140 km – 2h30

5.           Formosa

80 km – 1h20

6.           Luziânia

60 km – 1h20

7.           Novo Gama

35 km – 1h10

8.           Padre Bernardo (Monte Alto)

65 km – 1h40

9.           Planaltina de Goiás

47 km – 1h40

10.         Santo Antônio do Descoberto

52 km – 1h50

11.         Valparaíso de Goiás

35 km – 1h30