Mesmo sendo um município novo, emancipado em 1991, Cidade Ocidental ficou conhecida por festividades para lá tradicionais, como a Festa do Marmelo, e projetos para alavancar o turismo, como a Rota dos Tropeiros. Junto a isso, o município também consolidou uma figura emblemática em seu cenário político: o atual prefeito Fábio Correa (PP), que foi presidente da Associação dos Pequenos Produtores de Mesquita, um povoado da região.

E ao contrário de muitos postulantes a cargos no Legislativo ou Executivo, que entram no jogo político ainda bastante jovens, Fábio iniciou sua trajetória nesse meio somente aos 50 anos, ao se tornar vereador, em 2012. Quatro anos depois, elegeu-se prefeito pelo PRTB e conquistou posteriormente a reeleição como vitorioso absoluto, ganhando em todas as 134 urnas da cidade. “Devo concluir meu mandato com mais de 200 obras, sendo mais da metade com recursos próprios”, diz, com orgulho.

Nesta entrevista ao Jornal Opção Entorno, Fábio mostra seu estilo de gestão, pautado em objetividade, estratégia, cumprimento de prazos e, segundo ele, respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. Neste ano de eleições, o prefeito faz mistério quanto aos seus apoios políticos, mas quer deixar ao seu sucessor as contas no azul e mostrar à população, como ele mesmo gosta de dizer, que “Cidade Ocidental é o melhor lugar para se morar bem, ganhar dinheiro e ser feliz”.

Fábio Correa durante a Festa do Marmelo, evento tradicional no município

Luciana Amaral – O senhor contrapõe a imagem do político tradicional, aquele que aparece junto ao povo apenas em época de campanha. É esse perfil de candidato que a população deseja na política?

Fábio Correa – Quando eu me tornei vereador, não imaginavam que eu, como empresário e proprietário rural, comparecesse sempre à Câmara. Mas eu mudei o rito. Eu ia para lá todos os dias, chegava cantando e atendia todo mundo. Mudei aquela velha historinha do cara ganhar a eleição e sumir. Desta forma, acabei atraindo as pessoas e conquistando a confiança da população. Houve, inclusive, uma pesquisa que saiu no Jornal Opção, sobre o novo perfil do político. As pessoas não queriam mais o político tradicional, mas sim um gestor, com conhecimento administrativo e de gestão pública. Acho que meu diferencial foi esse. Aquele negócio de tapinha nas costas, beijinho, carregar menino, fazer onda, rolar no chão, ir a tudo quanto é enterro, chorar, se lamentar, não tem nada a ver comigo. E ninguém quer isso não. A ideia é prestar contas, ser transparente e mostrar conhecimento.

Luciana Amaral – A Federação Goiana dos Municípios (FGM) e o Instituto Mauro Borges deram à Cidade Ocidental o primeiro lugar no Índice de Gestão Eficaz. Quais fatores contribuíram para essa conquista?

Fábio Correa – A primeira coisa é a transparência. E ouvir as pessoas, priorizar o que o cidadão quer. No primeiro ano de gestão começamos a fazer o orçamento participativo, indo para as ruas no mês de junho, quando está sendo finalizada a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Percorremos bairro por bairro, para ver as prioridades. A verdade é que ninguém tem noção do que é LDO ou gestão, mas você precisa pelo menos mostrar para o cidadão que ele tem vez e voz. No outro ano a gente mostra o que foi falado no ano anterior e o que foi executado. O que não foi realizado, a gente dá as justificativas e oferece sugestões para o ano seguinte. E aí, no Tribunal de Contas, você começa também a ser transparente, sem perder prazos, enviando documentação e acompanhando tudo. Com isso, você passa a ser efetivo na prestação de contas. Depois, entra a parte de administração e finanças, para o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). É a hora em que você gasta apenas aquilo que pode, sem exagerar, sem atrasar pagamentos, e a eficiência aparece. Numa empresa mal administrada, você vê rapidinho porque está quebrando. E em um ambiente bem administrado, você também vê rapidinho porque está prosperando. É simples.

Foto: Divulgação

Luciana Amaral – Quais prioridades a população tem enumerado nessa ouvidoria e como a prefeitura tem atuado para melhorar a cidade em áreas como infraestrutura, educação e saúde?

Fábio Correa – Moramos numa região carente em infraestrutura e saneamento, então a prioridade é essa. Mas também não tínhamos nada de saúde e nem educação, aí começamos a mudar esse cenário. No nosso primeiro ano, tínhamos um pouco mais de 9 mil alunos e deveremos fechar 2024 com mais de 15 mil. Portanto, são quase mil alunos a mais por ano. Fomos o primeiro município a habilitar o programa Saúde na Hora. Os postos de saúde funcionam até às 22h durante a seman e até às 13h no sábado, com médicos e dentistas disponíveis para atendimento à noite. Fizemos um novo acesso na cidade, com a estrada Park Norte, no sentido Monumento Solárius (Chifrudo), deixando o município mais próximo a Brasília. A gente já sai lá em Santa Maria. Por outro lado, ainda sofremos, há mais de uma década, com problemas no abastecimento de água e sem solução da Saneago. Quanto à infraestrutura, galeria de águas pluviais e asfalto, nós avançamos bastante. Ainda existe muito bairro no “chãozão” e não vai dar para resolver neste mandato, tem que ser no outro. Estrela D’Alva, Mossoró e Remanso estão com algumas dificuldades, mas não dá para mexer com asfalto neste ano. Contudo, já existem projetos nossos de infraestrutura habilitados no Ministério das Cidades para esses bairros. Já no Jardim ABC, um de nossos maiores bairros, fizemos todo o projeto de galeria de águas pluviais. Executamos uma parte e estamos licitando mais R$ 4 milhões. Está tudo bem encaminhado. É importante destacar que os municípios precisam assumir certas obrigações e uma das principais é ter todas as documentações e certidões em ordem e obedecer à LRF. Aqui no Entorno era tudo muito bagunçado. Valparaíso já se organizou; em Novo Gama, o Carlinhos já está tentando se organizar; e parece que o Diego, em Luziânia, também. Assim mesmo, os municípios sofrem. Santo Antônio do Descoberto está em situação dificílima. Planaltina de Goiás é outro município com muita dificuldade. Aqui estávamos em situação extremamente complexa, mas conseguimos equacioná-la. Nosso fundo de previdência é o único superavitário, enquanto os outros estão com problemas.

