Campanha que teve início em 2015 no Brasil, o chamado Setembro Amarelo traz várias ações ao longo do mês, mas seu ápice acontece hoje (10), o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Este, aliás, é o cerne e a razão de ser da iniciativa. Municípios do Entorno estão engajados em torno do tema, como é o caso de Planaltina de Goiás, Luziânia, Cristalina e Santo Antônio do Descoberto, que organizaram uma programação especial para discutir a questão, ainda muito estigmatizada e vista como um tabu.

Uma das principais ações da campanha em Planaltina é o Seminário Saúde Mental em Ação, que acontece hoje, na Câmara de Vereadores, sendo voltado a profissionais da área e trazendo como tema “Cuidados em saúde mental no SUS e o papel da atenção psicossocial”.

Segundo a secretária de Saúde do município, Daniela Borges Meneses, o seminário visa cuidar da saúde dos profissionais de forma unificada. “A ideia é conscientizá-los a não desistirem do amor, não desistirem de amar, não se entregarem à dor, porque ela um dia vai passar. Desta forma, seremos uma rede de apoio mais fortalecida. Peça ajuda, vale a pena viver”, declara.

O prefeito Cristiomário Medeiros em ações de conscientização nas escolas pela campanha Setembro Amarelo (Foto: Divulgação)

Um dos palestrantes do evento, o médico Carlos Henrique Queiroga, chama a atenção sobre aspectos que estão afetando a saúde mental da sociedade, como o uso da tecnologia para conexão com o mundo. “Hoje, está todo mundo conectado, mas vejo também uma aceleração do processo de individualização, em que as pessoas passam a maior parte de seu tempo conectadas com algumas coisas que, às vezes, nem são reais, um mundo completamente diferente daquilo que nós vivemos no dia a dia.  E isso tem trazido um adoecimento”, analisa.

Para ele, a sociedade encontra-se adoecida e a porta de entrada desse processo é a mente. “São os conflitos internos, bagagens já trazidas em nossas vidas, que às vezes não paramos para descansar e para olhar o que que realmente precisa ser feito”, reflete. “Temos alegrias, vitórias e conquistas, mas temos também muitas feridas. E o que acontece? No nosso passado nós não podemos mexer. Mas, no que está acontecendo, nós podemos remodelar, dar uma nova vestimenta, para que o nosso presente seja mais tranquilo e que tenhamos um futuro mais harmonioso, mais saudável”, ensina o médico, lembrando que profissionais de saúde acabam sendo muito afetados pelo sofrimento das pessoas com quem lidam no dia a dia.

Foco nos profissionais de saúde

Para Queiroga, é importante um momento de integração com os funcionários envolvidos nesse trabalho, para que haja uma melhoria também na saúde mental desses profissionais. “Acredito que ao oferecer para os cuidadores uma saúde mental mais digna, eles vão poder cuidar das pessoas com mais carinho, com mais afeto e com mais amor”, avalia.

Carlos Queiroga diz que é preciso também cuidar da saúde mental dos profissionais e cuidadores (Foto: Divulgação)

O prefeito do município, Cristiomário Medeiros (PP), concorda que é essencial falar sobre o assunto, tanto com os profissionais da área, quanto com a população. “É um tema muito sensível, que, infelizmente, tem abalado muita gente. É muito importante debater e apoiar iniciativas do poder público, especialmente, para que possamos chegar nas famílias, que é o núcleo mais atingido por essa situação”, frisa o gestor. “Têm surgido muitos problemas emocionais na nossa sociedade. Vários deles relacionados à questão da depressão e outros, gerando um aumento no número de suicídios. Precisamos ajustar as famílias do melhor jeito possível e dar esse apoio necessário, a fim de que as pessoas continuem sendo úteis na sociedade e mantendo esse núcleo familiar intacto”, ressalta.

Apoio às unidades de saúde mental

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil ocorrem cerca de 14 mil casos por ano, perfazendo uma média de 38 suicídios por dia. “Temos que apoiar e investir cada vez mais nas ações de conscientização acerca da importância da saúde mental. A campanha do Setembro Amarelo permite que mais pessoas tenham conhecimento, busquem ajuda e procurem tratamento”, comenta o prefeito de Luziânia, Diego Sorgatto (UB).

Diego Sorgatto: “A campanha permite que mais pessoas tenham conhecimento, busquem ajuda e procurem tratamento” (Foto: Divulgação)

O secretário de Saúde do município, Glênio Magrini Roque, por sua vez, diz que a Secretaria está dando ênfase ao tema em suas atividades ao longo do mês, inclusive prestando apoio às unidades de saúde mental na cidade e aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). “Não apenas a clínica de psicologia, mas todas as unidades básicas de saúde, estão desenvolvendo palestras e ações nesse sentido”, ressalta.

Conscientizando a sociedade

O município de Cristalina, também organizou uma programação específica para o Setembro Amarelo, como explica o prefeito da cidade, Daniel Sabino Vaz (UB): “Temos encontros no CAPS com todos os pacientes e vamos à UPA, aos postos de saúde e ao hospital, transmitindo informações às famílias, pessoas e nossas equipes, a fim de instruir os cidadãos quanto à prevenção do suicídio. Serão realizadas também caminhadas para chamar a atenção a respeito do tema”.

Já em Santo Antônio do Descoberto, a secretária municipal de Saúde, Macbena Marques, acredita ser fundamental abordar o assunto junto à toda a sociedade. “Precisamos atuar ativamente na conscientização do valor da vida e ajudar na prevenção do suicídio, tema que ainda é visto como tabu”, reconhece Macbena.

Macbena Marques: conscientização sobre o valor da vida (Foto: Divulgação)

Saber, falar e agir

Em nível estadual, a campanha promovida pela Secretaria da Saúde de Goiás (SES-GO) traz como slogan “É preciso Saber, Falar e Agir para Prevenir”. “A Gerência de Saúde Mental está realizando um ciclo de encontros, em que uma das temáticas é sobre prevenção de suicídio na infância e juventude, demanda muito recorrente nos territórios e ainda pouco discutida”, destaca a coordenadora de Educação Permanente e Continuada da Gerência de Saúde Mental do Estado de Goiás, Elma Batista Aniceto.

Além desses encontros, a SES-GO orienta todas as suas unidades, incluindo as regionais de saúde, a realizarem atividades de formação dos profissionais. “Nossa meta é trabalhar com orientações sobre sinais e o que fazer em caso de identificação da pessoa com indícios de sofrimento mental intenso e, ainda, garantir acesso da população à Rede e Atenção Psicossocial disponível nos diversos municípios goianos”, explica a psicóloga da Secretaria, Ana Paula de Menezes Silveira.

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