Voz ativa no combate à violência contra a mulher, Érica Paes tem uma atuação que vai muito além dos ringues. Com uma carreira vitoriosa no jiu-jitsu e no MMA, ela fundou o programa Empoderadas, que já impactou milhares de mulheres ao ensinar técnicas de leitura corporal para identificação e desvencilhamento de situações de violência, além de oferecer suporte psicológico, social e jurídico.

Atualmente, Érica é superintendente de Empoderamento e Equidade de Gênero do Rio de Janeiro e fundadora do Instituto de Defesa da Mulher Érica Paes, consolidando seu compromisso na construção de políticas que garantam mais segurança e autonomia para o público feminino.

O programa Empoderadas está agora em processo de expansão e poderá, em breve, chegar ao Entorno do Distrito Federal. Recentemente, Érica esteve em Brasília para apresentar o projeto à secretária do Entorno, Caroline Fleury, e discutiu a possibilidade de implementação na região. A proposta ainda está em estudo e os municípios a serem contemplados deverão ser definidos futuramente.

Na entrevista a seguir, concedida ao Jornal Opção Entorno, a atleta fala mais sobre sua trajetória, os pilares do projeto que idealizou, assim como detalhes de sua visita ao DF e planos de adoção da iniciativa nos municípios goianos.

Existem mais de 60 polos do programa distribuídos pelo Estado do Rio de Janeiro: a ideia agora é expandir para Goiás (Foto: Divulgação)

Hellen Lopes – Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória no jiu-jitsu e o que a levou a idealizar o programa “Empoderadas”?

Érica Paes – Minha trajetória sempre esteve ligada à luta, mas não apenas no esporte. No jiu-jitsu, conquistei o título de campeã mundial e no MMA fui pioneira, tornando-me campeã e uma das primeiras mulheres a competir profissionalmente. No entanto, minha missão se consolidou para além dos ringues. Fui vítima de duas tentativas de estupro, a primeira delas aos 15 anos. Essas experiências me fizeram compreender que a segurança vai muito além da força física: trata-se de conhecimento, estratégia e prevenção. Como consegui me proteger, senti que precisava compartilhar essa ferramenta com outras mulheres.

Hoje, sou fundadora do Programa Empoderadas e do Instituto de Defesa da Mulher Érica Paes, e especialista em segurança feminina, atuando na construção de políticas de prevenção, formação e apoio às vítimas. O jiu-jitsu e o MMA fazem parte da minha história, mas minha atuação agora está voltada para ampliar o debate sobre segurança e proteção das mulheres.

Hellen Lopes – Como funciona o “Empoderadas” na prática e quais são os principais pilares do programa?

Érica Paes – O Empoderadas pertence ao Instituto de Defesa da Mulher Érica Paes (IDMEP), que atua há seis anos no Rio de Janeiro, junto ao governo estadual, no enfrentamento à violência contra a mulher, com foco na prevenção. Nossa principal ferramenta é o tatame – é nele que quase tudo acontece.

O Empoderadas conta com mais de 60 polos distribuídos pelo Estado do Rio de Janeiro, onde são oferecidas aulas práticas ministradas por professoras especialistas em artes marciais. Nessas aulas, as participantes aprendem técnicas de leitura corporal e desvencilhamento de violência, ampliando sua percepção de risco e fortalecendo a autoconfiança. Além das atividades no tatame, o Empoderadas oferece um suporte com equipe multidisciplinar formada por advogadas, psicólogas e assistentes sociais, garantindo acolhimento e orientação jurídica e emocional para as mulheres assistidas pelo programa. Com essa abordagem integrada, já impactamos mais de 3 milhões de mulheres.

Mulheres beneficiadas pelo projeto (Foto: Divulgação)

Hellen Lopes – O programa Empoderadas vai além das abordagens convencionais, ao focar em técnicas de leitura corporal para desvencilhamento. Ele também inclui questões como o fortalecimento da autoestima?

Érica Paes – O Empoderadas entende que o autocuidado e a autoestima são fundamentais para o fortalecimento das mulheres. Por isso, além do acolhimento psicológico,            social e jurídico, as iniciativas incluem cursos profissionalizantes, como os de cuidador de idosos, maquiagem e panificação, que não apenas capacitam, mas também buscam promover autonomia financeira, impactando diretamente a autoestima das participantes.

Além disso, o Empoderadas realiza as ações “Rodas de Conversa” e “Círculos de Empoderamento”, criando espaços de acolhimento onde as mulheres podem compartilhar experiências, ressignificar desafios e reforçar sua autoconfiança, ao se reconhecerem como protagonistas de suas histórias. Outro ponto essencial são as ações voltadas à imagem e apresentação pessoal, como serviços de beleza, por exemplo, maquiagem, sobrancelhas, corte de cabelo e tranças, que vão além da estética. Essas atividades reforçam que cuidar da própria aparência não é futilidade, mas sim, um ato de bem-estar e fortalecimento emocional, que eleva a confiança e reafirma o direito de cada mulher de se sentir bem consigo mesma, independentemente de sua realidade.

Hellen Lopes – Como surgiu o diálogo com a secretária do Entorno, Caroline Fleury, sobre a implementação do programa no Entorno do DF?

Érica Paes – A expansão do Empoderadas para o Distrito Federal começou a partir de um diálogo com a senadora Leila Barros (PDT), em parceria com o Ministério das Mulheres. Durante esse processo, a secretária do Entorno, Caroline Fleury, manifestou interesse em conhecer o Empoderadas e discutir sua possível implementação nos municípios da região e, futuramente, em todo o Estado de Goiás.

Leia também:

DEAMs apresentam plano de ação para enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher