Por Márcio Aguiar*

O reconhecimento da situação de emergência por parte do Governo Federal para o município de Planaltina de Goiás permite o acesso a recursos da Defesa Civil Nacional, mas evidencia também um desafio maior – até quando os municípios conseguirão enfrentar essas crises sem políticas públicas estruturantes?

Planaltina de Goiás teve sua situação de emergência oficializada pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), permitindo à prefeitura solicitar apoio financeiro para assistência humanitária. O prefeito Cristiomário Medeiros (PP) ressaltou as dificuldades enfrentadas pelo município para lidar com os danos causados pelas chuvas, destacando que a administração municipal apresentou uma série de documentações e levantamentos para justificar a necessidade de auxílio federal.

Com o reconhecimento da emergência, o município poderá obter recursos para aquisição de cestas básicas, fornecimento de água potável, refeições para equipes de trabalho e voluntários, além da distribuição de kits de limpeza, higiene pessoal e dormitório. Esse suporte é fundamental para amenizar os impactos imediatos da calamidade, mas não resolve o problema estrutural – a falta de um planejamento de longo prazo para evitar que desastres semelhantes se repitam.

Em Formosa, a prefeita Simone Ribeiro (PL) também decretou situação de emergência diante do cenário alarmante de alagamentos em diversos bairros e estradas intransitáveis na zona rural. O assoreamento do córrego Josefa Gomes, agravado pelo acúmulo de lixo, transforma minutos de chuva em um verdadeiro caos, arrastando veículos, invadindo residências e colocando em risco a segurança da população.

O decreto de emergência facilita a liberação de recursos para ações rápidas de recuperação da infraestrutura, mas, assim como em Planaltina, expõe a necessidade de um planejamento urbano mais eficiente. O crescimento desordenado, a falta de drenagem adequada e o descarte irregular de resíduos são fatores que agravam a vulnerabilidade da cidade, tornando as enchentes um problema recorrente.

Os decretos de emergência são instrumentos necessários para dar uma resposta rápida às crises, mas não podem ser encarados como solução definitiva. O que se observa nos municípios do Entorno do DF é um padrão de resposta reativa, sem ações estruturantes que reduzam a vulnerabilidade das cidades às chuvas.

A falta de investimentos em drenagem urbana, manutenção de rios e córregos, infraestrutura viária e políticas de habitação planejada intensifica os efeitos das chuvas, resultando em prejuízos materiais e sociais recorrentes. Além disso, a ausência de programas contínuos de educação ambiental e gestão de resíduos agrava o problema, como visto em Formosa, onde o lixo acumulado potencializa os alagamentos. Este será um dos maiores desafios da gestão da prefeita Simone Ribeiro, planejar e resolver o que gestões passadas não resolveram em décadas.

Os desafios enfrentados por Planaltina de Goiás e Formosa são reflexo de uma realidade que se repete em diversas cidades brasileiras. A busca por soluções passa pelo comprometimento dos governos municipais, estaduais e federal em criar políticas públicas eficazes, mas também pela conscientização da sociedade. O descarte irregular de lixo, por exemplo, é uma questão que exige um esforço conjunto entre poder público e população para ser resolvida.

A resiliência dos municípios do Entorno do DF diante das chuvas dependerá da capacidade de seus gestores em planejar o futuro com estratégias de prevenção, e não apenas de reação. A liberação de recursos emergenciais é essencial no curto prazo, mas é preciso ir além – investir em infraestrutura, educação ambiental e planejamento urbano é a única forma de garantir que as cidades estejam preparadas para enfrentar as chuvas sem que a emergência se torne, ano após ano, uma rotina previsível e devastadora.

*Márcio Aguiar – Cientista político, consultor em comunicação e marketing político

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