Incêndios no período de seca: ação humana e o papel da tecnologia no combate ao fogo
07 setembro 2024 às 09h35
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Seja por práticas agrícolas inadequadas ou por atos criminosos, os incêndios têm causado devastação ambiental e colocado em risco tanto a saúde da população, quanto a biodiversidade.
Nos últimos anos, os incêndios criminosos tornaram-se uma triste marca no cenário ambiental brasileiro. Durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), as taxas de desmatamento e queimadas aumentaram consideravelmente, especialmente na Amazônia e no Cerrado. O discurso político e a flexibilização de legislações ambientais contribuíram para o aumento de práticas irresponsáveis. Entretanto, mesmo com a mudança de governo, os incêndios praticamente triplicaram e continuam a ser uma preocupação também sob a administração do presidente Lula (PT), mostrando que o problema exige uma abordagem estrutural e contínua.
Diante desse cenário, o uso de tecnologias avançadas e de estratégias como o Manejo Integrado do Fogo (MIF) é fundamental para combater os incêndios de grandes proporções. O MIF propõe uma gestão planejada do uso do fogo, a partir do conhecimento científico. Além disso, a ferramenta utiliza tecnologias de monitoramento, como satélites e drones, para detectar focos de incêndio de forma rápida e precisa.
O MIF oferece uma abordagem equilibrada, prevenindo que o uso controlado do fogo em áreas específicas evolua para incêndios descontrolados. Isso não só melhora a qualidade do ar, reduzindo emissões de carbono e outros poluentes, como também minimiza o risco à vida humana e à fauna, que sofre com a destruição de seus habitats naturais.
A adoção de tecnologias avançadas no combate aos incêndios já vem sendo implementada pelo governo federal e pelo governo do Estado de Tocantins. No Cerrado, bioma que sofre com a intensificação das queimadas durante a seca, o MIF tem sido uma ferramenta indispensável para proteger vastas áreas de vegetação e garantir a sobrevivência de várias espécies ameaçadas, bem como proteger as nascentes e lençóis freáticos.
Reconhecendo a gravidade da situação, o governo de Goiás, sob a liderança do governador Ronaldo Caiado (UB), editou o Decreto n° 10.539/2024, que estabelece medidas emergenciais para enfrentar o período de seca e as queimadas. O decreto, que impõe vigilância por 180 dias e coloca 20 municípios em estado de alerta máximo, torna crime o ato de queimar florestas, matas, pastagens e lavouras durante o período de emergência ambiental.
Essa ação é um passo importante para conter os incêndios criminosos e evitar que áreas não protegidas sejam devastadas. Caiado, que tem demonstrado um compromisso sério com o combate aos incêndios, reforça que a fiscalização rigorosa e a punição para aqueles que desrespeitam as regras são essenciais para preservar o meio ambiente e garantir a segurança das comunidades afetadas.
No Entorno do Distrito Federal, dois municípios foram incluídos no decreto de Caiado: Luziânia e Santo Antônio do Descoberto. Essas cidades, que já sofrem com uma infraestrutura limitada, são particularmente vulneráveis aos impactos das queimadas. A vegetação do Cerrado que circunda essas áreas é altamente inflamável durante a seca, e os incêndios rapidamente se espalham, colocando em risco a saúde da população e causando danos irreversíveis ao ecossistema.
Em Luziânia, as queimadas aumentam a pressão sobre as reservas de água, já escassas durante o período de seca. O aumento da poluição do ar também tem efeitos graves sobre a saúde pública, especialmente para crianças e idosos. Em Santo Antônio do Descoberto, a situação é igualmente alarmante. A cidade, localizada em uma área de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica, enfrenta a perda de áreas importantes de vegetação nativa, cruciais para a manutenção do equilíbrio ambiental.
Sendo assim, a importância de medidas preventivas, como o uso de drones para monitoramento e a implementação do MIF, não pode ser subestimada. A conscientização da população e a vigilância constante das autoridades são fundamentais para garantir que as áreas ao redor de Luziânia e Santo Antônio do Descoberto não se tornem cenários de devastação. Estes são temas importantes, que precisam constar nos planos de governo dos candidatos a prefeitos e candidatas a prefeitas nos dois municípios.
Em suma, o período de seca e as queimadas representam um desafio contínuo para o Brasil, especialmente em áreas como o Cerrado e o Entorno do Distrito Federal. A combinação da ação humana irresponsável e das condições climáticas adversas torna essencial o uso de tecnologias como o MIF e a implementação de políticas públicas eficazes, como o Decreto n° 10.539/2024 de Goiás.
O combate aos incêndios florestais não é uma responsabilidade apenas dos governos, mas também da sociedade civil. A conscientização e o uso de tecnologias de ponta são cruciais para proteger o meio ambiente e garantir que futuras gerações possam desfrutar dos recursos naturais e da biodiversidade que ainda restam.
Portanto, ao focar em municípios vulneráveis como Luziânia e Santo Antônio do Descoberto, no Entorno Sul, e mais 18 municípios goianos, o governo de Goiás dá um passo importante para mitigar os impactos das queimadas e proteger tanto a vida humana quanto o meio ambiente. No entanto, o sucesso dessa empreitada depende de uma ação coordenada entre governo, sociedade e setor privado. Só assim será possível evitar que as chamas do descuido e do crime consumam o que há de mais precioso: nossas florestas e nossas vidas.
*Márcio Aguiar – Cientista político, consultor em comunicação e marketing político