Uma grande operação da Polícia Federal deixa Planaltina de Goiás em alerta

13 junho 2024 às 13h48

COMPARTILHAR
“Com Solidariedade a gente muda o Brasil”. No entanto, segundo a investigação da Polícia Federal, o que vem mudando, de fato, é a conta bancária de dirigentes do partido Solidariedade. Um dos investigados da operação, Eurípedes Gomes Júnior, atual presidente do partido, é uma figura conhecida nos tribunais. Em julho de 2020, ele foi afastado da presidência do Partido Republicano da Ordem Social (Pros) devido a acusações de desvio de recursos do partido. Contudo, em agosto de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o reintegrou ao cargo. Em fevereiro de 2023, o Pros foi incorporado ao Solidariedade.
Outros problemas com a justiça
Com um currículo controverso, em 2020, o investigado, que foi presidente fundador do Pros, também foi acusado de agredir a sua filha de 19 anos para tomar o carro dela. Um laudo médico na época confirmou que a jovem sofreu uma forte pancada no quadril e mordidas na mão. Como resultado, a Justiça do DF emitiu uma medida protetiva, proibindo-o de se aproximar da filha.

Eurípedes já esteve à frente da Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Distrito Federal. Em 2014, candidatou-se a deputado federal por Goiás, recebendo mais de 70 mil votos, mas ficando como suplente. Antes disso, em 2008, foi eleito vereador por Planaltina de Goiás e, no mesmo ano, tornou-se presidente da casa.
O que diz a Polícia Federal
A reportagem do Jornal Opção Entorno conversou com a assessoria da Polícia Federal, que explicou que as ações tiveram início após uma denúncia feita pelo então presidente do partido contra um ex-dirigente, o qual teria desviado cerca de R$ 36 milhões. Foram emitidos sete mandados de prisão preventiva, 45 mandados de busca e apreensão em Goiás, São Paulo e no Distrito Federal, além do bloqueio de R$ 36 milhões e o sequestro judicial de 33 imóveis, autorizados pela Justiça do DF.
Os relatórios de inteligência financeira e análises das contas de supostos candidatos revelaram indícios de uma organização criminosa estruturada para desviar recursos do Fundo Partidário e Eleitoral. Esse esquema envolvia candidaturas fictícias, superfaturamento de serviços de consultoria jurídica e desvio de recursos destinados à Fundação de Ordem Social (FOS), ligada ao partido.
Os atos de lavagem de dinheiro foram descobertos por meio da criação de empresas fantasmas, aquisição de imóveis por intermediários e superfaturamento de serviços para os candidatos fictícios e o partido. Os suspeitos estão sendo investigados por organização criminosa, lavagem de dinheiro, furto qualificado, apropriação indébita, falsidade ideológica eleitoral e apropriação de recursos para financiamento eleitoral.
Até agora, foram presos: Cintia Lourenço da Silva (tesoureira do Solidariedade) e Alessandro Sousa da Silva, conhecido como Sandro do Pros. O ex-deputado distrital Berinaldo da Ponte foi alvo de um mandado de busca e apreensão. Eurípedes Júnior permanece foragido.
A reportagem tentou contatar o Solidariedade, mas não obteve resposta. O espaço permanece disponível para que o partido se manifeste.
O que dizem os especialistas
A advogada criminalista Renata Andrade explicita as consequências previstas em lei para os crimes de lavagem de dinheiro: “Os crimes a serem imputados pelos investigados possuem penas elevadas a serem cumpridas em regime mais gravoso, como o cumprimento no regime fechado, ainda que os investigados possuam benesses como as condições pessoais favoráveis. A exemplo, podemos citar a primariedade do agente em práticas ilícitas e os bons antecedentes criminais, que poderiam ensejar em uma diminuição de pena e, consequentemente, um regime mais brando”.

Segundo ela, esses delitos costumam ser punidos com rigor. Ela explica: “Crimes que envolvem vantagem econômica possuem uma rigorosidade maior do legislador, que tem a intenção de evitar a dissimulação do dinheiro obtido ilicitamente e recolocado no mercado como se fosse aferido de forma lícita. Nesse sentido, os investigados podem responder cumulativamente pelos crimes de lavagem de dinheiro, furto qualificado, apropriação indébita, falsidade ideológica eleitoral e apropriação de recursos destinados ao financiamento eleitoral”, conclui a advogada.