Juraci Pessoa de Carvalho (63), dono da varejista Tesoura de Ouro, foi preso pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) na última semana. A operação, batizada de Sarto, visa combater os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e sonegação de impostos, que acarretaram uma dívida com o Governo do Distrito Federal (GDF) equivalente a mais de R$ 45 milhões.

O empresário estava em uma academia, no Sudoeste, área nobre de Brasília, no momento da prisão. No total, foram cumpridos 26 mandados de busca e apreensão e um de prisão temporária em empresas e residências de investigados nas regiões administrativas do Sudoeste, Águas Claras, Vicente Pires, Núcleo Bandeirante, Taguatinga, Recanto das Emas e Ceilândia, além de dois municípios do Entorno: Planaltina de Goiás e Cidade Ocidental.

Evasão fiscal

A investigação descobriu que os investigados usavam pelo menos 123 empresas falsas para emitir notas fiscais fraudulentas, a fim de evitar o pagamento de impostos e movimentar dinheiro ilegalmente. Tais empresas estavam conectadas a outras reais e tinham pessoas comuns como proprietárias no papel, embora movimentassem grandes quantias de dinheiro. Por exemplo, um motorista tinha seu nome ligado a 47 empresas diferentes.

O objetivo de usar indivíduos comuns como proprietários dessas empresas falsas era proteger os verdadeiros donos do grupo, que se beneficiavam da evasão fiscal e da criação de créditos fiscais falsos. Para dificultar a detecção das atividades ilegais, o dinheiro proveniente da evasão fiscal era dividido entre várias contas bancárias registradas em nomes de “laranjas”, tornando difícil rastrear esses valores pelos órgãos de investigação.

Empresários do Entorno são alvos

O delegado titular Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor/PCDF), Leonardo de Castro, esclarece que a operação Sarto foi feita com análise de dados obtidos por meio de medidas cautelares autorizadas pelo Poder Judiciário, como, por exemplo, a quebra de sigilo bancário dos investigados e das empresas. “A investigação, ao menos por enquanto, está direcionada a empresários do Entorno do Distrito Federal. Por fim, esclarecemos que os próximos passos serão a análise do material apreendido por ocasião das buscas realizadas na operação e a oitiva dos envolvidos”, destacou o policial.

Por fim, o delegado informou que o Decor não divulga nomes ou outros dados de identificação dos investigados, tampouco revela estratégias e técnicas específicas utilizadas nas suas investigações. Vale destacar, ainda, que a alcunha “Sarto”, criada para nomear a operação e que significa “alfaiate”, em italiano, se deve ao fato dos suspeitos serem, principalmente, do ramo de confecções.

A Operação Sarto, da PCDF, tem como principais investigados os empresários do ramo de confecções (Foto: Divulgação)

Quase parlamentar

Juraci Carvalho tentou se tornar deputado federal em duas ocasiões. Em 2018, ele se candidatou ao cargo pelo partido Republicanos. Na época, já enfrentava processos na Justiça por sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Ainda como candidato, afirmou possuir R$ 5,3 milhões em espécie.

Em 2022, ele buscou novamente uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo mesmo partido e declarou mais de R$ 4 milhões em bens. De acordo com dados do TSE, Juraci gastou mais de R$ 3 milhões em sua campanha, mas não foi eleito.

Tesoura de Ouro

Uma das maiores marcas de varejo no segmento de vestuário e calçados do Centro-Oeste brasileiro, a Tesoura de Ouro abriu sua primeira loja na Região Administrativa da Ceilândia, no Distrito Federal, em 1992. Hoje, são 42 unidades espalhadas pelo DF e Entorno, além das vendas em plataformas digitais.