Surgida durante a pandemia do coronavírus em 2020, a Secretaria da Retomada em Goiás tinha, já em sua origem, uma característica multifacetada. Assim, assumiu atribuições que eram de outras secretarias, abarcando assuntos como geração de emprego, renda e qualificação profissional. Desde aquela época, quem comanda a pasta é o economista César Augusto Sotkeviciene Moura, ex-subsecretário de Fomento e Competitividade.

Natural de Goiânia, ele é graduado em Ciências Econômicas pela Uniana (atual UEG). Além de ocupar o cargo de secretário, atualmente exerce a presidência do Conselho de Desenvolvimento do Estado de Goiás do Fundo Constitucional do Centro-Oeste (CDE/FCO) e do Conselho Deliberativo do Fundo de Equalização para o Empreendedor (Fundeq). César também faz parte do Conselho Deliberativo Estadual do Sebrae Goiás.

Nesta entrevista ao Jornal Opção Entorno, o secretário fala sobre as ações que a pasta desenvolve no Entorno para a geração de emprego e renda. Além disso, aponta a economia criativa como um dos motores para o crescimento do PIB.

O secretário com o governador Ronaldo Caiado durante um Feirão de Empregos do Cotec (Foto: Divulgação)

Paulo Henrique Magdalena – O setor de serviços, hoje, é responsável pela maior parte do PIB do estado. Qual é o peso do Entorno na garantia de riqueza e geração de empregos para Goiás?

César Moura – Nosso trabalho é voltado principalmente à grande Goiânia e à região do Entorno, onde realizamos mais feirões de empregos. Nós temos dois Colégios Tecnológicos de Goiás (Cotecs) para poder dar estrutura e atendimento nos cursos: uma unidade em Cristalina e outra em Formosa, para atender todo o Entorno. Fora as unidades descentralizadas. Então, nós temos cursos todos os dias, ações de empregos quase que diárias no Entorno. O governador Ronaldo Caiado (UB) tem focado no desenvolvimento da região. E a geração de empregos passa por isso. Sabemos do potencial de Brasília, mas queremos fortalecer a economia das cidades do Entorno. Por isso, nós temos várias ações em que as pessoas precisam estar nas cidades da região. Quem recebe o benefício, por exemplo, do programa Mães de Goiás, a quantia só pode ser gasta no município, e não em outras localidades. Então, por meio desse trabalho de qualificação profissional, de geração de empregos, de estimular o cooperativismo institucional e o empreendedorismo, conseguimos esse fortalecimento econômico. Eu acho que os números estão vindo aí, para mostrar que a política proposta está certa e os resultados estão aparecendo.

Paulo Henrique Magdalena – Quais políticas públicas a Secretaria tem implementado para garantir a geração de empregos nos municípios do Entorno?

César Moura – Estamos trabalhando na qualificação profissional. Nós temos o aplicativo Minha Vaga: assim que verificamos as vagas que são necessárias, nós oferecemos o curso de qualificação para ocupar esses postos de trabalho. Os feirões de emprego são realizados em várias regiões, às vezes em lugares mais vulneráveis dos municípios do Entorno, para que as pessoas tenham condições de ir, organizar a documentação, inscrever-se em um curso de qualificação profissional e fazer a entrevista. Essas ações têm aumentado cada vez mais, porque têm se tornado efetivas. O que mudou, desde o primeiro feirão que fizemos no Entorno até agora, é que cada vez mais outros empregos estão sendo previstos. A gente tem uma estimativa de mais de 6 mil vagas abertas na região e precisamos ocupá-las. Outra iniciativa de geração de emprego e renda é o microempreendedorismo. Nós fornecemos, a quem está no CadÚnico, um curso de empreendedorismo, que pode ser, por exemplo, de confecção, beleza ou massoterapia, à sua escolha. Depois, essas pessoas recebem até R$ 5 mil de crédito social, valor que só pode ser gasto no município. Portanto, se você fez um curso de corte e costura, você precisará comprar a máquina, o tecido e a linha no seu município. Assim, nós estimulamos o empreendedorismo e fortalecemos a economia dessa região.

César Moura e a primeira-dama Gracinha Caiado no evento Goiás Social Mulher (Foto: Divulgação)

Paulo Henrique Magdalena – Os municípios do Entorno sempre foram conhecidos por serem cidades-dormitório, ou seja, as pessoas moram nessas localidades, mas trabalham em Brasília. É possível mudar essa realidade?