Foto: Divulgação

Luciana Amaral – Quais deputados estaduais e federais têm contribuído mais com emendas para Cidade Ocidental?

Fábio Correa – Este ano tivemos os deputados federais Adriano do Baldy, que é do mesmo partido que o meu, o PP; a Lêda Borges (PSDB) e o Glaustin da Fokus (Pode). O senador Vanderlan Cardoso (PSD) e o deputado estadual Wilde Cambão (PSD) também mandaram algumas emendas. Mas analise comigo o seguinte: nos anos anteriores, mais de 20 deputados estaduais e federais e alguns senadores enviaram recursos para a cidade. Só para você ter uma ideia, nos nossos primeiros quatro anos, nós recebemos mais recursos e transferências federais que todos os outros seis gestores somados. Tenho isso relatado nas minhas prestações de contas. Sabe por que isso ocorre? Quando você é deputado, envia dinheiro ou abre um convênio, se o prefeito não tiver certidão, é preciso fazer o recurso chegar em outro lugar que esteja habilitado. Muitos municípios deixam de angariar verbas por conta disso.

Luciana Amaral – Esta semana o Jornal Opção Entorno publicou uma matéria mostrando redução dos índices de criminalidade na região do Entorno. O que Cidade Ocidental tem feito em prol da segurança pública que ajuda a fortalecer essa estatística?

Fábio Correa – É simples. O nosso comandante regional disse que, se não fossem os prefeitos, seria inviável para a polícia funcionar. Tem a ver com o quanto nós pagamos de banco de horas para a Polícia Militar, a Polícia Civil e a unidade prisional. Se não fizéssemos isso e não organizássemos os batalhões, atendendo-os administrativamente, não funcionaria. Sabe quantos policiais hoje seriam necessários dentro de um batalhão para trabalhar administrativamente? Quantos você acha que têm numa cidade como São Paulo? Nenhum. Mande os funcionários fazerem esses serviços administrativos e, com isso, você coloca mais policiais nas ruas. Em resumo, o segredo está em banco de horas e parceria dos prefeitos com o governador, colocando os policiais nas ruas.

Folia de Nossa Senhora da Abadia (Foto: Divulgação)

Luciana Amaral – Alguns nomes no município têm se destacado na cultura e no esporte. É o caso da atleta de handebol Lorena Loyane e a artista plástica Edinar Gomes. Como a prefeitura tem dado suporte a esses talentos?

Fábio Correa – Aqui só tem gente boa, mesmo. Nós criamos a Casa do Artesão. Sabe quantos profissionais hoje passam lá para fazer curso de artesanato? Marque com o secretário de Indústria e Comércio, que você vai ver o que estamos fazendo. Se eu falar superficialmente, você vai ter números frios. É importante pegar a essência: quantas feiras populares tínhamos e temos agora, quantas pessoas viraram microempreendedores vendendo nessas feiras, quantas costureiras passaram por treinamento. Inclusive, fizemos convênio com a 44, com a Secretaria de Indústria e Comércio do estado. Sobre os atletas, temos o Bolsa-Atleta e enviamos gente para todo lado, bancando com alimentação e transporte. E por que começaram a surgir bons atletas no município? Todas as quadras poliesportivas da minha cidade e escolas são de piso epóxi, temos um ginásio reformado e atualizado, com banheiros, vestiários e tudo organizado para grandes eventos. E tivemos agora o torneio de futsal de Cidade Ocidental, com até 2 mil torcedores dentro do ginásio.

Luciana Amaral – Este ano teremos eleições e, como o senhor não poderá se candidatar novamente a prefeito, quais nomes pretende apoiar?

Fábio Correa – Já temos o candidato a prefeito, vice-prefeito e uns 80 candidatos a vereador. Está tudo pronto, com cinco partidos montados, arrumados e organizados, mas os nomes eu não vou falar agora. Então vamos ficar desse jeito, que é melhor. Escreva assim: “O prefeito tem os nomes do prefeito e vice-prefeito e só pode alterar alguma coisa ou outra se, dentro do andar da carruagem, ao longo desses próximos 90 dias, acontecer alguma coisa com um ou outro”. Estão todos trabalhando, são do nosso grupo e estão focados. Em política, sabe quais são as primeiras regras do sucesso? Ninguém sabe. Agora, para o insucesso, eu vou te contar: primeiro, é pensar que já ganhou, e segundo, é subestimar os adversários.