Imagine um cenário que inclui: caos no trânsito, frota de ônibus antiga, sucateada e desconfortável, passagens caras e ter que sair de casa muitas horas antes para poder chegar ao trabalho. Esta é a realidade caótica e diária de aproximadamente 150 mil pessoas, que utilizam e dependem das linhas de ônibus e que residem em municípios goianos da região do Entorno do DF. 

A população segue “pagando o pato” e pagando caro pelas passagens de ônibus. Para que se tenha ideia, de Novo Gama para o Plano Piloto, o valor subiu de R$ 7,85 para R$ 9; de Planaltina, saltou de R$ 8,85 para R$ 10,15; em Águas Lindas, o aumento foi de R$ 8,65 para R$ 10; e em Santo Antônio do Descoberto foi de R$ 8,15 para R$ 9,35. Os novos valores passaram a vigorar em julho deste ano.

Na opinião da assistente comercial, Caroline Oliveira Santos, que pega o ônibus diariamente para trabalhar, saindo do Jardim do Ingá, em Luziânia, rumo a Brasília, o valor, além de alto, não condiz com a qualidade. “Começa pela quantidade de pessoas no ônibus, sempre extremamente lotado. Ou seja, além de você ir em pé, o motorista é obrigado a parar em todas as paradas, independentemente de estar cheio. Os ônibus geralmente são velhos e com péssima mecânica, pois quebram no meio do caminho. É desgastante demais! Pelo valor que é pago, o ideal seria termos ônibus novos, com ótima qualidade, assentos confortáveis, ar-condicionado e, o principal: mais linhas circulando no horário de pico para não estar sempre tão lotado!”, reclama a usuária do transporte público.

De acordo com a Secretária de Estado do Entorno, Caroline Fleury, o impacto desses aumentos para a população é extremamente prejudicial, porque o empregador que paga a passagem começa a não querer contratar os moradores do Entorno, devido ao custo absurdo. Ela frisa: “Nós estamos falando também do estudante que vem procurar emprego. Então, o transporte é realmente uma política social e tem encargos muito grandes na vida das pessoas. Para o empresário também é ruim o custo alto das passagens, porque ele depende da mão de obra do Entorno. Portanto, como um todo – falando da questão social, da geração de emprego e da busca de oportunidades –, afeta todas as áreas!”.

De quem é a responsabilidade?  

O transporte na região do Entorno é responsabilidade federal, especificamente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), desde que o GDF abriu mão da administração deste “imbróglio”. A agência do governo autorizou, no mês de agosto deste ano, o reajuste de 15% nas passagens. Na época, deputados de Goiás e do DF se uniram em uma visita ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, em defesa de que a União participe de um consórcio com os estados para administrar o sistema na região, cuja proposta de criação foi anunciada pelo Governo de Goiás no mês de agosto, com o intuito de beneficiar mais de 175 mil usuários do transporte rodoviário. Vale destacar que a criação do Consórcio Interfederativo da Região do Entorno do Distrito Federal (DF) foi o projeto mais votado na categoria “Integração e Desenvolvimento Regional” do Brasil Participativo, para inclusão no Plano Plurianual (PPA).

Estudos estão em andamento

Segundo a titular da pasta da Secretaria de Estado do Entorno, a regulamentação ficou a cargo da ANTT, que até então não apresentou dados. “A ANTT não nos disse qual é o valor real e não apresentou nenhuma proposta interessante em termos de linha de integração. O Ministério dos Transportes cobrou isso da agência e eles alegaram que não tinham pessoal e nem recurso para esse tipo de estudo. É fundamental um levantamento completo sobre as linhas de transportes e integração, para onde vão e qual o custo disso, para a gente saber qual vai ser o subsídio, a tarifa real e a tarifa técnica, e quanto custa realmente essa passagem para a cobertura de todos os insumos e os transportadores. Até porque a gente sabe que as empresas de ônibus tem que ter lucro e tem que ter condições de trabalho. Mas quanto realmente a população vai pagar?”, questiona Caroline Fleury.

Caroline Fleury: “A gente precisa desse apoio da União para que a solução saia definitivamente do papel” (Foto: Alego)

A secretária frisou, ainda, a importância do grupo de trabalho que envolve o Estado de Goiás, o GDF e a Infra – que representa a União –, para que façam todos esses estudos. “A gente precisa aproveitar neste momento a janela do orçamento, que é votada até o final do ano para que a União insira este projeto”, salienta.

Segundo a gestora, estão sendo realizadas análises para definir o valor no orçamento da União, de modo que seja aprovado, ainda este ano, um valor ideal. Para Fleury, a questão é realmente muito grave, séria e urgente. “Nós seguimos buscando soluções, para que se resolva o mais rápido possível. Na última sexta-feira, estivemos presentes na reunião do Consórcio Brasil Central, com a participação do Governo de Goiás, do GDF e outros cinco estados. Muito se falou dessa questão do Entorno e da necessidade da parceria do GDF com o Estado de Goiás. Agora, a gente precisa desse apoio da União, para que a solução saia definitivamente do papel”, finaliza.