César Moura – É possível. A gente adquiriu duas máquinas que fazem corte a laser, para estimular o mercado de confecção, as quais estão instaladas em Águas Lindas e Novo Gama. Então, qual é o nosso objetivo com essa situação? Queremos que as pessoas mais vulneráveis ou que queiram montar uma confecção permaneçam no município, trabalhem e gerem renda lá. Nossa expectativa é que isso crie um mercado atacadista bastante amplo nesse setor. A região do Entorno vai se fortalecer muito, nos próximos anos. Estamos trabalhando para incentivar as pessoas a formarem cooperativas nos municípios. Acreditamos que, com o aumento da produção de confecções na região do Entorno, naturalmente surgirá um polo atacadista, como a região da 44, em Goiânia. A gente vai poder dizer que a nova 44 de Goiás vai ser no Entorno.

Paulo Henrique Magdalena – Como a Secretaria tem trabalhado junto aos municípios da Ride, para garantir a capacitação do jovem que está chegando ao mercado de trabalho?

César Moura – Atuamos junto aos municípios, onde oferecemos uma cartilha de apoio a essa empregabilidade, atingindo desde o jovem até o pessoal que está saindo do mercado de trabalho e precisa buscar esse tipo de suporte. Em relação aos jovens, nós temos a Escola do Futuro. A Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) busca, por meio dos cursos de tecnologia, atrair essas pessoas. São profissões que pagam muito bem. Então, aqueles que quiserem entrar nesse mercado da Inteligência Artificial, programação e games, a Escola do Futuro tem um espaço imenso no Entorno. Geralmente, jovens interagem melhor com essa ação. Temos uma plataforma forte para buscá-los para esse mercado. Outro trabalho é o de economia criativa, que estamos realizando na região de Pirenópolis e vai se estender por todo Entorno. A gente tem uma necessidade muito grande de técnicos de som e programadores de áudio e vídeo. Vemos grandes eventos acontecendo em todo o nosso estado e não há profissionais técnicos o suficiente para atender a demanda. E, nessa linha, a gente acha que vai conseguir conversar melhor, também, com os jovens.

Paulo Henrique Magdalena – Como está o cenário da economia criativa nos municípios do Entorno e quais políticas públicas estão sendo adotadas para favorecer esse setor nessas regiões, considerando que a economia criativa ainda representa uma pequena parcela do PIB brasileiro?

César Moura – Vamos realizar um grande evento em Novo Gama, na área de artesanato, onde iremos movimentar toda a economia criativa. O que a gente quer é que a pessoa possa olhar a feira de artesanato e descubra, na economia criativa, uma profissão em que ela possa atuar. Outro grande evento desse tipo será em Olhos d’Água. São valores que ajudam o crescimento econômico, a movimentação do PIB, e ao darmos esse estímulo, obtemos mais recursos para o estado. Ao trabalharmos corretamente a economia criativa, conseguimos desenvolver o turismo na região.

Reunião ordinária do Conselho de Desenvolvimento do Estado (CDE/FCO) | Foto: Divulgação

Paulo Henrique Magdalena – Dentro das atribuições da pasta, está a formulação da política de turismo do estado. Como a Secretaria tem trabalhado junto aos municípios do Entorno para fomentar esse setor na região?

César Moura – Nós lançamos o Impulso Goiás, disponibilizando R$ 400 milhões do FCO para estimular o turismo nessa região. Estamos falando de bares, restaurantes e atividades turísticas. Em Formosa, lançamos o curso de guia 100% gratuito, com todas as viagens inclusas. Temos, hoje, no Estado de Goiás, uma demanda grande e entramos para levar mais recursos, além de qualificar a mão de obra. Outra ação expressiva no Entorno foi trazer aqueles recursos da cultura vindos do Governo Federal e aplicá-los em regiões turísticas, a fim de potencializá-las. Então, da mesma forma que criamos uma política pública de cultura, a gente consegue movimentar o turismo da região e gerar mais emprego e renda. Essa é a temática natural de um governo, em que uma política pública acerta vários alvos.

Paulo Henrique Magdalena – Como tem sido realizado o diagnóstico da demanda profissional nos setores produtivos do Entorno e o mapeamento de áreas vulneráveis nas cidades da região com foco no desenvolvimento econômico?

César Moura – Temos o projeto Recicla Goiás. Chegamos, com a Secretaria da Retomada, nos municípios que precisam dar um fim aos lixões e tiramos as famílias desses locais. Oferecemos a elas qualificação e entregamos uma cooperativa de reciclagem montada, com equipamentos, materiais de EPI e toda a documentação pronta. Assim, essa família que viveu com muita dificuldade, pode agora aproveitar esse momento, em que o lixo está valendo muito dinheiro, e ter esse benefício. Estamos atuando em uma área extremamente vulnerável e resgatando famílias a partir dessa política pública, o Crédito Social, que é da primeira-dama Gracinha Caiado, e o Recicla Goiás. Hoje, o estado é o mais bem avaliado pelas políticas públicas de geração de emprego e renda.