Dados do IPEDF apontam a força do agro na economia do Entorno
20 dezembro 2023 às 13h13
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Os dados da análise da atividade econômica do DF e dos municípios pertencentes à Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal e Entorno (Ride) e à Área Metropolitana de Brasília (AMB) foram apresentados na última semana pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF).
Das atividades produtivas consideradas no levantamento, a agricultura e a agropecuária foram as de maior valor adicionado em 12 municípios da Ride. A participação dos setores da agropecuária, indústria e serviços corresponde a 3,6%, 5,1% e 81,1%, respectivamente, do Produto Interno Bruto (PIB) da Ride. Porém, sem a inserção do Distrito Federal nos dados, a agropecuária passa para 22,8%, o setor de indústrias para 15,7% e o de serviços para 52,9%.
Analisando a participação do setor agropecuário, nove municípios, todos situados em Goiás, exibem uma parcela superior a 50%, indicando uma forte base econômica agrícola. Mimoso de Goiás (GO) registra o maior índice, com 76,4% do valor adicionado no municipal gerado pela agropecuária. Outros municípios também se destacaram nesse setor, como Água Fria de Goiás (75,8%), Cabeceiras (69,1%) e São João D’Aliança (62%).
Formando uma espécie de cinturão agrário em torno do DF, esses municípios são importantes para o abastecimento da região. “Por isso ressaltamos nesse estudo a importância de políticas relacionadas ao desenvolvimento econômico e ao desenvolvimento de infraestruturas que permitam o deslocamento e a ligação entre as regiões, voltadas para o escoamento dessa produção”, explica a coordenadora de estudos econômicos da Diretoria de Estatística e Pesquisas Socioeconômicas (DIEPS) do IPEDF, Adrielli Santana.
Monitoramento da estrutura produtiva
O estudo faz parte do Sistema de Contas Regionais (SCR) e é fruto de uma parceria do IPEDF com a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de contar com dados dos órgãos estaduais de estatística. A primeira apresentação do PIB da Ride foi realizada em 2020 (fazendo referência ao PIB municipal de 2018).
A análise mescla informações do PIB de Brasília, de 29 municípios do estado de Goiás e de quatro municípios de Minas Gerais. O PIB é divulgado pela ótica da produção, sendo disponibilizados os valores a preços correntes; o valor adicionado pelos setores agropecuária, indústria, serviços e serviços de administração pública; e os impostos líquidos de subsídios sobre produto.
A defasagem dos dados é de dois anos e o levantamento é fundamental para o monitoramento da estrutura produtiva da região, fornecendo informações relevantes para auxiliar na tomada de decisões políticas. “É uma defasagem normal, porque há um processo demorado para a consolidação dos dados, obtenção e revisão. Para que eles sejam divulgados, todas as bases precisam estar consolidadas para a construção do PIB, pois após o fechamento e envio para o Tribunal de Contas da União (TCU), não é permitido ter uma atualização dessas informações”, explica Adrielli.
O objetivo desse estudo focado para a Ride, segundo ela, é viabilizar uma análise mais detalhada sobre a economia local e acompanhar o crescimento e a participação dos setores econômicos na geração de riquezas na região. “Os resultados são bastante animadores”, pontua.
Apesar do bom prognóstico, há que se levar em conta o fator inflacionário, que corroeu o poder de compra da população por causa do reajuste de preços. E ainda a demanda represada por conta da pandemia. “Em 2020, a inflação acumulada chegou a 23% e em 2021 ficou em torno de 17,78%, o que contribuiu para que se observasse uma desaceleração nos dados entre 2020 e 2021”, esclarece a diretora da DIEPS, Dea Fioravante.
Dinâmica econômica
Segundo a pesquisadora da DIEPS, Eurípedes Regina Rodrigues de Oliveira, uma das responsáveis pela elaboração do documento, o Distrito Federal tem um importante papel na dinâmica econômica dos municípios localizados em seu entorno, impactando na geração de riqueza, no desenvolvimento das atividades econômicas e na dinâmica do mercado de trabalho, tanto da capital federal, quanto nas regiões vizinhas. “Logo, a economia do DF não pode ser analisada de forma isolada”, assegura.
Para a também pesquisadora da DIEPS, Sandra Regina Andrade Silva, a análise e monitoramento dos dados é um exercício crucial para promover tomadas de decisão mais eficazes e efetivas. “Cumprimos o papel de fornecer informações para a sociedade e subsídios para auxiliar na gestão pública”, afirma.
Luziânia em posição de destaque
O estudo do IPEDF traz dados reveladores sobre a pujança econômica na região. O maior PIB vem da capital federal, correspondente a R$ 286,94 bilhões ou 87,3%, seguido do município de Luziânia (GO), estimado em R$ 5,44 bilhões, e de Cristalina (GO), de R$ 4,60 bilhões. Outros municípios do Entorno Sul também estão em boa posição nesse ranking: Formosa está em quinto lugar, com PIB equivalente a R$ 3,25 bilhões, seguido de Valparaíso de Goiás (R$ 2,96 bilhões) e Águas Lindas de Goiás (R$ 2,46 bilhões).
