Racismo durante campanha vira caso de polícia em Cristalina. Confira os áudios e prints
09 setembro 2024 às 16h23
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“É feia, viu Aline? Eu vi sua foto, você é triste de feia. Vai fazer uma progressiva também, vai?”. Esta é uma entre diversas declarações de cunho racista proferidas pela servidora da Câmara Municipal de Cristalina, Cacilda Barbosa de Brito, em áudios e prints recebidos em primeira mão pelo Jornal Opção Entorno. O denunciante não quis se identificar, por medo de represálias. Cacilda ainda acrescentou: “‘Ingual’, Aline? Aprende a falar, viu? Fica falando errado nos grupos não, que roda. ‘Inguaaal’. Tem que ir pro Mobral, hein?! Começar tudo de novo”.
Nomeada para a Casa de Leis do município pelo presidente da Câmara, vereador Marquim da Feira (PP), a servidora se identifica em suas redes sociais como “proprietária do Grupo da Venenosa”, de WhatsApp. Nos áudios, ela se dirige a várias pessoas de forma pejorativa e ainda mostra preconceito com religiões de matriz africana: “Vocês são ‘macumbeirinho’, né?!”. Suas declarações miraram até mesmo uma das mais famosas influencers brasileiras, Jojo Todynho (áudio anexo no final da matéria).
“Tem áudio pior”
As gravações também trazem falas de vítimas dos atos racistas. “Estamos olhando o grupo e recolhendo os outros áudios, porque tem áudio pior. Ela chama nós (sic) de ‘turma de pretas’, né?! Estamos recolhendo os áudio (sic) tudo. Nós vamos guardar tudinho aqui”. O presidente da Câmara também é citado: “O Marquim que tá mandando ela fazer isso”.
O Jornal Opção Entorno tentou entrar em contato com Marquim da Feira, mas não obteve retorno até o fechamento da edição. Entretanto, em um grupo de WhatsApp chamado “Burin sem Censura”, ele se defende, dizendo que não teve qualquer envolvimento nas declarações de Cacilda. “Sobre o caso citado, digo que sou totalmente contra qualquer tipo de preconceito ou desrespeito para com as pessoas. Creio que os fatos não aconteceram em horário de expediente/ trabalho da pessoa em questão, a mesma é maior de idade e responsável por seus atos, principalmente quando está fora do seu local de trabalho. Reitero mais uma vez ser totalmente contra qualquer tipo de preconceito ou racismo, e os envolvidos que se sentiram vitimados por tais crimes, têm todo direito de buscar a Justiça. No mais, fica a cargo da Justiça”.
Boletim de Ocorrência
Na manhã desta segunda, uma das vítimas registrou Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia de Cristalina e, de acordo com o relato, Cacilda lhe xingou de “macumbeirinho fajuto” e de ser proprietário de um “terreiro de macumba”. Ela teria também divulgado áudios usando esses mesmos termos ao se referir não só à pessoa denunciante, como também outras vítimas, mandando-as “voltarem para a Bahia”. “Elas vêm aqui em Cristalina trabalhar de cabo eleitoral para ganhar migalhas”, teria dito Cacilda. Segundo consta no B.O., tais atitudes seriam motivadas por razões políticas.
Ainda, de acordo com o Boletim, tais fatos podem ser tipificados como difamação e injúria ou incitação à discriminação ou preconceito em razão de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional praticado por funcionário público.
Áudios polêmicos
Confira, a seguir, o conteúdo de alguns áudios recebidos pela reportagem:
Direito de resposta
O Jornal Opção Entorno tentou contatar Cacilda Barbosa de Brito por telefone e mensagens, mas não houve retorno até o fechamento da matéria.
Ela se manifestou, posteriormente, via mensagem no Direct, enviando um vídeo no qual alega ter sofrido “uma série de ataques pessoais” nos últimos dias. Tais ataques, segundo ela, provocaram uma reação emocional. “Reconheço que, por conta da intensidade dos acontecimentos, minhas palavras ou ações podem ter sido mal interpretadas e, por isso, lamento profundamente qualquer desconforto causado”.
Confira a íntegra do vídeo no link a seguir:
https://www.instagram.com/reel/C_uD2IOsWCc/?igsh=MXVoeXVwa2htcnlzYw%3D%3D