O prefeito do município, Diego Sorgatto (UB), comemora os dados do levantamento. “Na região estamos atrás apenas de Brasília, e no estado, alcançamos a sétima posição entre os maiores PIBs goianos”, ressalta.
Para ele, os números apresentados mostram a pujança da economia do município, que conta principalmente com o setor do agronegócio na produção de riquezas. “Também destaco os grandes empreendimentos na área do turismo, que movimentam a economia não só de Luziânia, como de toda a região do Entorno”, argumenta.
Crescimento econômico em Cabeceiras
Analisando o crescimento econômico, o município de Cabeceiras (GO) apresentou a maior variação nominal entre os municípios da Ride, de 53,1%, e variação real de 30%, corrigindo os valores pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M).
“Sempre acreditamos na força do agronegócio em nosso município, estreitamos os laços com o setor produtivo por meio de muito diálogo e abrimos as portas da administração pública”, detalha o prefeito de Cabeceiras, Everton Francisco de Matos, o Tuta (PDT). Ele credita o bom índice, em parte, pela implantação de sementeiras, como a Boa Safra Sementes, a maior unidade de beneficiamento de sementes da América Latina.
Para usufruir de todo o potencial agro do nordeste goiano, com muita água e solo fértil, o prefeito aponta o desafio na atração de mais investidores do agronegócio para se instalarem na região. “Há muitas áreas férteis e agricultáveis para serem exploradas, tanto para lavoura ou fruticultura. Precisamos unir forças com os governos de Goiás e do Distrito Federal, criando incentivos fiscais para futuras instalações e gerando emprego e renda. Somente assim iremos mudar a realidade socioeconômica de todos”, avalia.
Desafios na geração de renda
Já no que se refere à distribuição da produção entre a população, o município de Barro Alto (GO) possui o maior PIB per capita da Ride, de R$ 135,15 mil, acima do registrado na capital federal (R$ 92,73 mil). O menor valor foi do município de Novo Gama (GO), estimado em R$ 9,65 mil, quase dez vezes menor que o PIB per capita do DF.
O maior obstáculo, na visão do prefeito de Novo Gama, Carlinhos do Mangão (PL), é a pouca geração de empregos na cidade. “Como solução, estamos trabalhando para a criação do polo industrial do município, que irá gerar mais postos de emprego”, afirma. Outras ações apontadas que ajudam na formação dos trabalhadores são os cursos gratuitos de qualificação.
Cavalcante (GO), por sua vez, registrou a maior variação negativa, de 14,5%, em termos nominais, e de 27,4% em termos reais, entre 2020 e 2021. Para o prefeito do município, Vilmar Souza Costa, o Vilmar Kalunga (PSB), a queda no crescimento econômico de Cavalcante está relacionada ao desempenho na agricultura e ausência de indústrias. “Somos um município com grande potencial turístico, porém a renda do turismo ainda não é suficiente para impulsionar o crescimento do PIB local. A agricultura e pecuária em nossa cidade têm característica familiar, ou seja, de baixo retorno financeiro”, justifica.
As dificuldades enfrentadas para a geração de renda, segundo ele, referem-se principalmente à ausência de recursos para investimentos em infraestrutura. “Temos apenas 11 km de estradas pavimentadas e somos a sétima maior extensão territorial do estado de Goiás. A falta de eficiência energética impossibilita a instalação e funcionamento de indústrias, mesmo as de baixo impacto ambiental, considerando nossas características de preservação que precisam ser mantidas”, argumenta.
A expectativa é receber, segundo ele, dos governos federal e estadual, recursos para investir em infraestrutura – estradas, pontes, aterro sanitário, pavimentação asfáltica –, a fim de que o turismo de base comunitária tenha maior expressão e proporcione renda para a população local.
Resposta rápida aos investimentos
A secretária do Entorno, Caroline Fleury, cita três pilares fundamentais nos avanços do PIB da região: “A própria pesquisa mostrou o agro como um setor muito forte. Temos também como destaques a indústria e o setor de serviços”.
Ela lembra, ainda, de dados recentes divulgados pela Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg), mostrando que cinco dos municípios do Entorno estão entre os que mais abriram empresas no estado. “Isso tem muito a ver com a capacitação e com as iniciativas que estão sendo realizadas no sentido de agregar valor para os profissionais, além dos incentivos, para que saiam da informalidade”, analisa.
Na visão da secretária, os municípios têm respondido com muita força e rapidez aos investimentos nas ações, tanto para o empresariado, como para a qualificação de mão de obra. “Esse ecossistema é muito favorável, e a política do estado de Goiás para facilitar os negócios e promover a desburocratização do setor, contribui muito para esses avanços”, conclui.